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Ibovespa cai 2,09%, a 103.412,09 pontos, menor nível em quase 1 ano

Ibovespa cai 2,09%, a 103.412,09 pontos, menor nível em quase 1 ano

Com a aversão ao risco fiscal que não poupa as empresas e setores de maior peso no índice, o Ibovespa acentuou perdas ao longo da tarde desta quinta (04), abaixo dos 103 mil pontos

Publicado em 4 de novembro de 2021 às 17:57

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B3, Bolsa de Valores de São Paulo, tem recebido cada vez mais investidores pessoa-física
Após duas sessões de recuperação parcial nesta semana, o Ibovespa retoma a trajetória negativa vista no intervalo de quatro sessões entre 26 e 29 de outubro, quando colheu duas perdas diárias acima de 2%. (GUSTAVO SCATENA)

A aprovação na madrugada desta quinta-feira (04) da PEC dos Precatórios por uma margem de apenas quatro votos em relação ao mínimo exigido para uma emenda constitucional dá uma ideia das dificuldades que o governo enfrentará especialmente quando a proposta chegar ao Senado, onde a resistência tem se mostrado ainda maior. Mesmo com costura política liderada até o último minuto pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foram obtidos apenas 312 votos no primeiro turno, e Lira não levou adiante a disposição de definir o segundo turno na mesma madrugada, como chegou a dizer que faria, no fim da noite de quarta, antes da votação.

O afastamento do MDB, que costuma votar com o governo, e a necessidade de aproximação com alguns governadores de oposição (BA, CE e PE) em concessão sobre os precatórios do Fundef, bem como ao PDT para alcançar o mínimo de votos necessários, deixou evidente a desintegração da base aliada, sempre instável desde o começo do governo.

Com a aversão ao risco fiscal que não poupa as empresas e setores de maior peso no índice, o Ibovespa acentuou perdas ao longo da tarde, abaixo dos 103 mil pontos. No pior momento, foi aos 102.835,17 pontos (-2,63%), menor nível intradia desde 13 de novembro (102.508,77) de 2020.

Assim, na falta de clareza sobre como permanecerá o quadro fiscal em ano eleitoral, o dia foi de pressão sobre os ativos brasileiros, em particular o Ibovespa, que fechou em baixa de 2,09%, a 103.412,09 pontos, menor nível de fechamento desde 12 de novembro (102.507,01), há quase um ano. Nesta quinta-feira, chegou na máxima aos 105.626,72 pontos, com abertura a 105 616,88. O giro foi de R$ 35,7 bilhões na sessão e, na semana, o Ibovespa passa a acumular agora leve perda de 0,09% neste começo de novembro, cedendo 13,11% no ano.

Após duas sessões de recuperação parcial nesta semana, o Ibovespa retoma a trajetória negativa vista no intervalo de quatro sessões entre 26 e 29 de outubro, quando colheu duas perdas diárias acima de 2%.

"A tendência é o mercado continuar piorando. Mesmo com a votação, o texto é ruim: em dez anos, o rombo de precatórios pode chegar a R$ 1 trilhão. Vai jogando a dívida pra frente e ficando impagável", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. "Já se fala muito de o Brasil ter nota rebaixada, fora a Selic alta, e com fuga de capital. Tem recessão à frente", acrescenta, apontando que alguns partidos estão criando formas para se evitar a votação da PEC em segundo turno, na terça-feira.

"O melhor cenário agora para o Brasil é o menos pior, a aprovação da PEC, embora não tenha o desenho ideal, flexibilize regras fiscais para viabilizar o Auxílio Brasil. Mas o mercado já estava precificado para aprovação dessa PEC. Sem ela, o governo volta à estaca zero, sem o teto e precisando colocar em prática o programa social, o que abriria caminho para prorrogação do auxílio emergencial por medida provisória. Isso elevaria a incerteza do cenário", contrapõe Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. A PEC "talvez seja o mal menor", conclui a economista, ressalvando que a solução encontrada é "uma bomba para o futuro".

"O drible no teto (de gastos) acarreta perda de credibilidade do País, em arranjo visando 2022. Nos próximos anos, até 2026, pode haver um acúmulo de dívidas perto de R$ 170 bilhões. Além da margem para o Auxílio Brasil, há os arranjos para angariar apoio ao governo na disputa (eleitoral)" do próximo ano, observa Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos.

Com o foco na política e nas consequências para a situação fiscal, fatores que poderiam ter contribuído positivamente na sessão, como o leilão do 5G, ficaram em segundo plano, em dia também de correção negativa para os preços do petróleo, após a Opep+ ter decidido manter a diretriz de aumento gradual da oferta da commodity. Além de Petrobras (ON -2,95%, PN -3,17%), o dia foi ruim para os grandes bancos (Itaú PN -5,28%, Bradesco PN -6,62%), na sequência do balanço do Itaú, divulgado na noite anterior.

"Os bancos mostraram reação negativa ao balanço do Itaú. O CEO (da instituição) vê piora da inadimplência em 2022 e falou em alta do custo do crédito, em entrevista após anunciar lucro recorrente de R$ 6,78 bilhões no terceiro trimestre, uma alta de 35% na comparação anual. O retorno médio sobre o patrimônio subiu para 19,7% no período, de 15,7% um ano antes", observa em nota a Terra Investimentos.

Na ponta positiva do Ibovespa, destaque para Getnet (+5,28%), Minerva (+3,68%), Marfrig (+3,60%), JBS (+3,05%) e Raia Drogasil (+1,80%). Na face oposta do índice, Rede D'Or (-8,17%), que também divulgou números trimestrais na quarta à noite, Ultrapar (-8,09%), Cogna (-7,96%) e Banco Pan (-7,74%).

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