Publicado em 10 de novembro de 2021 às 17:03
Puxada por gasolina e passagens aéreas, a inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), voltou a ganhar força e acelerou para 1,25% em outubro, acima das projeções de analistas. >
A taxa é a maior para o mês desde 2002, informou nesta quarta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).>
Analistas de mercado consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 1,06%. Em setembro, a alta do IPCA havia sido de 1,16%.>
Com o resultado de outubro, a inflação acumulada em 12 meses permanece acima de dois dígitos, alcançando 10,67%. Trata-se do maior acumulado desde janeiro de 2016 (10,71%).>
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O IPCA está distante do teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) em 12 meses. O teto é de 5,25% em 2021. O centro é de 3,75%.>
Em outubro, todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram, com destaque para transportes. Esse segmento teve a maior variação (2,62%) e o principal impacto no índice do mês (0,55 ponto percentual).>
O resultado de transportes foi influenciado pelos combustíveis (3,21%). A política de preços da Petrobras leva em consideração as cotações do petróleo no mercado internacional, que subiram com a reabertura da economia global, e o comportamento do dólar, acima de R$ 5.>
Segundo o IBGE, a gasolina avançou 3,10% em outubro. Assim, teve o principal impacto individual (0,19 ponto percentual) no IPCA do mês.>
Foi a sexta alta consecutiva dos preços desse combustível. A gasolina acumula disparada de 42,72% nos últimos 12 meses.>
Os preços do óleo diesel (5,77%), do etanol (3,54%) e do gás veicular (0,84%) também subiram em outubro>
Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE, lembrou que o aumento dos combustíveis acaba pressionando itens diversos ao longo da cadeia produtiva. Valores de fretes de mercadorias ficam mais caros, por exemplo.>
"Isso acaba afetando outros componentes", disse.>
Um dos reflexos da alta dos combustíveis aparece nas passagens aéreas. Em outubro, o item subiu 33,86%, respondendo pelo segundo maior impacto individual no IPCA (0,15 ponto percentual).>
Segundo Kislanov, a alta das passagens é comum em outubro. Mas a elevação foi turbinada por impactos adicionais do combustível (querosene de aviação) mais alto. Também pesou a demanda maior por viagens, estimulada pela vacinação contra a Covid-19.>
"É comum a alta [das passagens] em outubro. Mas também há a depreciação cambial e o aumento do combustível. Isso pode ter contribuído. Houve ainda o aumento da demanda", indicou.>
Entre os grupos de produtos e serviços, a maior contribuição (0,24 p.p.) em outubro veio de alimentação e bebidas. O segmento teve alta de 1,17%.>
A pesquisa do IBGE contempla 16 capitais e regiões metropolitanas. No acumulado de 12 meses, 12 metrópoles têm IPCA acima de 10%.>
Curitiba (PR) é aquela com maior inflação: 13,48%. Belém (PA) tem o menor índice (9,27%).>
A escalada inflacionária no país ganhou corpo ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, de combustíveis.>
Alta do dólar, estoques menores e avanço das commodities ajudam a explicar o comportamento dos preços.>
Ao longo de 2021, a crise hídrica também passou a ameaçar o controle da inflação. A escassez de chuva forçou o acionamento de usinas térmicas, elevando os custos da geração de energia elétrica. O reflexo é a luz mais cara nos lares brasileiros.>
Há, ainda, o efeito da crise política protagonizada pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido), já que a turbulência joga o dólar para cima.>
A tensão no mercado financeiro teve novo capítulo no final de outubro, quando o governo resolveu driblar o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil.>
Nesta quarta, em entrevista a uma rádio do Espírito Santo, Bolsonaro voltou a culpar "certos impostos" e medidas de restrição adotadas por estados e e municípios para conter a disseminação da Covid-19 pela alta dos preços.>
O presidente tem apontado o ICMS cobrado por estados como principal responsável pela elevação dos preços dos combustíveis, embora os preços nas refinarias tenham sido constantemente reajustados para cima pela Petrobras, estatal controlada pela União -e que mais cedo foi chamada por ele de "monstrengo", em nova crítica contra a petroleira.>
A escalada dos preços está levando casas de análise a revisar suas projeções para o IPCA no ano. O Citi elevou as suas previsões de 9,5% para 10,4%, por exemplo.>
Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) vem subindo a taxa básica de juros, a Selic.>
Os preços em patamar alto, em um ambiente de juros maiores, desemprego acentuado e renda fragilizada, dificultam o consumo das famílias e os investimentos das empresas.>
O mercado financeiro vem elevando suas projeções para o IPCA. A mediana para o acumulado em 2021 é de 9,33%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda-feira (8) pelo BC.>
Foi a 31ª semana de alta nas previsões. Economistas não descartam novas revisões para cima.>
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