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Erro em decreto trava repasse de isenção de impostos do gás de cozinha

Erro em decreto trava repasse de isenção de impostos do gás de cozinha

De acordo com os distribuidores, o decreto limita benefício a botijão de 13 kg, mas Petrobras não tem como identificar destinos

Publicado em 10 de março de 2021 às 16:21- Atualizado há 3 anos

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Gás de botijão residencial aumenta para as distribuidoras
Gás de botijão residencial aumenta para as distribuidoras. (Marcello Casal/Agência Brasil)

Um erro do governo federal na edição do decreto que isentou o botijão de gás de cozinha dos impostos federais vem impedindo o repasse do benefício ao consumidor. A medida foi publicada na última terça (2), mas o setor diz que até agora a Petrobras só emite notas com a incidência dos tributos.

Na última semana, ao invés de perceber queda no preço do botijão de 13 kg, o brasileiro pagou mais caro por ele. Segundo a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o preço médio do produto subiu 0,7% em relação à semana anterior, para R$ 81,43.

O problema, segundo empresas do setor, é resultado da falta de regulamentação do decreto que estabeleceu a isenção, que não definiu como separar os volumes de gás de cozinha destinados a botijões de 13 kg daqueles volumes vendidos em vasilhames maiores ou a granel.

O desconto prometido pelo governo reduziria o preço em R$ 2,18 por botijão. Foi anunciado ao mesmo tempo da isenção de PIS/Cofins sobre o óleo diesel, como parte de um esforço do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para enfrentar a insatisfação dos consumidores com a escalada dos preços dos combustíveis.

O presidente da Abragás (entidade que reúne os revendedores de gás de cozinha), José Luiz Rocha, explica que o decreto limitou o benefício ao gás vendido para consumo residencial em botijões de 13 quilos ou menores, mas a Petrobras, que é responsável por recolher os impostos, não tem como identificar o destino do produto.

Esse papel é das distribuidoras e dos revendedores. As primeiras definem, de acordo com a demanda de seus clientes, quanto gás vão envasar em botijões menores e quanto destinarão a outros tipos de vasilhames.

Os últimos é que têm o contato com o consumidor final e poderiam saber se o uso é residencial. "O gás é um só. Como dividir o que vai para 13 kg e o que vai para granel?", questiona Rocha. "A Petrobras depende dessa informação para emitir notas fiscais diferentes."

Petrobras, Receita Federal e distribuidoras vêm trabalhando para resolver o impasse, mas as alternativas propostas até o momento criam um ambiente de insegurança jurídica para as empresas do setor.

O setor negocia um mecanismos de auto-declaração, no qual as distribuidoras informariam à estatal quanto gás pretendem envasar em botijões de 13 quilos a cada compra do produto. A expectativa é que os primeiros descontos comecem a chegar ao mercado ainda esta semana.

As distribuidoras alegam, porém, que a solução gera riscos e temem penalidades caso as previsões de destinação do gás não se confirmem. E reclamam que o modelo pode levar a fraudes, com a venda em vasilhames maiores de gás com isenção de impostos.

Até março de 2020, a Petrobras praticava preços diferentes de acordo com o destino do produto: o envasado em vasilhames de 13 quilos era mais barato do que os outros usos. Mas quem definia os volumes era a ANP, com base no histórico de vendas de cada distribuidora.

As empresas do setor defendem que o modelo volte a ser utilizado, mas a proposta enfrenta resistência da Receita Federal.

No mercado, a avaliação é que a isenção foi anunciada sem planejamento e tem efeitos adversos, como subsidiar consumidores de alta renda. Segundo a Abragás, consumidores de baixa renda representam cerca de 25% das vendas de botijões no país.

"De novo, o governo deu subsídio para quem não precisava", diz Rocha. "Se o governo precisa ajudar a baixa renda, tinha que ter criado programa de governo para atender essa população." Segundo ele, estimativas de especialistas apontam para renúncia fiscal de R$ 1,2 bilhão por ano com a medida.

Em 2021, o preço médio do botijão de gás no país já subiu 8,4%, acompanhando a alta das cotações internacionais do petróleo e a desvalorização do real, movimento que vem impactando fortemente também gasolina e diesel.

A escalada dos preços dos combustíveis neste início de 2021 se tornou um dos principais focos de preocupação do governo e levou ao anúncio de troca no comando da Petrobras, medida que derrubou as ações da empresa e provocou uma debandada inédita em seu conselho de administração.

A Petrobras disse em nota que "para que seja possível segregar os volumes de faturamento incentivado dos volumes de faturamento não incentivado os distribuidores devem apresentar ao produtor de GLP [gás liquefeito de petróleo, o gás de cozinha] declaração de destinação de produto".

Segundo a empresa, distribuidoras que apresentaram declarações já conseguiram adquirir o produto com desoneração.

O Ministério de Minas e Energia disse que não comentaria o assunto. O Ministério da Economia e a Receita Federal não ​haviam respondido aos pedidos de entrevista até a conclusão desta reportagem.

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