Bolsonaro perde a chance de dar o exemplo ao readmitir amigo da família

Um dia depois de ser exonerado por ter viajado em avião da FAB com apenas dois assessores, Vicente Santini conseguiu um novo cargo na Casa Civil

Publicado em 30/01/2020 às 04h02
Atualizado em 30/01/2020 às 13h43
O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta Vicente Santini ao chegar na Índia. Crédito:  Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta Vicente Santini ao chegar na Índia. Crédito: Alan Santos/PR

Ficou parecendo encenação. Na terça-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro demonstrou indignação e foi enérgico ao demitir José Vicente Santini do cargo de secretário-executivo da Casa Civil por ter viajado de Davos, na Suíça, para Nova Délhi, na Índia, em um jato da FAB com apenas dois assessores. Um dia depois, Vicente, que é amigo de infância dos filhos do presidente, foi readmitido no governo como assessor especial da Secretaria Especial de Relacionamento Externo da Casa Civil. Na prática, desceu um degrau em relação ao antigo cargo. Segundo o Jornal Nacional, a redução de salário será de menos de R$ 400.

Bolsonaro agiu como um pai arrependido em um episódio que deveria ser um exemplo para a moralização do uso de aeronaves oficiais, o que mostra que essa novelinha antiga da República ainda deve continuar. Não houve ilegalidade, houve imoralidade, como o próprio presidente ressaltou.

Santini era o número 2 do ministério comandado por Onyx Lorenzoni e, por conta das férias do titular, foi alçado ao status de ministro, o que concedia ao substituto a prerrogativa de solicitar as aeronaves da FAB. Contudo, os demais ministros que viajaram para a Índia, entre eles o arauto da austeridade, Paulo Guedes, adotaram uma postura mais sóbria e se deslocaram ao país em voos comerciais.

A farra dos “voos particulares” e das caronas irregulares tem um histórico que ultrapassa mandatos e se espalha por todos os Poderes. No ano passado, o helicóptero da Presidência foi utilizado para levar a família do presidente ao casamento de Eduardo Bolsonaro, no Rio. Não pegou bem.

O colunista Lauro Jardim, de O Globo, revelou que o ministro Ricardo Salles embarcou sozinho no ano passado para Nairóbi, no Quênia, em aeronave oficial. Desperdício de dinheiro público, ironicamente, com um gasto de carbono desnecessário para um titular do Meio Ambiente.

Tanto no caso de Santini quanto no de Salles, os membros do governo viajavam para compromissos oficiais, não por motivos pessoais. O que não justifica em nada uma despesa tão desnecessária. Um deslocamento como o de Santini, da Europa para a Ásia, não sai por menos de R$ 740 mil. Nem se ele e os dois assessores voassem na primeira classe de um voo regular o custo seria tão absurdo.

É uma situação que traduz bem a síndrome patrimonialista que acomete os círculos mais íntimos do poder: a impossibilidade de levar uma vida comum quando se chega lá. Santini demonstra ser o típico deslumbrado: a amizade com a família Bolsonaro é constantemente retratada em suas redes sociais. Um daqueles “amigos do rei” que se veem no direito de “fretar” um avião, mesmo que a custa dos cofres públicos.

Bolsonaro perdeu a chance de dar o exemplo. Para alguém que tem tanto orgulho da disciplina militar, demonstrou que pode passar a mão na cabeça de quem lhe convém com facilidade.

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