Publicado em 20 de outubro de 2020 às 17:56
Apesar da pressão do governo dos EUA para impedir o avanço da Huawei no futuro mercado de 5G, o embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, disse nesta terça-feira (20) que as decisões sobre o leilão da nova tecnologia no país só serão tomadas no início do ano que vem.>
Em entrevista a jornalistas, Forster evitou debater a principal meta dos EUA, de banir ou ao menos limitar a participação da empresa chinesa no leilão da frequência no Brasil, mas disse que o governo de Jair Bolsonaro resolverá a questão "com serenidade e base sólida", levando em conta não só termos econômicos, mas também "componentes de privacidade de dados, segurança jurídica e segurança nacional.">
"É razoável que isso seja olhado com a seriedade que requer o assunto, e essa decisão eu entendo será tomada mais para frente, no início do ano que vem. Não se trata de banir essa ou aquela empresa, trata-se de procurar atender ao interesse nacional brasileiro. Isso que está em jogo", disse Forster.>
O argumento dos americanos é que a Huawei repassa informações sigilosas para o governo chinês, o que ameaça a segurança de dados do Brasil e a cooperação com os EUA.>
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As declarações do embaixador foram dadas depois que o governo Donald Trump prometeu oferecer crédito, por meio de agências oficiais, para as gigantes de telecomunicações do Brasil adquirirem componentes de concorrentes da Huawei.>
As operações de crédito para que Vivo, Claro, Tim, entre outras, comprem equipamentos de fornecedores como Ericsson e Nokia devem ser oferecidas pelo DFC (U.S. International Development Finance Corporation), instituição estatal criada pelo governo americano para dar suporte a objetivos geopolíticos estratégicos de Washington. Há ainda a possibilidade de apoio via Exim Bank (Banco de Exportação e Importação dos EUA).>
Nesta terça, o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, disse que os americanos já transmitiram ao governo brasileiro suas preocupações sobre movimentos da China para expandir sua influência no país. Segundo a agência Reuters, os comentários de Lighthizer foram feitos em evento organizado pela Câmara Americana de Comércio e ecoados pelo assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, que disse que Washington pediu ao Brasil que assegure "que vigiemos a China com cuidado" em relação ao 5G e a outras tecnologias.>
Forster explicou que as transações de crédito oferecidas pelos EUA serão permitidas porque o governo brasileiro assinou em março a entrada no acordo chamado "América Cresce", que permite o acesso do país a uma carteira de financiamento de mais de US$ 60 bilhões em infraestrutura, que cobrem áreas como tecnologia e digital.>
O dinheiro, afirma o embaixador, é uma possibilidade de crédito "com condições melhores que as do mercado para financiar essa área de tecnologia crítica.">
Nos bastidores, porém, representantes do setor de telecomunicações do Brasil dizem que as empresas têm pouco interesse em comprar equipamentos com financiamento, porque a maior parte da rede atual, de 4G, é dotada de componentes Huawei -Ericsson e Nokia também já participam.>
Para fazer a transição para o 5G, seria necessário trocar esse aparato, algo que custaria muito mais do que o próprio fundo americano tem disponível.>
Uma comitiva de alto nível do governo Trump chegou ao Brasil esta semana para o anúncio de protocolos de facilitação de comércio --o objetivo principal, no entanto, é a investida para limitar a atuação da Huawei no país, objeto de conversas entre autoridades de ambos os países.>
Como mostrou a Folha de S.Paulo em agosto do ano passado, o acordo comercial não incluiria livre-comércio e focaria em áreas como diminuição de burocracias e facilitação de negócios.>
"O maior acordo de livre-comércio que o Brasil pode fazer não é com a União Europeia, com a China ou com os EUA, é consigo mesmo", disse o embaixador em Washington. "O Brasil precisa se atualizar, eliminar burocracias, ineficiências que estão aí consagradas no nosso sistema e que precisam ser superadas e modernizadas.">
Forster afirmou ainda que, apesar de "não ter o glamour de medidas tarifárias", o acordo pode trazer grandes impactos para setores produtivos no Brasil.>
De acordo com levantamento feito pela embaixada do Brasil nos EUA, as medidas firmadas nesta segunda-feira (19) podem elevar em até 7,8% as exportações brasileiras para o mercado americano, e em cerca de 1,1% as importações brasileiras com origem nos EUA.>
Entre os setores brasileiros potencialmente beneficiados pela cooperação regulatória estão produtos metálicos, manufaturas têxteis e vestuário, partes de veículos e equipamentos eletrônicos, indústrias de extração de carvão e gás natural, lã e seda, e laticínios e carnes.>
Ainda de acordo com o embaixador, as exportações anuais brasileiras poderiam ser incrementadas em cerca de US$ 3 bilhões, enquanto as americanas poderiam aumentar em US$ 0,8 bilhão.>
O acordo de parceria comercial entre Brasil e EUA é visto como um primeiro passo para negociações mais amplas, que sofrem resistência por parte de parlamentares do Partido Democrata, de oposição a Trump.>
Forster admite que uma vitória do democrata Joe Biden nas eleições de novembro traria "novos desafios" para o Brasil nessa seara e que um acordo de livre-comércio seria mais facilmente negociado se Trump fosse reeleito.>
"Não é provável que, num primeiro ano, se possa avançar nisso [ampliação do acordo comercial com o Brasil] de forma mais substantiva num governo democrata. Teríamos que enfrentar questões e preocupações que eles têm, o que é absolutamente natural.">
Uma das barreiras que democratas apontam para não apoiar acordos comerciais mais amplos com o Brasil é a questão ambiental -Bolsonaro é cirticado pelo desmonte que seu governo fez desse área- mas Forster diz que o Brasil não fugirá do debate.>
"Nós não fugimos de discutir nenhuma questão, questão do meio ambiente podemos conversar. Até onde a gente puder concordar, concordaremos.">
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