Publicado em 21 de julho de 2021 às 18:30
O anúncio do desmembramento do Ministério da Economia, com a recriação da pasta do Trabalho, abriu uma disputa por postos considerados estratégicos no governo. O nome do atual secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, é cotado para mais de uma função enquanto técnicos relatam ambiente de incerteza sobre os cargos da nova pasta. >
Com a criação do mais novo ministério do presidente Jair Bolsonaro, Guedes perderá o controle da área que formula as políticas de emprego do governo. Com isso, fica incompleto o trabalho de implementação de um programa para formalização de jovens, que tramita no Congresso. Ele também não conseguiu promover uma desoneração da folha salarial das empresas e uma flexibilização das leis trabalhistas. >
Guedes pretende seguir participando da formulação dessas medidas. Agora, no entanto, as ações não estarão sob seu comando e ele não terá poder de decisão final. >
Apesar de o ministro sempre ter se colocado contra o desmembramento de sua pasta, a recriação do Ministério do Trabalho é minimizada por interlocutores. A avaliação é que não haverá efeito negativo sobre os trabalhos da Economia. >
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Após o anúncio da separação, o nome de Bruno Bianco passou a ser cotado para a vaga de secretário-executivo do novo ministério, a ser comandado por Onyx Lorenzoni em um momento em que o governo divulga sucessivos aumentos no saldo de emprego. >
Membros da Economia avaliam que a presença de Bianco na nova pasta seria uma forma de Guedes não perder totalmente o controle sobre o órgão que, além de desenvolver os programas de emprego, concentra parcela relevante do Orçamento do governo ao centralizar as contas da Previdência. >
Na equipe econômica, foi mencionado que a nova pasta acomodará Trabalho e Previdência. Mas ainda não está definido se Onyx realmente coordenará a área previdenciária. >
Ao mesmo tempo, o nome de Bianco também entrou na lista de apostas para o cargo de Advogado-Geral da União. Ele é servidor de carreira do órgão e estaria cotado para substituir André Mendonça, indicado ao STF (Supremo Tribunal Federal). >
Essa possibilidade, no entanto, é alvo de disputa entre as carreiras que compõem a AGU (Advocacia-Geral da União). Advogados públicos estariam fazendo pressão contra a indicação de Bianco, que é da carreira dos procuradores federais. >
Além disso, membros da Economia relatam incerteza em relação ao futuro dos quadros que hoje compõem a secretaria. A percepção é que Onyx costuma mudar de ministério e levar sua própria equipe, promovendo grandes mudanças na estrutura dos órgãos. >
Outro relato é que Bianco, um secretário-especial que ganhou destaque na formulação do programa de corte ou redução de salário e jornada durante a crise, não teria onde ficar na pasta de Guedes. >
Pessoas próximas a Guedes afirmam que o novo desenho da Esplanada não vai afetar o núcleo do ministério, do qual o titular da pasta não abre mão --o que inclui a política fazendária, hoje com Tesouro Nacional e Secretaria de Orçamento Federal, e também a política industrial. >
A visão é que, caso fossem recriados os Ministérios do Planejamento ou da Indústria, por exemplo, conflitos históricos poderiam ser reavivados entre as pastas. Hoje, disputas internas sobre o direcionamento de políticas são mediadas por Guedes -um poder que seria perdido. >
Além de minimizar o impacto para a pasta, interlocutores de Guedes afirmam que o novo desenho pode ser benéfico para o cotidiano da equipe ao desafogar os trabalhos do ministro -que está sobrecarregado. >
O volume de trabalho, inclusive, é uma das justificativas usadas por membros da pasta para a reforma tributária ter sido enviada com aumento da carga para as empresas -algo a que o ministro se diz contrário. >
Para esses interlocutores, não há um enfraquecimento de Guedes porque o movimento do Planalto serve para agradar ao centrão e, por isso, não está ligado a uma possível insatisfação com o ministro. >
Apesar de várias especulações desde o começo do governo, esta é a primeira vez que o Ministério da Economia vai encolher. Guedes reuniu sob seu comando as antigas pastas da Fazenda, do Planejamento, da Indústria, do Trabalho e da Previdência. Depois, ainda incorporou a secretaria do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). >
Em entrevista há cerca de dois meses, Guedes havia dito que não concordava com uma divisão de sua pasta. "É evidente que não. Isso é decisivo, não pode", disse ao jornal Folha de S.Paulo em maio. >
"E, se você pergunta se o presidente já comentou isso comigo, já comentou. Está cheio de gente querendo", afirmou. "Aí eu pergunto se ele está sofrendo alguma pressão política e ele diz: 'Isso é o tempo inteiro, mas eu não vou tirar, a menos que você peça'. Eu recebo essas provas claras de apoio nos momentos decisivos", afirma. >
Nesta quarta, Guedes comentou o assunto sem se aprofundar. "Vamos fazer uma mudança organizacional. Vamos acelerar a geração de emprego, inclusive com uma reorganização nossa interna. São novidades que o presidente deve trazer rapidamente", disse ao participar do começo da apresentação sobre os números da arrecadação.>
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