Publicado em 29 de agosto de 2023 às 20:25
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (29) que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), que será enviado ao Congresso Nacional, vai mesmo prever déficit primário zero para as contas públicas em 2024.>
"O Orçamento vai equilibrado, nem teria tempo de mudar o Orçamento, que está pronto há mais de 15 dias. No dia 31, a gente apresenta os parâmetros, os dados e as medidas fiscais já fechados com o Planejamento", disse. "Equilibrado significa que as receitas primárias são iguais às despesas primárias", afirmou.>
Conforme mostrou a Folha, zerar o déficit já no ano que vem é uma meta considerada ambiciosa por economistas e vista com ceticismo até por membros do próprio governo, incluindo ministros, técnicos e congressistas.>
Um dos alertas, segundo relatos, veio da própria ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento).>
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Em reunião recente, com a presença de Haddad e dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Esther Dweck (Gestão), ela enfatizou os obstáculos de se conseguir a aprovação de tantas medidas para ampliar a arrecadação — a própria Fazenda estima uma necessidade de cerca de R$ 130 bilhões em recursos extras para fechar a conta.>
Na ocasião, Tebet chegou a argumentar que uma meta de déficit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) seria mais crível. O próprio mercado projeta um resultado negativo de 0,75% do PIB para o ano que vem, segundo o Boletim Focus, do Banco Central.>
Considerando a margem de tolerância de 0,25 ponto percentual criada pelo novo arcabouço, o governo estaria cumprindo seu objetivo para o ano que vem, caso a ideia de Tebet tivesse prevalecido.>
Haddad afirmou nesta terça que a peça orçamentária foi fechada antes da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao continente africano. O chefe do Executivo embarcou no último dia 20 rumo à África do Sul, onde ocorreu a Cúpula do Brics.>
"O Orçamento está fechado, e não está fechado [desde] ontem. Foi fechado com o presidente [Lula] antes da viagem para a África, fechamos na mesa dele. Não tem nem como mudar em dois dias a peça orçamentária", reforçou Haddad.>
O PLOA tem de ser enviado pelo Executivo ao Congresso até a próxima quinta-feira.>
Na visão dos céticos, esse alvo poderia estar na mira para 2025, por exemplo, o que daria espaço para o governo fazer um ritmo de ajuste mais gradual das contas públicas, sem gerar desgastes desnecessários.>
Em entrevista à Folha, no início do mês, o próprio relator do PLDO de 2024, deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), disse que o governo dificilmente escapará de uma mudança na meta fiscal de 2024. "Inevitavelmente o governo vai ter que mexer na meta", afirmou.>
Conforme relatório divulgado pelo Tesouro Nacional, o governo precisará arrecadar R$ 162,4 bilhões adicionais no ano que vem para assegurar o cumprimento do objetivo de zerar o déficit.>
As estimativas do documento já levavam em consideração as regras do arcabouço fiscal, aprovado no dia 22 de agosto na Câmara dos Deputados.>
O novo marco fiscal prevê crescimento do limite de despesas pela inflação mais um percentual real atrelado ao comportamento das receitas — que pode variar de 0,6% a 2,5% ao ano. O novo regime obriga o governo a seguir metas de resultado primário, observadas a partir da diferença entre receitas e despesas.>
Para cumprir as metas fiscais já sinalizadas, o governo dependerá do Congresso Nacional para uma aprovação de uma série de medidas para elevar a arrecadação de receitas, como a proposta que muda regras do Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais).>
Na segunda-feira (28), o presidente Lula assinou uma medida provisória para taxar rendimentos de fundos exclusivos dos chamados super-ricos e enviou um projeto de lei para tributar offshores — empresas abertas fora do país de residência, geralmente em paraísos fiscais, onde a tributação é reduzida ou nula, como as Ilhas Cayman.>
Procurados pela Folha de S.Paulo, os presidentes de Câmara e Senado, além dos líderes partidários, de governo, de oposição, de minoria e de maioria de ambas as Casas mostraram divergências sobre a taxação de empresas de brasileiros no exterior. Sem consenso, o tema pode enfrentar resistência no Congresso.>
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