Publicado em 10 de junho de 2019 às 00:05
A mudança na política de distribuição dos royalties da mineração teve um saldo positivo para o Espírito Santo. Municípios impactados pela atividade, mas que não recebiam nenhuma compensação, passam a embolsar R$ 19 milhões por ano. Mesmo com algumas cidades capixabas tendo perdas com as novas regras, R$ 237 mil ao todo, o superávit é bastante favorável.>
Os novos contemplados pela resolução de 2018 da Agência Nacional de Mineração são 14 municípios que têm operações portuárias e ferroviárias com produtos minerais. Eles passaram a receber em maio a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) para municípios não produtores.>
Até o mês de abril, os royalties da mineração eram distribuídos da seguinte forma: 65% para os municípios produtores, 23% para os Estados e 12% para a União.>
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Com a mudança, a divisão passa a ser 60% para os municípios produtores, 15% para os Estados, 10% para União e 15% para os municípios de todo o Brasil que não são produtores, mas são atravessados por ferrovias, minerodutos ou portos por onde são transportados os minerais retirados do solo.>
O primeiro repasse, de R$ 19 milhões, corresponde aos valores acumulados desde junho de 2018. Mas a partir de agora a distribuição aos municípios afetados indiretamente será mensal, como já acontece com as demais cidades, que recebem a verba desde 1991.>
A cidade que registrou o maior ganho foi Vitória, que recebeu R$ 10,73 milhões. O valor é referente às exportações de minério de ferro e minério de cobre, que partem dos portos localizados em Vitória para efeito do cálculo, foram levadas em consideração as atividades da Codesa e da Vale no município.>
Por nota, a Prefeitura de Vitória disse que o valor será investido, preferencialmente, em projetos e ações que tragam melhorias em áreas como infraestrutura, saúde, educação.>
O segundo município que mais recebeu é Colatina, com R$ 2,77 milhões. Mas há uma peculiaridade. Por um lado, a cidade recebeu por ser rota do minério de ferro no Estado, mas, por outro lado, terá redução na arrecadação pela exploração de areia, granito e outros minerais. No entanto, entre perdas e ganhos, o município vai sair no lucro, tendo em vista que as verbas com a nova divisão do CFEM vão ser superiores ao que vai ser descontado da arrecadação.>
Há ainda municípios como Água Doce do Norte, Ecoporanga e Nova Venécia que vão receber uma compensação pelas perdas de arrecadação. No entanto, a maioria das cidades vai perder arrecadação sem ganhar nada em troca.>
É o caso, por exemplo, de Barra de São Francisco. No ano passado o município recebeu R$ 965.885,72 pelo CFEM se a nova regra estivesse em vigor em 2018, o município receberia R$ 48 mil a menos.>
Hélio Chequetto, secretário de Gabinete e Comunicação da cidade, informou que o município teve uma forte queda nos royalties já em 2018. Não estamos tendo nenhum benefício com essa mudança. Em contato com a Confederação Nacional dos Municípios fomos orientados a formalizar um questionamento.>
Especialistas elogiam divisão de recursos >
Na avaliação dos especialistas, a nova divisão dos royalties da mineração são muito positivos para o Espírito Santo.>
Essa alteração tem que ser elogiada. Criou-se uma regra que beneficia os municípios não produtores sem prejudicar os produtores. Isso porque, se houver grande impacto nas finanças, eles também passarão a receber uma compensação, aponta o advogado Felipe Martins, especializado no setor de mineração.>
Há até cidades que defendem a nova distribuição, mesmo não sendo beneficiada com ela. O município entende como justa esta nova fórmula, informou a prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, que vem apresentando perdas na arrecadação do CFEM desde 2015.>
Mesmo deixando de arrecadar cerca de R$ 200 mil por ano, o governo Estadual também é favorável à mudança. A Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) avalia que a redução não comprometerá a execução do Orçamento 2019, uma vez que representa 0,003% do orçamento anual do Estado. A Sefaz acrescenta que esse valor está abaixo da margem de oscilação normal da receita, informou por meio de nota.>
CRISE>
Mas com os municípios já em crise, alguns prefeitos temem que a perda de arrecadação dos royalties da mineração possa impactar alguma política pública. Ao todo, 65 cidades no Estado vão apresentar perdas, que totalizam R$ 237 mil por ano com a mudança da distribuição da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).>
A receita desse imposto não faz parte das maiores receitas dos municípios, mas, num momento como esse que estamos vivendo, qualquer perda tem impacto direto nas políticas públicas dos municípios, comentou o presidente da Associação dos Municípios do Estado do Espírito Santo (Amunes), Gilson Daniel (Podemos).>
De acordo com o Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCES), a maioria dos municípios capixabas depende de repasses dos governos Federal e Estadual.>
Daniel informou ainda que a Confederação dos municípios tem feito o debate sobre a CFEM.>
APLICAÇÃO>
Já Victor Athayde, advogado e professor de Direito Minerário, explica que a verba da CFEM repassada não poderá ser aplicada para o pagamento de dívidas do município, ou pagamento de pessoal.>
Tem que ser aplicado em prol da comunidade. Pode, por exemplo, ser usado para dar mais estrutura para as secretarias de meio ambiente, por exemplo, pontua.>
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