Publicado em 4 de fevereiro de 2018 às 00:32
Após seis meses à frente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Léo de Castro é um misto de otimismo e inquietação quando o assunto envolve economia e política do Espírito Santo e do Brasil. A GAZETA conversou com o empresário, que considera que falta ambição e sobra paralisia ao país. Para ele, a sociedade precisa se mostrar mais inconformada e não permitir que a política pare o Brasil. Aliás, Castro vê nas eleições uma grande oportunidade de os brasileiros reagirem e contribuírem para o país desengavetar uma agenda que traga desenvolvimento para a nação como um todo.>
Em sua lista de prioridades para a retomada do crescimento e da confiança não ficam de fora reformas estruturantes, como a da Previdência e a tributária. Outro ponto no radar do industrial são as oportunidades que se desenham na economia capixaba, com setores de petróleo e de alimentos, que prometem investimentos para 2018. Mas, para isso acontecer, o presidente da Findes frisa que é preciso trabalhar fortemente pelo aumento da produtividade e da competitividade da indústria.>
Qual a avaliação que o senhor faz da economia em 2017?>
O Espírito Santo teve um ano de recuperação acima do que o Brasil apresentou. Estamos vindo de dois anos catastróficos para a economia. O PIB do país nesse período caiu quase 10% e o Espírito Santo naturalmente foi impactado. Mas o Espírito Santo está reagindo mais do que o Brasil. Em 2017, a indústria capixaba vai fechar com crescimento de produção física em torno de 2,5%. É o começo de uma retomada e a gente acredita que em 2018 ela vai se intensificar. O fato de o Estado estar bem acima do Brasil em indicadores como gestão pública, equilíbrio fiscal, ambiente de negócios e agenda de futuro faz com que a gente vislumbre um 2018 animador.>
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O senhor citou que a produção industrial deve fechar 2017 em torno de 2,5%. Esse número é abaixo do previsto, de 4,5%. O que frustrou esse patamar?>
A indústria tem ainda uma capacidade ociosa muito grande, e naturalmente dependemos da dinâmica do crescimento do país. Acreditávamos que o país iria acelerar seu crescimento no segundo semestre, havia uma expectativa de que reformas importantes acontecessem ainda em 2017, mas isso se frustrou. Então um pouco dessa redução de crescimento é devido ao ritmo do próprio país. Além disso, em 2017 não tivemos a retomada tão esperada da Samarco. Mesmo assim, o crescimento industrial do Espírito Santo é muito representativo. O Estado está entre os três que mais crescem no país.>
A Findes acredita que a Samarco volte a operar em 2018?>
A nova data, conforme previsão da empresa, é retomar as atividades parcialmente a partir de julho deste ano. Acredito que todos os licenciamentos estarão concluídos ainda neste primeiro trimestre. Daí, torna-se uma decisão empresarial. Acredito que julho é um mês factível.>
Para este ano, quais setores prometem se destacar?>
Em 2017, a indústria extrativa no Estado cresceu acima da média, mas o grande destaque foi o setor alimentício, que cresceu dois dígitos. O segmento de alimentos e bebidas está ganhando um dinamismo muito grande no Espírito Santo e vai continuar crescendo. Temos investimentos importantes como a ampliação da Buaiz Alimentos e da Villoni. E a indústria extrativa é a grande aposta do Brasil. A retomada dos leilões de petróleo vai dinamizar a economia nessa área e o Espírito Santo, como segundo maior produtor nacional, naturalmente é impactado. Tem ainda projetos da Vale, Fibria, Marcopolo, Brametal, Imetame. Esses negócios mostram que a intenção de investimentos do empresário apontou para cima, o que é um indicador muito importante.>
Para 2018, a previsão é que o PIB do país cresça 3%. Qual a avaliação do senhor?>
É muito pouca ambição para um país. Acho que a sociedade brasileira precisa aumentar a sua ambição. O Brasil é um dos países dos Brics, e a média de crescimento dos Brics é de 6% ao ano. Então, se você olha o Brasil nos últimos anos e vê que o país perdeu 10% do PIB entre 2014 e 2016, e que em 2017 só vai crescer 1% e, agora, está um pouco feliz porque vai crescer 3%, é uma ambição muito pequena.>
Mesmo essa ambição sendo pequena, como citou, há especialistas que não acreditam no crescimento de 3%. O senhor acha que os 3% são um número real?>
Sim. Você tem um conjunto de fatores que induz ao crescimento. Colhemos algumas vitórias em 2017, como o controle da inflação, a redução dos juros, a estagnação da perda de empregos e a reforma trabalhista. Isso criou uma condição de o Brasil crescer. Nós estamos já crescendo pela via do consumo, porque o poder de compra cresceu. A inflação baixa fez com que o poder de compra da população melhorasse. Agora, precisamos retomar o crescimento pela via do investimento.>
Os investimentos estão voltando a acontecer?>
Investimento é confiança. Por isso, um fator que vai ajudar muito na retomada da confiança e na agenda de desenvolvimento do país é a reforma da Previdência, que esperamos ser votada e aprovada em fevereiro. É importante o capixaba e o brasileiro entenderem que o mundo está crescendo muito e que precisamos ser mais inconformados com a nossa paralisia. Não podemos deixar a política parar o país. A sociedade precisa reagir e enfrentar uma agenda verdadeira, voltada para o desenvolvimento da nação, e não uma agenda que visa perpetuar grupos no poder.>
Em que medida o senhor avalia que as eleições podem impactar a economia?>
Eu sou otimista com isso. Acho que a eleição vai propiciar um debate que faça com que a sociedade entenda qual é o melhor caminho para gerar oportunidades para todos. Não acredito no extremismo da direita nem da esquerda, acho que a gente vai caminhar para um debate em que vai ficar claro que o país precisa de uma agenda de reformas, a reforma da Previdência, a tributária, a política, a microeconômica. O Brasil precisa ter uma agenda que inclua as soluções de infraestrutura, com concessões, privatizações, PPPs. Aliás, uma agenda que discuta inclusive o pacto federativo. Hoje a grande arrecadação fica com a União, que a usa para pagar folha de pessoal e serviços básicos. A capacidade de investimento do governo federal é quase nula. Essa distribuição da receita precisa ser discutida entre governos federal, estadual e municipal.>
Mas esse é um vespeiro...>
Se a gente quer curar uma doença, a gente precisa enfrentá-la. Acho que 2018 vai criar um espaço para um debate verdadeiro, de quem quer ver o Brasil crescer por um ciclo mais longo. Precisamos parar de desejar ciclos curtos de crescimento.>
O senhor tem alguma preocupação para outubro? Qual ou quem?>
O setor produtivo está atento e atuante para que a eleição de 2018 se torne uma oportunidade e não uma ameaça. A gente tem a oportunidade pela frente de firmar um projeto de crescimento estável e de longo prazo.>
A indústria tem candidato para 2018?>
Não. Nós temos uma pauta. Estamos construindo uma pauta, uma agenda, e a nossa posição é de defender essa agenda e de convencer todos os atores políticos a apoiarem essa agenda de desenvolvimento.>
Se vier um candidato que defenda essa agenda que o senhor colocou, a Findes ou as federações vão declarar apoio?>
Historicamente a federação sempre foi apartidária, ela sempre se pautou por definir a sua agenda e deixar com que os empresários individualmente façam as suas escolhas. Essa tem sido a postura das federações e da Findes e acredito que tende a manter esse formato. Agora, a gente está cada vez mais consciente de que a política é o único caminho, é o caminho do bem.>
E quem nunca esteve envolvido na política, tem espaço nessa eleição?>
Acho que isso é uma possibilidade. Essa oxigenação é muitas vezes saudável. Acho que não tem nenhuma atividade que seja fechada só para aquele grupo que foi criado e formado naquela cultura. As experiências de fora contribuem muito, porque trazem um olhar diferente. Precisamos de novas práticas, de uma dinâmica diferente. Precisamos de políticos empreendedores. O indicador principal para um agente público, o indicador de desempenho dele, tem que ser o desenvolvimento e as oportunidades que ele gera para a sociedade.>
Nomes que vêm surgindo no cenário político, como o do Flávio Rocha, dono da Riachuelo, e do apresentador Luciano Huck, são vistos pelo senhor como interessantes pelo fato de trazerem a percepção empreendedora para a política tradicional?>
É uma visão empreendedora da atividade política. É enxergar a política como meio para entregar bem-estar, criar desenvolvimento. Política não pode ser fim dela mesma. Eu não posso desejar uma posição para atender um grupo político que participo. Tenho que desejar uma posição para atender o desenvolvimento do todo.>
Mas ainda há muito preconceito com empresários na política e com a implantação de ideias liberais.>
A gente precisa tirar a ideologia que o empresário existe para tomar alguma coisa de alguém. O empresário está inserido dentro da sociedade. Ele tem que ser enxergado como agente que traz bem-estar para o todo. Empresário gera oportunidades, renda, inovação, corre riscos. Então, pelo contrário, tem que por fim a essa cultura de que o empresário é alguém que se precisa temer. Também é importante que a sociedade pare de esperar que Estado vá resolver todos os problemas. O Estado precisa criar o ambiente. É papel do Estado criar ambiente para que a iniciativa privada floresça e ela sim gere soluções para a sociedade.>
No início da entrevista, o senhor falou que é preciso ter cuidado para o país não ir nem para a extrema esquerda nem para a extrema direita. Qual é a ameaça de candidatos com esse perfil?>
Todo candidato que busca uma linha de radicalismo é uma opção mais preocupante. A palavra o tempo todo é buscar integrar interesses, buscar a construção pelo diálogo, e não pela imposição e pelo radicalismo.>
O senhor tem pretensões políticas?>
A federação das indústrias é um ente político. Nós a partir do momento que representamos o setor produtivo e que debatemos uma agenda, estamos exercendo a política, e esse é um papel importantíssimo que as federações têm na construção desse equilíbrio da sociedade. Mas eu particularmente não tenho pretensão política.>
Isso hoje...>
Não... Eu sou empresário, eu gosto de ser empresário. Tenho uma alegria muito grande de empreender, de gerar negócios, oportunidades, isso me motiva muito. Então estou muito satisfeito com a minha posição e o meu status atual, mas estimulo muito.>
O que falta na política no Brasil?>
Nós estamos atrás de um mágico? Está faltando alguma ideia que ninguém teve? Não está faltando nada disso. A nossa agenda é uma agenda velha, as ideias estão postas. O que está faltando no Brasil é capacidade de execução. Precisamos colocar em prática o que o mundo está fazendo. Temos que construir consenso para que as pessoas entendam que precisamos ser guiados pelo bem coletivo e não pelos privilégios paroquiais.>
E para essa política dar certo é preciso que todos os poderes funcionem.>
É fundamental na democracia fazer com que os poderes andem alinhados. É imprescindível o equilíbrio entre os poderes. O mérito não é de um ou de outro, o mérito é do conjunto. Nós não estamos atrás de um super-herói, mas de uma democracia e de instituições que funcionem. Então essa agenda de desenvolvimento do país que a gente tanto fala tem que ser do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.>
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