Publicado em 18 de dezembro de 2024 às 19:39
SÃO PAULO - Já em alta firme e acima da linha de R$ 6,20 ao longo da tarde, em razão da crise de confiança na política fiscal do governo Lula, o dólar à vista ganhou ainda mais força na última hora de negócios em sintonia com o exterior, após o anúncio da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA).>
Com máxima a R$ 6,2707, o dólar à vista fechou em alta de 2,78%, a R$ 6,2657 – renovando pico histórico nominal pelo terceiro pregão consecutivo. Desde a última vez que o dólar fechou abaixo de R$ 6,00 no mercado doméstico (R$ 5,9557), no último dia 11, a moeda já acumula valorização de 5,20%. No ano, o dólar tem ganhos de 29,10%. >
O real apresentou de longe o pior desempenho entre as principais moedas globais, incluindo divisas pares de países emergentes e de exportadores de commodities. Termômetro do comportamento do dólar em relação a pares, como euro e iene, o índice DXY subiu mais de 1%, ultrapassando os 108,000 pontos. >
Como esperado, o Fed reduziu a taxa de juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,25% e 4,50%. Mas a decisão não foi unânime. Houve 11 votos pela redução e 1 pela manutenção. Analistas chamaram a atenção para o tom duro do comunicado e de falas do presidente do BC americano, Jerome Powell, em coletiva de imprensa.>
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Dirigentes do Fed revisaram para cima, no chamado gráfico de pontos, a mediana para núcleos de inflação e passaram a prever taxas de juros um pouco mais elevadas do que anteriormente no atual ciclo de afrouxamento monetário.>
Powell afirmou que, com os cortes já realizados, os juros já estão "perto do nível neutro", o que permite "postura cautelosa". Ao comentar a possibilidade de uma elevação da taxa em 2025, o presidente do Fed disse que nenhuma opção pode ser completamente descartada. >
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, observa que o Fed vê uma economia mais forte, o que pressupõe inflação "mais duradoura, exigindo um ciclo de corte de juros mais gradualista" daqui para frente.>
"A dissidência de uma diretoria demonstra que o debate sobre cortes em 2025 será mais complicado, diante de déficits fiscais mais duradouros, menor imigração e aumento de tarifas", afirma Borsoi, que, por ora, mantém projeção de dois cortes de 25 pontos-base em 2025, nas reuniões de outubro e dezembro. >
Desde a eleição do republicano Donald Trump à presidência dos EUA, há apostas de que o BC americano terá menos espaço para reduzir os juros no próximo ano. Trump promete redução de impostos e medidas protecionistas, o que pode resultar em pressões inflacionárias adicionais. >
Analistas observam que o real já amargava as piores perdas entre pares emergentes antes da decisão do Fed. Depois de vender US$ 3,3 bilhões ontem em dois leilões à vista, o Banco Central não interveio no mercado cambial hoje, apesar de a taxa de câmbio ter superado R$ 6,20 no início da tarde. Segundo operadores, mesmo com a continuidade do movimento de remessas de empresas e fundos ao exterior, houve boa liquidez no segmento à vista. >
O BC informou que o fluxo cambial foi negativo em US$ US$ 4,146 bilhões na semana passada, com saída líquida de US$ 2,809 bilhões no segmento financeiro. No mês (até dia 13), o saldo total é negativo em US$ 6,788 bilhões, em razão de saída de US$ 6,063 bilhões pela conta financeira. >
"Com liquidez no spot, se o BC atuasse hoje iria parecer que estava defendendo um nível para a taxa de câmbio. Se faltar liquidez nos próximos dias, ele pode atuar de novo", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, acrescentando que o BC, por ora, segue fiel à estratégia de prover divisas para corrigir distorções, e não para tentar segurar alta do dólar motivada por aumento da percepção de risco. "A dinâmica está muito ruim por conta do fiscal. E não é só no câmbio".>
Terça-feira (17) à noite, a Câmara aprovou a primeira parte do pacote fiscal enviado pelo governo. Trata-se do projeto de lei complementar que estabelece gatilhos para o arcabouço fiscal e prevê o bloqueio de emendas em determinados casos. Uma das medidas propostas pela equipe econômica, contudo, caiu: a que limitava a restituição de créditos tributários pelas empresas. A Câmara ainda tem que apreciar mais dois textos – um projeto de lei e uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). >
Tudo será enviado em seguida ao Senado, que precisa apreciar as propostas antes de recesso parlamentar, que começa no dia 23. À tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve reunido com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e lideranças partidárias. Analistas estimam que a economia com o pacote fiscal vai girar entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões, aquém dos R$ 71 bilhões almejados pela Fazenda.>
Mais cedo, Haddad disse que a taxa de câmbio estava pressionada por um clima de incerteza, mas que deveria se acomodar à frente. "A Fazenda trabalha com os fundamentos, e esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do Tesouro, Banco Central. Funciona assim", afirmou Haddad.>
Com o mercado de câmbio já fechado, o BC anunciou que vai realizar nesta quinta (19) leilão de venda de dólares à vista com oferta de US$ 3 bilhões.>
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