Bolsonaro briga com o mensageiro da má notícia no episódio do Inpe

O desmatamento em si é de fato uma propaganda negativa para o país e é por isso que deve ser combatido

Publicado em 26/07/2019 às 19h24
Desmatamento no Brasil. Crédito: Divulgação
Desmatamento no Brasil. Crédito: Divulgação

O embate entre Bolsonaro e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) pela divulgação de informações sobre desmatamento, supostamente sem o seu prévio conhecimento, envolve muitas questões. E, em todas, o Brasil sofre um desgaste acentuado. É o grande perdedor.

Do ponto de vista administrativo, o presidente se rebaixa e atropela o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, ao reclamar em público do órgão subordinado à pasta. Procede a cobrança de respeito à hierarquia e à disciplina, mas, ao vociferar para o mundo ouvir e não internamente, o próprio Bolsonaro contribui para desagregação funcional no Executivo e transmite sensação de insegurança aos atos governamentais. A repercussão é péssima.

Dados do Inpe apontam que o desmatamento na Amazônia cresceu 88% em relação ao ano passado e foram colocados em dúvida por Bolsonaro. Ele acusou o órgão de mentir e disse suspeitar que o seu diretor estava “a serviço de alguma ONG”. Revelou ter ficado “preocupado com aqueles números, mas também achando que eles poderiam não estar condizentes com a verdade”. O presidente atirou contra a confiabilidade do seu governo, mesmo tendo recuado posteriormente.

Enfatizou que não pode “ser surpreendido, pego de calças curtas por aí”. São declarações que também soam como predisposição à censura. O Inpe, alvo de Bolsonaro, desfruta de altíssimo conceito dentro e fora do Brasil. A sua produção científica é crescente e de impacto acima da média nacional. Além disso, atua com parceiros importantes, como a Nasa.

O assunto sobre o qual nasceu a ira presidencial por si já repercute mal, internacionalmente, sobretudo neste momento em que o governo brasileiro está sendo acusado de promover grave retrocesso ambiental. Bolsonaro acha que a divulgação sobre o desmatamento é propaganda negativa para o país. Mas, em vez de atacar o mensageiro da notícia, deveria combater seriamente essa tragédia, que prejudica a qualidade de vida e a economia.

Não há democracia plena com cerceamento da liberdade de divulgar fatos, por mais que doam ao governo e à sociedade. Além disso, estatísticas produzidas pelo Inpe - ou por outros órgãos de pesquisa como o IBGE, responsável pelo Censo - são a base do autoconhecimento do país, da identificação de falhas estruturais e deficiências que, sem investigação, permaneceriam ocultas. Informações corretas, tecnicamente apuradas, são essenciais à formulação de políticas públicas para direcionar as ações governamentais.

 

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