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Bolsa brasileira despenca 12%, na pior queda do século

Bolsa brasileira despenca 12%, na pior queda do século

Dólar dispara para R$ 4,727 em dia de tensão com coronavírus e guerra do preço do petróleo

Publicado em 9 de março de 2020 às 19:03

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Bolsa de valores. (IStock)

A Bolsa brasileira teve sua maior queda do século nesta segunda-feira (9). O Ibovespa, maior índice acionário do país, despencou 12,17%, a 86.067 pontos, menor patamar desde 26 dezembro de 2018. Essa é a maior queda diária desde 10 de setembro de 1998, quando a Bolsa caiu 15,8%, ano marcado pela crise financeira russa.

Nesta sessão, o índice abriu em forte queda e, às 10h30, as negociações foram interrompidas quando a queda superou 10%. Esse é o nível para que se acione o chamado circuit breaker, que leva à suspensão do pregão. É o primeiro circuit breaker desde o episódio conhecido como Joesley Day, em maio de 2017, e sexto da história. A suspensão foi de meia hora.

Os mercados financeiros de todo o mundo viveram nesta sessão a perfeita definição de dia de pânico. O dólar disparou, apesar da intervenção do BC (Banco Central). O risco-país teve alta recorde. Os juros futuros subiram.

Desde o pico mais recente, quando atingiu a máxima histórica de 119.527 pontos, em 23 de janeiro, o Ibovespa cai cerca de 26%. A queda apaga todo o ganho do mercado de ações desde o início do governo de Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019.

O dólar abriu nesta segunda em forte alta. Na máxima, bateu R$ 4,7940, mas teve a disparada parcialmente contida pela venda de US$ 3 bilhões de reservas pelo BC -o triplo do inicialmente previsto. O plano, na última sexta (6), era vender US$ 1 bilhão. A moeda fechou em alta de 2,00%, a R$ 4,7270. O turismo está a R$ 4,9780 na venda. Em algumas casas de câmbio, chega a ser vendido acima de R$ 5. 

O pessimismo sinaliza principalmente uma piora nas perspectiva de impacto econômico com a disseminação do novo coronavírus. A desaceleração da economia global por causa da doença já é considerada inevitável.

Pesam neste início de semana a decisão do governo da Itália de colocar 16 milhões de pessoas no norte do país em quarentena, e da guerra de preços do petróleo entre grandes países produtores.

O quadro é de muita aversão, com investidores em todo o mundo buscando ativos considerados mais seguros -que não estão no Brasil neste momento.

Economistas agora aguardam medidas do governo brasileiro para amenizar o impacto da crise. Nesta manhã, o FMI (Fundo Econômico Mundial) recomendou aos governos do mundo que sejam ágeis na adoção de planos para evitar que o coronavírus tenham efeitos prolongados de retração econômica. Sugeriu medidas como aumento do crédito e liberação de seguro-desemprego.

O risco-país brasileiro, medido pelo contrato de CDS (Credit Default Swap) de cinco anos sobe 40%, a maior alta da história em um dia. O índice retorna ao patamar de dezembro de 2018, aos 200 pontos.

A deterioração nos mercados nesta segunda sinaliza ainda os efeitos negativos da retração no preço do petróleo. O contrato futuro do barril do tipo Brent chegou a cair mais de 30% nesta sessão e agora é negociado ao patamar de US$ 34,47, queda de 23,8%. É a menor cotação desde 2016.

"A decisão da Arábia Saudita pega os mercados de surpresa e adiciona preocupações. Por ora, o impacto nos mercados está sendo avassalador", escreveu a corretora Guide em relatório desta segunda.

AÇÕES DA PETROBRAS TÊM MAIOR QUEDA DA HISTÓRIA

As ações da Petrobras, cuja receita é atrelada ao preço do barril de petróleo, tiveram a maior queda percentual da história. As preferenciais (mais negociadas) despencaram 29,70%, a R$ 16,05. As ordinárias (com direito a voto) caíram 29,68%, a R$ 16,92. Os patamares são os menores desde agosto de 2018, quando a estatal se recuperava de perdas decorrentes da paralisação dos caminhoneiros, quando a companhia adotou programa de subvenção e o preço do diesel caiu.

"A mudança no preço do petróleo envolve diretamente a rotina operacional não só da Petrobras, mas de todas as companhias que pautam seus guidances com um preço de referência", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

No ano, o petróleo cai quase 50%, reflexo da percepção de que a demanda pelo produto será menor com a redução da atividade econômica global. Uma queda de consumo já é certa: querosene de aviação, com a redução das viagens causada pelo coronavírus. 

O Goldman Sachs apontou que o óleo pode ficar ao redor de US$ 30 por barril ao longo do segundo e do terceiro trimestre, sem descartar uma queda para US$ 20.

Já os juros brasileiros sobem, reflexo do temor de investidores sobre os impactos da doença sobre a economia brasileira. Na dúvida, a preferência é por cobrar mais para emprestar ao governo. A curva de juros futuros mostra uma aposta do mercado em Selic a 4% ao ano, se distanciando dos 3,5%. Hoje, a taxa básica está a 4,25% ao ano.

Uma queda de braço entre a Arábia Saudita (membro da Opep) e a Rússia, que se recusou a cortar a produção para fazer frente à queda do preço da matéria-prima já está sendo chamada de guerra do preço do petróleo, com impactos em escala global.

O Banco do Brasil se disse confiante na retomada da economia brasileira e que está preparado para atender clientes em momentos de necessidade e capital de giro.

"É natural que os ânimos do mercado se exaltem diante de incertezas, mas os fundamentos econômicos de longo prazo não mudaram, continuam sólidos. O coronavírus e o stress internacional são pontuais e transitórios. Os mercados tendem a se acomodar após o susto do inesperado, estamos confiantes na reaceleração da economia e do crédito", afirma Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil.

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No exterior, Bolsas americanas tiveram o pior pregão desde 2008, ano da crise financeira. S&P 500 caiu 7,60%, Dow Jones, 7,79% e Nasdaq, 7,29%.

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