Publicado em 19 de maio de 2020 às 12:43
A pandemia de coronavírus derrubou o principal pilar de sustentação da economia brasileira, o consumo das famílias, que registrou queda inédita em março, segundo dados do Monitor do PIB, indicador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre) divulgado nesta segunda-feira (18).>
A economia teve retração no patamar inédito de 5,3% no primeiro mês de distanciamento social do país, em comparação a fevereiro, com queda de 6,5% no consumo das famílias brasileiras.>
Responsável por cerca de dois terços do PIB, o consumo vinha crescendo 2% ao ano e sustentando a fraca recuperação da economia desde o final de recessão de 2014-2016. Nos três últimos anos, o país cresceu pouco mais de 1%.>
Os dados do Monitor do PIB também contrariam o discurso do Ministério da Economia de que o PIB brasileiro estava decolando quando o mundo foi atingido por um "meteoro", em uma referência à pandemia de coronavírus.>
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Segundo a FGV, a economia já vinha com resultados fracos em janeiro (+0,6%) e em fevereiro (+0,2%). Com isso, no primeiro trimestre do ano, o indicador teve queda de 1%, pior resultado desde o terceiro trimestre de 2015, auge da recessão mais recente no país.>
Os dados oficiais do PIB para o primeiro trimestre serão divulgados pelo IBGE no próximo dia 29, mas trazendo números para o período fechado de três meses, sem resultados mensais.>
Os dados do monitor também apontam para uma mudança no perfil de consumo das famílias. Todas as modalidades tiveram queda em março, com exceção dos bens não duráveis (principalmente produtos alimentares e farmacêuticos).>
Os produtos semiduráveis, como vestuário e calçados, e os duráveis, que dependem de crédito (como automóveis, elétricos e eletrônicos, entre outros), tiveram queda superior a 20%. Os serviços tiveram retração de 5%.>
"Esta deverá ser a nova configuração do consumo durante o período do isolamento social: fortemente baseada em bens não duráveis e serviços", dizem os pesquisadores Claudio Considera, Juliana Trece e Elisa Andrade, do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre.>
"Com o retorno do comércio, haverá recuperação dos semiduráveis. Os duráveis, só após a redução das incertezas. Essa nova configuração não será muito modificada nos primeiros momentos da abertura, pois a redução da renda das famílias, seu endividamento, o aumento do desemprego e a consequente elevação da incerteza perdurarão por um longo período", afirmam os pesquisadores.>
Outro componente do PIB, o investimento público e privado, também não deve ajudar na recuperação. Em março, mostrou retração de 5,8%. No trimestre, queda de 0,5%. O consumo do governo segue estagnado.>
As exportações recuam, apesar do câmbio mais favorável. Assim como no Brasil, a demanda mundial por produtos industriais segue baixa, e as vendas que crescem são as de commodities. >
Claudio Considera, do Ibre, afirma que os números de abril e maio vão mostrar um quadro ainda pior e que os resultados futuros vão depender do que acontecer com o controle da pandemia. >
Mesmo se houver uma reabertura das atividades, a retomada da economia não será imediata (a chamada recuperação em "V"), pois deverá haver perdas permanentes de postos de trabalho e o fechamento de empresas. >
"Não vejo uma saída de crise em 'V', infelizmente. A economia vai retomar aos poucos. Não estava decolando nos meses de janeiro e fevereiro, não estava crescendo a 3%. Os dados já mostravam que a gente poderia repetir a mediocridade dos três últimos anos", afirma Considera. >
"As pequenas empresas estão quebrando. Estamos prevendo entre 17 milhões e 21 milhões de desempregados. Agora, teremos de cuidar primeiro da pandemia e, depois, tentar livrar a gente de uma depressão", diz o pesquisador. >
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