Publicado em 3 de setembro de 2020 às 13:32
BRASÍLIA - Após quase um ano de adiamentos sucessivos, o governo Jair Bolsonaro apresentou nesta quinta-feira (3) as linhas gerais da proposta de reforma administrativa, que pretende racionalizar o serviço público e reduzir gastos com pessoal.>
A medida proíbe progressões automáticas de carreira, como as gratificações por tempo de serviço, e abre caminho para o fim da estabilidade em grande parte dos cargos, maior rigidez nas avaliações de desempenho e redução do número de carreiras.>
Sem efeito sobre os atuais servidores e dependente de futuras regulamentações para mudar regras consideradas sensíveis, a medida não deve gerar economia aos cofres públicos no curto prazo.>
Nos planos do governo, também estão a redução das remunerações de entrada no serviço público e a ampliação do número de faixas de salário para evolução ao longo da carreira. Esses pontos devem ser tratados em projetos que serão apresentados em um segundo momento.>
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No início da noite desta quinta, membros do governo devem se dirigir ao Congresso para protocolar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que representa a primeira etapa do pacote.>
O texto formalizado nesta quinta torna mais rigoroso o processo de seleção para entrada em um cargo público. Hoje, a pessoa aprovada passa por três anos de estágio probatório, que usualmente não cria nenhum impedimento para a nomeação efetiva.>
Com a nova regra, a pessoa passará por dois anos com um vínculo mais frágil, considerado de experiência, e mais um ano de estágio probatório. Após as etapas, o governo selecionará os aprovados de acordo com as vagas disponíveis e a classificação aferida após o período de experiência.>
Ao apresentar a proposta, o secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia, Caio Mário Paes de Andrade, reconheceu que a reforma é "politicamente sensível".>
Em defesa do projeto, ele disse que a reestruturação é necessária para modernizar o Estado brasileiro e melhorar o serviço prestado à população.>
Batizada pelo governo de PEC da Nova Administração Pública, a medida define que as contratações no serviço público terão diferentes níveis de estabilidade.>
A regra permanecerá em molde semelhante ao atual, com maior segurança no cargo, para carreiras típicas de estado, como diplomatas, militares e auditores fiscais. A delimitação exata da lista de carreiras, no entanto, será fruto de regulamentação futura.>
Para o restante dos servidores concursados, haverá um contrato de trabalho por tempo indeterminado, com estabilidade mais flexível.>
Será menor a rigidez para o caso de o governo precisar, por exemplo, fazer desligamentos por conta de restrições fiscais. Esses postos terão função mais abrangente, facilitando remanejamento de pessoal para áreas com maior necessidade.>
No terceiro nível, sem estabilidade, trabalhadores poderão ser contratados com prazo determinado. A ideia é usar esses serviços para demandas pontuais e temporárias.>
Críticos da medida afirmam que o fim da estabilidade coloca em risco a atuação dos servidores, que ficariam mais vulneráveis a pressões políticas.>
Segundo técnicos do Ministério da Economia, a norma não vai permitir demissões baseadas em critérios arbitrários ou por preferências político-partidárias.>
A reforma não atinge os servidores em atividade hoje, que seguirão com a prerrogativa da estabilidade e não sofrerão mudança de salário.>
O texto apresentado nesta quinta também amplia o poder dado ao presidente para governar por meio de decretos, que não dependem de aprovação do Congresso. Ele poderá, por exemplo, reorganizar órgãos públicos e transformar cargos, desde que não haja aumento de despesa.>
A proposta ainda proíbe a liberação de férias anuais superiores a 30 dias. Também será vedada a aposentadoria compulsória como forma de punição de servidores.>
A iniciativa define que o servidor não poderá ter jornada de trabalho reduzida sem corte de salário em proporção equivalente.>
Enquanto o governo discute uma medida no Congresso que poderá cortar jornadas e salários de servidores em momento de aperto fiscal, a reforma administrativa garante uma proteção para as carreiras típicas de estado. Elas ficarão livres desses cortes salariais.>
O envio da reforma administrativa ao Congresso foi adiado ao menos seis vezes nos últimos doze meses. O texto, preparado pela equipe econômica, estava pronto no Palácio do Planalto desde o fim do ano passado, mas seguia travado por ordem de Bolsonaro.>
No mês passado, o então secretário Paulo Uebel, responsável pela proposta, pediu demissão alegando insatisfação com a demora no envio do texto. Após pressão do ministro Paulo Guedes (Economia) e cobrança do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro decidiu autorizar a apresentação da proposta.>
Com a reforma, o governo também pretende promover uma drástica redução do número de funções no serviço público. Atualmente, são 117 carreiras que abrigam mais de 2.000 cargos diferentes.>
O pacote será dividido em três fases. Na segunda etapa, o governo pretende apresentar propostas para reestruturar as avaliações de desempenho e extinguir carreiras.>
A terceira fase criará um novo marco regulatório do serviço público e tratará dos salários dos servidores.>
A equipe econômica trabalha para reduzir o número de carreiras para algo entre 20 e 30. A lista de postos extintos também só será conhecida em um segundo momento.>
Outro ponto que será apresentado apenas no futuro é o redesenho das tabelas salariais. O governo quer reduzir os salários de entrada e criar mais faixas para progressão ao longo da carreira. Esses detalhes serão tratados em projeto de lei em outra fase da reforma.?>
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