Publicado em 26 de março de 2020 às 15:05
Recomendada pelas autoridades de Saúde e adotada amplamente mundo afora, a quarentena - marcada pelo fechamento do comércio e a indicação de que as pessoas fiquem em suas casas - virou tema de discussão entre os empresários brasileiros - mesmo que os cientistas apontem a estratégia como a de maior sucesso até agora no combate ao novo coronavírus. >
Na terça, em pronunciamento em rádio e televisão, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o que chamou de "confinamento em massa" e seus efeitos sobre a economia, dando munição a quem defende um relaxamento do confinamento.>
Mas, no empresariado, há opiniões e posturas distintas sobre o lockdown (fechamento) total da economia. Com experiências prévias de terem fábricas fechadas na China, o que evitou impactos maiores entre os funcionários, Marcopolo e Randon perceberam que teriam de estender a medida para o Brasil e se uniram na decisão de levar adiante o plano de suspensão temporária da produção. >
Num primeiro momento, os funcionários terão 20 dias de férias coletivas e, caso seja necessário, entrarão em banco de horas. A exemplo do que aconteceu na China, há contingência para uma parada maior.>
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Outra parte do empresariado acredita que em mais duas ou três semanas será possível começar uma flexibilização em algumas áreas, incluindo o comércio. Mas há também quem ache que, mesmo neste momento mais crítico da doença no país, não poderia haver um fechamento total dos estabelecimentos e que o efeito da falência das empresas será devastador para as camadas mais pobres da população. Para todos os grupos, a economia brasileira vai sofrer e terá dificuldades na retomada.
>Segundo os especialistas de saúde, no momento atual da pandemia, em que a doença segue em franco crescimento em muitos locais do planeta, é difícil avaliar quais estratégias poderiam funcionar além das já adotadas por outros países. >
O melhor exemplo acaba sendo o da China, onde tudo começou - e, até o momento, o único local que conseguiu conter a transmissão local do vírus. Também é considerada bem-sucedida a estratégia da Coreia do Sul. Na primeira, houve fechamento de tudo, na segunda, testagem em massa.>
Um estudo encomendado pela Confederação Nacional de Serviços (CNS) mostra que os efeitos da pandemia do coronavírus e de restrições ao funcionamento de diversas atividades econômicas podem levar a um prejuízo de mais de R$ 320 bilhões à economia brasileira e fazer com que 6,5 milhões de trabalhadores percam seus empregos.>
Mas, segundo o presidente da CNS, Luigi Nese, os números não devem ser usados para fazer alarde ou para serem contrapostos a estratégias para conter o avanço da doença. >
"O intuito do estudo é mostrar o que uma paralisação de 60 a 90 dias pode causar na economia. Encomendamos os dados para prepararmos empregadores, trabalhadores, governo e Justiça para um debate que nos leve a uma solução pós-crise. Independente de um prazo mais curto ou mais longo no enfrentamento da covid-19, é preciso unir esforços para que a economia se recupere após esse processo", afirma.>
Para alguns empresários, apesar de o isolamento neste momento ser fundamental, é preciso começar a pensar em soluções para o médio prazo. O presidente da Racional Engenharia, Newton Simões, diz que, neste momento, o país está vivendo um período de pânico, o que é compreensível. >
"Espero que na próxima fase, dentro de duas ou três semanas, venhamos a entender que a parada é insustentável. Então, medidas devem ser tomadas, com responsabilidade e empatia, para negociações que nos permitam voltar a funcionar." >
O dono do grupo Varanda de restaurantes, Sylvio Lazzarini, afirma que, neste momento, não há como não haver uma paralisação para tentar frear o avanço do vírus. "As medidas foram duras e necessárias", afirma. Ele acredita, entretanto, que em mais 15 dias será possível iniciar medidas de flexibilização para o funcionamento dos estabelecimentos. "Restaurantes, por exemplo, poderiam funcionar, mas não na sua capacidade máxima, e com mesas mais distantes umas das outras.">
O presidente da construtora Vitacon, Alexandre Frankel, também defende uma solução moderada para manter as atividades. Segundo ele, que também é vice-presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), as orientações gerais do setor, em conjunto com o sindicato dos trabalhadores, foi de não parar as obras. "Entende-se que tem um ambiente mais seguro, que são mais abertos, sem grandes aglomerações. Estamos seguindo essas orientações.">
Há, porém, também quem defenda que a flexibilização deve ser imediata. O empresário Junior Durski, dono da rede paranaense de hamburguerias Madero e apoiador do presidente Bolsonaro, é um dos maiores críticos ao fechamento da economia. "Fecham a feira ao ar livre e as pessoas têm de ir comprar no supermercado fechado. Os caminhoneiros precisam transportar remédios e alimentos, mas os restaurantes da Dutra (rodovia) estão todos fechados. Não faz sentido esse fechamento total.">
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