Publicado em 7 de novembro de 2023 às 16:01
BRASÍLIA - O relator da Reforma Tributária, senador Eduardo Braga (MDB-AM), divulgou nesta terça-feira (7) uma nova versão de seu parecer para contemplar mais de 30 mudanças adicionais sugeridas por parlamentares, na tentativa de ampliar o apoio político à proposta.>
As alterações têm impacto para famílias de baixa renda, para setores econômicos ou para Estados e municípios. A previsão é que o texto seja votado ainda nesta terça (7) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.>
"Conversamos todos os senadores da CCJ, ampliamos os debates com os senadores que compõem o plenário, e buscamos fazer a complementação de voto para que pudéssemos encontrar o texto que representasse a imensa maioria da vontade dos senadores, tanto na CCJ como no plenário", disse Braga.>
Ele classificou as modificações como "ajustes pontuais" e ressaltou que elas foram acordadas com o Executivo. "Isso tudo foi discutido com o ministro da Fazenda [Fernando Haddad], com o governo e com os senadores que compõem a CCJ [Comissão de Constituição e Justiça]", disse.>
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Um dos ajustes feitos pelo relator foi a inclusão de um cashback obrigatório para famílias de baixa renda na aquisição do gás de botijão. O cashback é um mecanismo que prevê a devolução do tributo pago pelo consumidor.>
Braga já havia previsto na primeira versão do parecer o reembolso compulsório dos impostos recolhidos sobre a conta de luz das famílias mais vulneráveis.>
O relator ainda fez ajustes na chamada transição federativa, que vai durar 50 anos e compreende a redistribuição de receitas entre estados e municípios para evitar oscilações abruptas após a migração da cobrança dos tributos da origem (onde bens e serviços são produzidos) para o destino (onde ocorre o consumo).>
Essa transição é invisível ao contribuinte, mas tem bastante peso e relevância para o planejamento fiscal dos governos regionais.>
Na versão inicial do texto, estados e municípios poderiam manter patamar de receitas semelhante ao atual independentemente de esforço para fiscalizar o cumprimento da nova legislação ou do seu desempenho econômico permitindo que alguns pegassem "carona" na eficiência dos demais.>
Por isso, o relator incluiu um fator de ajuste para premiar os entes que forem mais eficientes e conseguirem ampliar sua fatia no bolo total de receitas sob o novo IBS.>
"O mecanismo proposto cria um fator de ajuste, de forma que os entes que aumentarem sua arrecadação ao longo do tempo, comparativamente aos demais, receberão uma parcela maior do montante a ser redistribuído", diz o parecer.>
A mudança tem sido bem recebida por gestores estaduais e municipais. Sem esse mecanismo, a avaliação é que não haveria incentivo para investir em fiscalização e ganhos de eficiência, uma vez que os critérios de distribuição dos ganhos ficariam praticamente congelados por décadas.>
Outra alteração foi a ampliação do escopo da prorrogação dos incentivos a montadoras do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. O mecanismo, apelidado na Câmara de "emenda Lula" por ter sido um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), havia sido derrubado pelos deputados.>
Inicialmente, o benefício foi reincorporado por Braga, mas restrito a veículos elétricos ou híbridos que utilizem etanol. A nova versão do texto inclui também carros flex (movidos a etanol ou gasolina). A mudança foi acolhida a partir de uma emenda do líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES).>
O relator ainda previu isenção dos novos tributos na aquisição de automóveis por pessoas com deficiência, pessoas com transtorno do espectro autista ou taxistas profissionais.>
Braga também fez um aceno aos estados do Centro-Oeste, que haviam ficado insatisfeitos com a divisão dos recursos do FNDR (Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional). O critério do fundo, que receberá R$ 60 bilhões anuais da União para bancar incentivos ao desenvolvimento local (valor mantido pelo relator), vai privilegiar estados com menor renda per capita ou população mais numerosa.>
Governadores do Centro-Oeste se sentiram prejudicados, pois seus estados têm renda per capita mais elevada e, ao mesmo tempo, número de habitantes menor do que outras unidades da federação.>
Numa espécie de compensação, Braga retomou um artigo da Câmara que prorroga até 31 de dezembro de 2043 a autorização para cobrar uma contribuição sobre produtos primários e elaborados, como minérios e commodities agrícolas, produzidos em seus respectivos territórios para financiar obras de infraestrutura e habitação.>
A medida beneficia estados como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará. Inicialmente, o relator havia limitado o prazo de vigência dessas contribuições até 2032, mas ele decidiu retomar o prazo maior da Câmara para agradar aos governadores da região Centro-Oeste.>
O relator também retomou outras mudanças feitas pela Câmara, como a possibilidade de isenção ou alíquota zero para atividades de reabilitação urbana de zonas históricas e de áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística. Esse item havia sido excluído na primeira versão do parecer.>
Outra alteração foi a possibilidade de criação de um regime específico de tributação para atividade esportiva desenvolvida por Sociedade Anônima do Futebol. O objetivo é permitir o recolhimento unificado dos tributos por essas entidades. A decisão acolhe uma emenda do senador Carlos Portinho (PL-RJ), líder da principal sigla de oposição ao governo no Senado.>
As modificações adicionais promovidas por Braga representam uma tentativa do relator de ampliar a aceitação do texto da PEC (proposta de emenda à Constituição) entre os senadores.>
Há duas semanas, ele já havia ampliado as exceções setoriais e elevado de R$ 40 bilhões para R$ 60 bilhões o repasse anual que a União precisará fazer aos estados para que eles consigam financiar a atração de investimentos locais após a reforma.>
Além dos ajustes no texto, o governo também deflagrou uma estratégia de articulação. Após derrotas importantes sofridas na Casa, o presidente entrou em campo na véspera da votação e recebeu lideranças do Senado no Palácio do Planalto na noite de segunda-feira (6).>
Apesar do risco remoto de rejeição a uma proposta tão relevante quanto a Reforma Tributária, o chefe do Executivo recebeu o alerta de aliados sobre a necessidade de fazer um gesto de aproximação aos senadores, que vinham relatando incômodo com a percepção de falta de envolvimento do Planalto nas negociações com a Casa.>
Na semana passada, o convite de Lula a líderes da Câmara para uma conversa a poucos dias da votação da PEC no Senado também repercutiu mal entre os senadores.>
Desde o início da atual gestão, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) elegeu a Reforma Tributária como uma das prioridades da agenda econômica.>
A proposta prevê a fusão de PIS, Cofins e IPI (tributos federais), ICMS (estadual) e ISS (municipal) em um IVA (Imposto sobre Valor Agregado).>
O sistema será dual: uma parcela da alíquota será administrada pelo governo federal por meio da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), e a outra, por estados e municípios pelo IBS (Imposto sobre Bens e Serviços).>
Também será criado um Imposto Seletivo sobre bens e serviços considerados prejudiciais à saúde (como cigarros e bebidas alcoólicas) ou ao ambiente, à exceção dos produzidos na Zona Franca de Manaus.>
De acordo com o texto, a implementação dos novos tributos começará em 2026, com uma alíquota teste de 0,9% para a CBS e de 0,1% para o IBS.>
Em 2027, PIS e Cofins serão completamente extintos e substituídos pela nova alíquota de referência da CBS. As alíquotas do IPI também seriam zeradas para a entrada em vigor do Imposto Seletivo.>
A migração dos impostos estaduais e municipais para o novo IBS será mais gradual, com conclusão apenas em 2033.>
As alíquotas definitivas de cada tributo serão detalhadas depois, em lei complementar, mas estimativas do governo indicam que a cobrança total do novo IVA deve ficar entre 26,9% e 27,5% já contando com o efeito das exceções adicionais incorporadas por Braga em seu parecer.>
ENTENDA A REFORMA TRIBUTÁRIA SOBRE O CONSUMO>
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