Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 14:29
Pressionada pelos combustíveis, a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), teve variação de 0,95% em novembro. É a maior taxa para o mês desde 2015 (1,01%), apontou nesta sexta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).>
Com o resultado, o IPCA se aproxima de 11% em 12 meses. Até novembro, a alta acumulada chegou a 10,74% -estava em 10,67% até outubro. Trata-se do maior avanço em 12 meses desde novembro de 2003 (11,02%).>
Apesar de ter ficado em um nível alto, a taxa do último mês de novembro (0,95%) veio abaixo das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 1,10% para o período.>
A taxa de 0,95% representa uma desaceleração -avanço menor- frente a outubro. Na ocasião, a alta do IPCA havia sido ainda maior, de 1,25%.>
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Em 12 meses, o IPCA está distante do teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central). O teto é de 5,25% em 2021. O centro é de 3,75%.>
Conforme o IBGE, sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta de preços em novembro. A maior variação (3,35%) e o principal impacto (0,72 ponto percentual) vieram dos transportes.>
O grupo foi influenciado pelos preços dos combustíveis, especialmente da gasolina (7,38%). O item, mais uma vez, teve o principal impacto individual no IPCA do mês (0,46 ponto percentual).>
Também houve alta nos preços do etanol (10,53%). O produto respondeu pelo segundo maior impacto no IPCA, de 0,10 ponto percentual. O óleo diesel, por sua vez, avançou 7,48%, e o gás veicular, 4,30%.>
Com o resultado de novembro, a gasolina acumula alta de 50,78% em 12 meses. O etanol registra disparada de 69,40% no acumulado. Já o diesel subiu 49,56%.>
"Há uma inflação de insumos básicos, como os combustíveis, e isso ajuda a espalhar a alta de preços pela economia. O óleo diesel, mesmo que não seja muito usado pelas famílias, aumenta o custo do frete de produtos", aponta o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).>
Em novembro, habitação avançou 1,03%. Foi o segundo maior impacto (0,17 ponto percentual) entre os grupos no IPCA. O segmento foi pressionado, novamente, pela energia elétrica mais cara (1,24%).>
Os dois grupos que registraram queda de preços em novembro foram saúde e cuidados pessoais (-0,57%) e alimentação e bebidas (-0,04%).>
No segundo caso, o IBGE associou o resultado principalmente à queda da alimentação fora do domicílio (-0,25%). Essa redução foi influenciada pelo recuo verificado nos preços do lanche (-3,37%).>
"A Black Friday ajuda a explicar a queda tanto no lanche quanto nos itens de higiene pessoal. Observamos várias promoções de lanches, principalmente nas redes de fast-food no período. E, no caso dos itens de higiene pessoal, várias marcas nacionais deram descontos nos preços dos produtos em novembro", explicou o analista do IBGE Pedro Kislanov, gerente do IPCA.>
"No Brasil, diferente de outros países, os descontos não são centrados em um único dia. Os descontos acabam sendo dados ao longo do mês", completou.>
O IBGE também informou nesta sexta que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 0,84% em novembro, abaixo do resultado de outubro (1,16%).>
Em 12 meses, o indicador acumula alta de 10,96%. Está abaixo dos 11,08% observados no período anterior.>
O INPC avalia os preços de bens e serviços com maior peso no consumo das famílias de renda menor (entre um a cinco salários mínimos). É usado como referência para correção de benefícios como aposentadorias e do salário mínimo.>
Segundo analistas, os reflexos da inflação elevada não se esgotam em 2021 e também representam uma preocupação para 2022.>
A pressão inflacionária, aliada a juros maiores, vem reduzindo projeções de crescimento econômico no próximo ano. Os dois fatores, em conjunto, dificultam o consumo das famílias, motor do PIB (Produto Interno Bruto). O PIB já dá sinais de estagnação no Brasil.>
A escalada inflacionária ganhou corpo no país ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, de combustíveis.>
A alta do dólar em meio a turbulências políticas no Brasil e o avanço das commodities agrícolas e do petróleo no mercado internacional ajudam a explicar o comportamento desses preços.>
Em 2021, houve um ingrediente adicional: a crise hídrica. A escassez de chuva elevou os custos de geração de energia elétrica, ampliando o uso de usinas térmicas, que são mais caras. O reflexo foi a conta de luz mais alta nos lares brasileiros.>
Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) vem subindo a taxa básica de juros, a Selic. Na quarta-feira (8), o colegiado aumentou a taxa em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano.>
O mercado financeiro projeta IPCA de 10,18% no acumulado de 12 meses até dezembro de 2021, de acordo com a mediana do boletim Focus. A pesquisa mais recente foi divulgada na segunda-feira (6) pelo BC.>
Para fechar o acumulado do ano em dois dígitos, a inflação precisaria de uma alta próxima de 0,68% em dezembro, calcula Pedro Kislanov, gerente do IPCA. Em dezembro de 2020, por exemplo, o índice subiu 1,35%.>
Para 2022, a projeção do mercado financeiro é de alta de 5,02% no IPCA em 12 meses. A estimativa está acima do teto da meta de inflação do próximo ano, de 5%. Ou seja, seria o segundo ano consecutivo de estouro da medida de referência do BC.>
"A projeção de inflação é menor para 2022, perto de 5%, mas vem sobre um ano em que a alta deve ficar acima de 10%. É muita coisa. Afeta principalmente as famílias que não conseguem se defender da alta de preços enquanto a economia está desaquecida", analisa o economista André Braz, do FGV Ibre.>
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