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Dólar dispara e fecha na casa de R$ 5,20 com temor fiscal e exterior ruim

Dólar dispara e fecha na casa de R$ 5,20 com temor fiscal e exterior ruim

Operadores ressaltam que, como a moeda americana vinha de dois pregões de fortes perdas, abriu-se espaço hoje para um movimento de realização de lucros

Publicado em 30 de julho de 2021 às 17:58

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Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem
Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem. (Agência Brasil)

Em dia de forte deterioração dos ativos domésticos, o dólar fechou em alta firme, na casa de R$ 5,20, com os efeitos da aversão ao risco no exterior sendo potencializados por temores de piora do quadro fiscal, em meio a atritos entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a ala política em torno do Bolsa Família - além da perspectiva de antecipação do calendário eleitoral, com o novo ataque do presidente Jair Bolsonaro contra a Justiça Eleitoral.

Já em rota ascendente desde as primeiras horas dos negócios, marcada pela disputa pela formação da Ptax de julho, o dólar ganhou ainda mais força ao longo da tarde e chegou a tocar na casa de R$ 5,21 no bojo de um movimento de queda acentuada da Bolsa e alta expressiva dos juros futuros.

Com variação de cerca de 13 centavos entre a mínima R$ 5,20785 (logo na abertura) e a máxima de R$ 5,2139, já na reta final do pregão, o dólar à vista fechou a R$ 5,2099, em alta de 2,57%. Operadores ressaltam que, como a moeda americana vinha de dois pregões de fortes perdas, abriu-se espaço hoje para um movimento de realização de lucros e recomposição de posições defensivas, o que pode ter potencializado a depreciação do real. Com o avanço sexta-feira, a desvalorização da moeda americana no acumulado da semana foi praticamente apagada (-0,01%). Mesmo assim, o dólar encerra julho com ganhos de 4,76%.

Lá fora, o índice DXY - que mede a variação da moeda americana frente a seis pares - subia cerca de 0,30% e operava na casa de 92,100 pontos, em meio a forte busca de investidores por Treasuries, cujas taxas recuavam. O dólar também subia em relação à maioria das divisas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano.

O real, que havia tido o melhor desempenho nos últimos dias, na esteira da expectativa de liquidez abundante após o tom "dovish" do Federal Reserve na quarta-feira, sofreu hoje as maiores perdas, atribuídas a fatores domésticos.

Segundo apuração do Broadcast, a ala política do governo pretende bancar um Bolsa Família turbinado, de ao menos R$ 300 ao mês, com uso de recursos fora do teto de gastos. Seria o primeiro sinal de avanço do Centrão a gestão da economia, após a chegada do senador Ciro Nogueira ao ministério da Casa Civil.

Guedes reagiu dizendo que, embora o orçamento de 2022 preveja recursos de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões para o Bolsa Família, existe "fumaça no ar" em relação a possíveis despesas extraordinárias no orçamento. "Até o momento, sabemos que a programação para o Bolsa Família estava perfeitamente enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal e nos limites do teto. Temos sempre receio", disse Guedes.

"Cresceu essa percepção de que o Bolsonaro entregou o governo para o Centrão e vai liberar mais gastos para tentar recuperar a popularidade. E isso estressou bastante o mercado", afirma Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, ressaltando que na semana que vem são retomados os trabalhos da CPI da Covid, com fim do recesso parlamentar.

A despeito da deterioração dos ativos domésticos nesta sexta-feira, a operadora da B.Side Investimentos, Viviane Vieira vê ainda uma tendência tanto de apreciação do real, caso o Banco Central aumente a taxa Selic em 1 ponto porcentual na semana que vem, para 5,25% ao ano, e adote um tom duro com a inflação, sinalizando mais aperto monetário.

"O dólar sempre é a válvula de escape em momentos de tensão, com os investidores buscando uma posição mais defensiva. O dia foi ruim também lá fora hoje, por conta da China e do resultado fraco da Amazon", afirma Viviane. "Mas o dólar tende a voltar a cair se o BC subir a Selic em 1 ponto, como o mercado espera. Se ele vier com uma alta de 0,75 (ponto), aí podemos ter um estresse bem maior", diz.

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