Publicado em 11 de agosto de 2020 às 10:53
Álcool em gel, máscaras e turnos reduzidos são algumas das mudanças que marcam o retorno dos profissionais aos escritórios durante a pandemia. Mas, apesar das medidas sanitárias e do distanciamento social, nem todos se sentem seguros com essa volta. >
Depois de três meses de home office, a assistente de produção Thais (nome fictício), 27, voltou há três semanas ao escritório da produtora audiovisual onde trabalha.>
Para ela, que agora atua como freelancer na empresa (ela foi demitida há uma semana), o retorno misturou momentos de tranquilidade, por ver na prática as medidas de distanciamento social, com a sensação de insegurança, quando houve a suspeita de um caso de Covid-19.>
"Há duas semanas, uma das pessoas com quem trabalhei estava com suspeita da doença. Fiquei na expectativa, me senti mal, fiquei com medo e aflita. No final, o teste deu negativo e estava tudo OK", conta.>
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Desde que voltou ao trabalho presencial, Thais ficou no máximo seis horas no escritório, em dias alternados. Nas últimas três semanas, não chegou a fazer dez visitas à produtora.>
"Meu trabalho envolve mexer em papelada e não daria para fazer isso em casa. Mexo com verba e documentos que são importantes. Esperamos juntar um bom volume de papel para resolver e vir menos vezes", diz.>
Segundo ela, metade dos colegas continuam em casa, e a empresa passou a pagar o transporte individual dos funcionários, o que a deixa mais calma.>
?Outros profissionais, como o gestor de RH Alex Thomé Luz, 32, estão felizes com o trabalho presencial.>
Ele trabalha na área administrativa da empresa Digisystem e é o único funcionário a frequentar o escritório diariamente ?e um dos primeiros a querer retornar, ainda em maio.>
"Não me adaptei ao home office. Em casa, é difícil respeitar os horários regulares. Não tem ponto, não tem um gestor ali do lado. Se aparece uma demanda após as 18h, é difícil deixar para o outro dia.">
A empresa fornece álcool em gel e produtos de limpeza para as mesas e realiza medição de temperatura na entrada e saída, "mesmo se for só para um cafezinho", diz Alex.>
No início, a empresa financiou transporte individual de alguns funcionários, mas Alex preferiu usar transporte público.>
"Conversei com a gerência e disse que o custo do Uber ficaria elevado, cerca de R$ 150 por dia. Entro mais tarde para que o metrô esteja mais tranquilo. Não vejo problema algum em vir de metrô.">
O transporte público é uma preocupação para alguns profissionais. A designer de interiores Ana (que preferiu não divulgar seu sobrenome), 24, trabalha como projetista em uma loja de móveis de um shopping.>
Ela usa o transporte público para fazer o trajeto da casa, na zona leste, até o trabalho, na zona norte.>
"Já vi gente abaixando a máscara para tossir na mão e depois encostando na barra de apoio do metrô. É muito estressante", diz.>
O trabalho remoto começou em abril, mas durou poucos dias: ela logo entrou no banco de horas e, em seguida, teve o contrato suspenso.>
"Fiquei com medo de ser demitida, mas estava muito mais tranquila em casa do que indo ao trabalho. Eu nem estava lendo notícias porque ficava em pânico", conta.>
No dia 13 de julho, com a reabertura do shopping, ela retornou ao trabalho 100% presencial, seis dias por semana, com folgas às segundas-feiras e a cada dois domingos. A loja em que trabalha disponibilizou álcool em gel, um kit de máscaras de tecido e um face shield para os funcionários.>
A grande preocupação da jovem era com os pais, que passam parte do tempo no interior e parte na casa onde ela mora.>
Com o retorno ao trabalho, eles ficaram no interior do Estado, mas o estresse permaneceu. "Ter um trabalho me deixa tranquila. Mas fiquei em pânico, totalmente ansiosa, não conseguia nem dormir. Tive crise indo para a loja", afirma.>
Ana conta que o movimento no shopping aumentou e que alguns hábitos pré-pandemia permanecem, como servir café e bolo para os clientes.>
"Um dia, um cliente disse para eu não ficar muito perto dele porque estava com suspeita de Covid-19", diz. "E os atendentes não podem perder a postura. Minha gerente até brinca comigo, diz que não sabe se por dentro estou surtando, mas que por fora estou plena.">
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