Consumidoras de 90% do gás distribuído no Espírito Santo, ao menos dez grandes indústrias que atuam no Estado devem começar a negociar com produtoras, como a Shell, a Equinor e a Exxonmobil, a compra direta do combustível vendido, no momento, apenas pela Petrobras.
As companhias vão aproveitar as mudanças promovidas pelo programa Novo Mercado de Gás, lançado ontem pelo governo federal, para fechar novos contratos de fornecimento do insumo com custo de aquisição reduzido. A proposta do governo promete baratear o gás em até 40% para as empresas e também para o cliente residencial.
Serão beneficiados grupos do setor de pelotização como a Vale, de siderurgia, como a ArcelorMittal Tubarão, de celulose, como a Suzano, térmicas, fabricantes de cerâmicas e porcelanas, como a Oxford, Roca e a Biancogrês, além de outras indústrias de transformação, como a Fortlev e a WEG. Até a Samarco, apesar de ter o retorno das operações previsto para o ano que vem, busca novos fornecedores do insumo.
As empresas estão iniciando conversas com produtores de gás para acharem um ponto de convergência no preço, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo, Léo de Castro ao acrescentar que a redução das tarifas e a entrada de mais combustível no mercado do Estado vai dar viabilidade econômica a novos projetos.
A favor dessas empresas está a quebra de monopólio no escoamento, no tratamento, no transporte, nas mãos, principalmente, da Petrobras. A petroleira será obrigada a abrir sua rede para que qualquer produtora possa injetar o gás, hoje retirado principalmente do pré-sal.
A nova companhia de distribuição capixaba, a ES Gás, também terá papel fundamental nesse novo ciclo virtuoso que será criado. A empresa uma sociedade entre o Estado e a BR Distribuidora e que entrou em operação na última segunda - já nasce sob um modelo de concessão adequado às novas regras.
O contrato deve sair em dois meses prevendo a figura do consumidor livre, uma autorização para as indústrias comprem ou mesmo importarem gás, usando a malha da companhia apenas para receber o combustível. Assim, a ES Gás vai ter duas atuações independentes. Além de comercializar o gás vai poder oferecer apenas o serviço de rede ao cliente corporativo.
No Espírito Santo, todas as alterações devem contribuir para que novas infraestruturas marítimas, como gasodutos de escoamento, sejam criados, aumentando o volume de gás que chega até o continente.
Entre os investimentos está a construção de uma rota de 150 quilômetros entre os blocos de exploração no Litoral Norte e o Porto da Imetame, em Aracruz. Outro duto de escoamento de 120 quilômetros poderá ser construído no Litoral Sul até o Porto Central.
Existe ainda uma possibilidade de o Estado receber um gás vindo de Roncador, no Rio de Janeiro, num campo da Petrobras com a norueguesa Equinor, segundo o secretário de Petróleo, Gás e Biocombustível do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix.
Uma ligação pode ser feita entre esse campo carioca a Jubarte (próximo a Presidente Kennedy e Itapemirim) para que o combustível chegue até uma das unidades de tratamento instaladas no Espírito Santo e depois passe pelos gasodutos de transporte e distribuição que cortam o Estado.
O Espírito Santo tem mais infraestrutura do que gás. Isso é uma vantagem competitiva em relação ao Rio, que tem muito gás, mas uma rede saturada, afirma Félix. Com mais gás disponível, segundo ele, o Estado poderá acelerar o desenvolvimento e permitir novos investimentos.
Estudo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento, feito a pedido do Gazeta Online, mostra que cerca de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 38 bilhões) em investimentos podem ser destravados. Entre eles estão instalação de novas indústrias siderúrgicas, de fabricação de papel e de fertilizantes ou mesmo a expansão das atuais plantas existentes ou de suas produções.
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