Publicado em 3 de setembro de 2021 às 15:36
O governo e o Congresso voltaram a discutir a criação de um imposto digital nos moldes da extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) como forma de compensar uma redução de tributos que empresas pagam sobre a folha de salários. >
A medida foi discutida nesta semana entre interlocutores no Congresso e o ministro Paulo Guedes (Economia) como alternativa mais ampla ao projeto de lei da Câmara que concede a desoneração somente para 17 setores.>
O texto em discussão na Câmara prevê estender o benefício de certos segmentos (como comunicação, construção civil e calçados), que se encerraria em 2021, por mais cinco anos.>
Guedes e sua equipe são contrários à proposta para os 17 setores porque, entre outros motivos, ela tem um custo muito alto em comparação com a quantidade de empregos preservados -tese corroborada por analistas.>
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Além disso, o time defende que a desoneração teria que valer para todos.>
Diante da resistência do ministro à proposta, membros do Congresso levaram a ele a ideia de incluir mais setores na desoneração e, em troca, resgatar o debate sobre a recriação da nova CPMF -medida defendida pelo ministro, que parou de citar o assunto pelas críticas recebidas.>
Eles ouviram do ministro que essa é uma ótima ideia.>
Guedes sempre defendeu implementar o novo imposto como forma de substituir a tributação sobre salários, que chama de arma de destruição em massa de empregos.>
Há alguns meses Guedes ainda citava em reuniões essa proposta como uma das partes de sua reforma tributária em cinco capítulos.>
Por outro lado, interlocutores do Congresso ouviram do ministro que ele não pode defender essa ideia sozinho. Seria preciso ter apoio de parlamentares e do próprio empresariado.>
O relator do projeto que prorroga a desoneração para 17 setores, deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS), entrou em contato com empresários nesta semana para medir a temperatura pela defesa do novo imposto.>
Os empresários receberam um convite para jantar com o deputado nesta quinta-feira (2) na casa do empresário Washington Cinel, em São Paulo, para discutir o tema.>
Cinel já reuniu representantes da iniciativa privada e do governo Bolsonaro em diferentes encontros, inclusive com a presença de Guedes.>
Na iniciativa privada, a recriação da CPMF é defendida pelo setor de serviços. Um dos maiores entusiastas de um imposto nesses moldes é o empresário Flávio Rocha (dono da Riachuelo).>
A CNS (Confederação Nacional dos Serviços) também defende a ideia.>
"O importante é batalhar para empregar gente, porque cada vez mais tem dificuldade de empregar. A CPMF é um imposto que pode ser facilmente implementado sem complexidade e com menos evasão", disse em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo Luigi Nese, presidente da CNS.>
Por outro lado, outros setores têm resistência à proposta, como o industrial e o bancário.>
No Planalto, a desoneração da folha está sendo tratada como uma prioridade pela ministra Flávia Arruda (Secretaria de Governo), que recebeu na quarta-feira (1º) representantes do setor produtivo e congressistas.>
Segundo interlocutores, Arruda entende que o fim do benefício pode significar um aumento no desemprego, o que seria muito prejudicial para o governo.>
Auxiliares palacianos dizem, contudo, que a equação deve vir da economia. Uma eventual volta da CPMF é extremamente impopular e vista com ressalvas pela equipe política.>
Há uma piora no cenário econômico, acompanhada de quedas sucessivas de popularidade de Bolsonaro. Além disso, mais de 200 nomes do setor produtivo sinalizaram à Fiesp intenção de assinar um manifesto em defesa da democracia.>
O documento foi interpretado pelo governo como uma afronta ao presidente. Após uma costura política, envolvendo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a Fiesp suspendeu a publicação do manifesto.>
Guedes afirmou nesta quinta que setores beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos só se preocupam em renovar o próprio subsídio em vez de "terem a sensibilidade social" de apoiar uma redução ampla de encargos trabalhistas a todas as empresas.>
"O que sempre nos incomodou é que justamente os setores que se beneficiam dessa desoneração, em vez de terem a sensibilidade social de apoiar um movimento mais amplo para baixar para todo mundo, eles só se preocupam em renovar o seu próprio subsídio", disse.>
"A própria mídia e mais 16 setores todo ano conseguem a renovação para si em vez de apoiar para todos", afirmou.>
Segundo a Economia, o governo abriria mão de arrecadar R$ 8,3 bilhões por ano, caso o benefício seja prorrogado para os 17 setores.>
A desoneração substitui a base de cálculo da contribuição do empregador à Previdência. Em vez de 20% do valor do salário, paga-se um percentual que varia de 1% a 4,5% sobre o faturamento bruto.>
Para promover uma desoneração ampla e linear para todos os setores, Guedes defendia desde o início do governo a criação de um tributo sobre transações financeiras aos moldes da extinta CPMF.>
O plano, que foi deixado de lado após forte resistência dentro e fora do governo, previa arrecadar até R$ 120 bilhões ao ano com o novo imposto, o que permitiria um corte de tributos sobre o salário dos trabalhadores.>
"Desde quando chegamos aqui, sempre dissemos que o mais cruel dos impostos é o imposto sobre a folha de pagamentos", afirmou.>
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