Publicado em 22 de junho de 2020 às 17:48
O mercado de games se destaca como um dos poucos setores que tem conquistado bons resultados durante a pandemia. O total gasto em jogos digitais em abril atingiu o recorde de US$ 10,5 bilhões (mais de R$ 56 bilhões), segundo a Superdata, consultoria do grupo Nielsen.>
Na comparação anual, o maior crescimento foi registrado entre os games para console (42%), seguido por celular (14%) e PC (12%).>
"Tem mais gente começando a jogar, mais pessoas jogando juntas e por mais tempo", diz Julio Vieitez, presidente da distribuidora de games Level Up no Brasil. Ele estima que houve na quarentena um aumento de 30% a 50% na receita, dependendo do título.>
Para as desenvolvedoras de jogos brasileiras, o cenário favorável é potencializado pela desvalorização do real. Como boa parte dos ganhos do setor chega em dólar, quanto mais alto o valor da moeda, mais elas ganham na conversão.>
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Mark Venturelli, presidente do estúdio Rogue Snail, conta que fechou um contrato de distribuição de um dos seus jogos com uma empresa chinesa no final de 2018, quando o dólar estava abaixo de R$ 4.>
"Agora está na casa dos R$ 5,20. Recebemos recentemente esses dólares, e isso foi muito bom pra gente", diz.>
O estúdio Sunland também está animado com o câmbio. No próximo mês, a empresa vai colocar no mercado o Addle Earth, jogo com conteúdo de ficção científica no qual trabalhou nos últimos três anos.>
"Temos boa expectativa porque vamos lançá-lo neste período com as pessoas em casa", diz Renato Viana, presidente do estúdio.>
A estimativa é que sejam vendidas de 20 mil a 30 mil cópias do jogo num período de oito meses a um ano, sendo 70% nos Estados Unidos.>
Para bancar a produção, com custo previsto de R$ 350 mil, Viana contou com financiamento externo e dinheiro próprio, conciliando o desenvolvimento do Addle Earth com a criação jogos por encomenda para outras empresas.>
A atuação em diversas frentes é comum entre os negócios do ramo, diz Luiz Sakuda, sócio da consultoria Homo Ludens, organizadora do censo mais recente sobre a indústria de games brasileira, de 2018.>
Segundo o estudo, metade das empresas declara que sua principal fonte de receita não é o desenvolvimento de jogos, mas atividades como criação de software, conteúdo digital e serviços educacionais.>
Essas atividades também devem ser positivamente afetadas pela pandemia, sobretudo a criação de jogos educacionais e corporativos.>
O cenário atual mostrou que a função dos jogos vai além de ser um entretenimento rápido e reduziu a resistência das pessoas a pagar pelo seu consumo, diz Luiza Guerreiro, presidente da Explot.>
O principal projeto da empresa é o aplicativo Truth and Tales, que reúne contos interativos voltados para o desenvolvimento cognitivo infantil.>
A meta é que a ferramenta, lançada há um mês nos EUA e que custa US$ 10,99 (R$ 59) o livro, chegue a 10 mil downloads mensais --também está disponível em português.>
Apesar do crescimento durante a pandemia, o setor também sofreu efeitos negativos. Um dos principais é a suspensão dos eventos presenciais, como o BIG Festival, o maior da América Latina, que neste ano será realizado virtualmente entre 22 e 26 de junho.>
Os encontros são importantes para conectar empresas iniciantes com potenciais investidores e distribuidores. Foi no BIG que Fábio Rosa teve seu game premiado e conheceu uma aceleradora que levou sua empresa, a Coffeenauts, para eventos internacionais.>
Em maio, a companhia anunciou uma parceria com a publicadora americana Skystone Games para lançar o Spaceline Crew, jogo que se passa em uma nave espacial. A previsão é que o produto seja comercializado até o primeiro trimestre do ano que vem.>
A dúvida agora é se o boom visto no mercado vai se sustentar com o fim da quarentena. "Não está claro se a depressão econômica vai afetar também o entretenimento. É difícil saber se o consumo de jogos será perene", diz Sandro Manfredini, presidente da Abragames (associação brasileira do setor).>
Para Guilherme Camargo, do Sioux Group, responsável pela Pesquisa Game Brasil 2020, o brasileiro está cada vez mais usando os games.>
"A pandemia pode ter acelerado a evolução, provocando um pico. No final do ano, veremos como a área se comportará", afirma.>
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