Publicado em 10 de setembro de 2020 às 18:06
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que o governo deverá recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) caso o Congresso decida derrubar o veto à desoneração da folha de pagamento até o fim de 2021.>
Barros disse que, apesar de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ser a favor da desoneração, o governo não tem como apoiar a manutenção do benefício fiscal. "Essa vai ser a solução se derrubar o veto", afirmou.>
"Eu vou trabalhar, obviamente, para manter o veto. Vou trabalhar a nossa base, explicando essa situação. E a gente pode fazer a desoneração, o presidente é a favor da desoneração, mas ele quer a desoneração para todos os setores e por um prazo permanente.">
De acordo com o líder, a AGU (Advocacia-Geral da União) concluiu que não é possível superar a inconstitucionalidade da prorrogação da desoneração por mais um ano.>
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Atualmente, o benefício fiscal é válido para 17 setores da economia, permitindo que seja adotada uma base de cálculo diferenciada para a Contribuição Previdenciária sobre a folha salarial. O benefício fiscal se encerra no fim deste ano.>
A desoneração atende, por exemplo, empresas do ramo de informática, com desenvolvimento de sistemas, processamento de dados e criação de jogos eletrônicos, call center e empresas de comunicação (mídia).>
No início da semana, entretanto, o governo negociava uma derrubada em troca da votação de matérias do interesse da equipe econômica.>
Após uma reunião na terça-feira (8), líderes da base de apoio de Bolsonaro afirmavam acreditar que o governo apoiaria a derrubada do veto.>
Desde que o dispositivo foi vetado, no início de julho, a equipe econômica do governo alega que a reforma da Previdência tornou a prorrogação inconstitucional. Apesar disso, a justificativa não estava entre os argumentos do veto presidencial.>
A equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) afirma que as novas regras previdenciárias aprovadas no ano passado vedam a adoção de medidas que possam reduzir a arrecadação de recursos do fundo que banca a aposentadoria dos trabalhadores do setor privado.>
Guedes tenta emplacar uma medida mais ampla de corte de impostos sobre a folha, sem distinção de segmentos da economia.>
A tese de inconstitucionalidade já foi contrariada por um parecer da Mesa Diretora da Câmara.>
Os técnicos da Casa afirmam no documento que a emenda constitucional que mudou as regras da Previdência veda substituição da base de cálculo das contribuições feitas pelas empresas. No entanto, exclui da vedação as substituições já estabelecidas -como era o caso da desoneração aos 17 setores.>
O parecer também argumenta que a prorrogação não caracterizaria a criação de uma nova substituição da contribuição patronal. "Corrobora esse entendimento o fato de não serem alterados alíquotas, beneficiários ou quaisquer outros elementos que configuram a substituição", indica o parecer.>
Barros afirmou que ainda não há uma data fixada para que o veto à desoneração seja votado pelo Congresso.>
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), deve decidir sobre a data da próxima sessão na semana que vem.>
No Senado, as declarações de Barros foram recebidas com surpresa pelos governistas.>
Os governistas no Senado afirmaram também que não houve mudanças em relação ao que foi repassado pelos líderes do Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO) e Fernando Bezerra (MDB-PE).>
"No Senado, o papo, que foi inclusive a base para se acertar a questão da pauta para a semana que vem, é que nós estamos navegando para uma derrubada do veto, sob consenso. Na nossa cabeça, eu mais do que nunca estou convencido que o veto será derrubado por concordância. Isso é o que trabalhamos com os líderes do governo", afirmou o senador Esperidião Amin (PP-SC).>
Embora seja do mesmo partido do líder do governo na Câmara, Amin disse que os senadores não vão se basear no que o líder na Câmara tem dito.>
"Ninguém defende mais a folha com mínimo de encargos do que o Paulo Guedes. O Guedes tem repetido isso aos senadores. E a reunião de líderes foi nesta semana e não mudamos nada. Não temos de justificar o que o Barros falou", disse.>
Vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF) também desacreditou o posicionamento de Barros.>
"O líder do Congresso é Eduardo Gomes, quem deu a declaração e já disse para todo mundo aqui no Senado, inclusive para mim várias vezes, que o governo concordaria com a derrubada foi ele, o Gomes, líder do Congresso. Ninguém fala por ele", disse.>
Para Izalci, embora tenha o cargo de líder, Barros não tem autonomia para negociar acordo sobre vetos. "Quem conduz a reunião de acordo de vetos é o Eduardo Gomes. Ele é que é o porta-voz.">
Na segunda-feira (7), o próprio líder do governo afirmou que o governo entende a importância dos setores atingidos pela desoneração na manutenção dos empregos.>
"Nós entendemos que esses 17 setores são importantes para a manutenção do emprego neste momento que o Brasil precisa", disse.>
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