Publicado em 6 de dezembro de 2020 às 10:52
A pandemia da Covid-19 fez a Caixa Econômica Federal detectar uma oportunidade de negócio capaz de render ao menos R$ 50 bilhões. A perspectiva foi impulsionada pelo pagamento do auxílio emergencial.>
O montante bilionário é o valor estimado com a abertura de capital (49% das ações) de um banco digital que a Caixa pretende criar. O patrimônio da instituição viria dos serviços prestados pelo aplicativo Caixa Tem.>
O benefício emergencial foi criado pelo governo federal para minimizar o impacto da crise causada pelo coronavírus. Inicialmente o valor era de R$ 600 mensais, e agora foi reduzido para R$ 300. O auxílio acaba neste mês.>
Ainda sem um nome definitivo, o braço digital da Caixa será destinado a correntistas de baixa renda.>
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A instituição permitirá movimentações de até R$ 5.000 por mês e concentrará todos os pagamentos de benefícios sociais do governo, que serão agregados em etapas, além de prestar todos os tipos de serviços financeiros --saques, pagamentos de contas ou transferências, venda de seguros e oferta de microcrédito.>
O novo banco será controlado pela Caixa, que ainda aguarda o aval do Conselho de Administração para pedir a autorização de funcionamento ao Banco Central.>
No momento, o que está em discussão no colegiado é o valor do investimento inicial a ser feito pela Caixa.>
Será preciso garantir a estrutura tecnológica necessária e o deslocamento das equipes. Hoje o Caixa Tem usa a tecnologia do banco estatal e cerca de cem funcionários da instituição atuam no projeto.>
Essa etapa, segundo executivos envolvidos, deverá ser concluída até o fim deste ano. A expectativa é que a aprovação pelo Banco Central então saia até o fim do primeiro trimestre de 2021.>
O valor estimado (cerca de R$ 100 bilhões) é elevado porque, diferentemente de fintechs concorrentes, o braço digital já está em funcionamento na Caixa. A concorrência começou do zero e demorou a emplacar resultados.>
Pessoas envolvidas no projeto afirmam que o Caixa Tem já está com mais de 50 milhões de correntistas fazendo algum tipo de operação financeira.>
Essa movimentação mantém um constante fluxo de uso dos serviços do aplicativo. Esses clientes fazem ao menos uma transferência ou um pagamento de conta.>
No fim do terceiro trimestre, essas transações movimentaram cerca de R$ 50 bilhões. São quase R$ 20 bilhões a mais do que no trimestre anterior.>
A Caixa já vendeu mais seguros pelo aplicativo do que pela própria rede de atendimento. Os números, no entanto, não foram revelados.>
A criação de um banco digital foi idealizada pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, no início da pandemia, em março, quando o governo planejava liberar a ajuda mensal a quem comprovasse perda de renda por causa do isolamento necessário para conter a disseminação do coronavírus.>
A decisão do ministro Paulo Guedes (Economia) e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de editar uma medida provisória permitindo a abertura de contas digitais sem autorização do titular abriu caminho para o que Guimarães chama de "o maior processo de bancarização do planeta".>
Com a conversão da MP em lei, no início de abril, a Caixa registrou inicialmente 18,2 milhões de contas digitais. Os cartões de débito virtual vinculados só começaram a ser emitidos no segundo trimestre.>
Essas contas se relacionavam com o aplicativo Caixa Tem, uma central de serviços para aqueles que se inscreveram no programa de ajuda do governo. Naquela fase, 97,5 milhões de pessoas baixaram a ferramenta.>
No fim do terceiro trimestre, dado mais recente, a Caixa tinha as 105 milhões de contas digitais abertas aptas a receber não só o auxílio emergencial como todos os benefícios sociais. Ao todo foram pagos R$ 356 bilhões.>
Como houve atrasos de 40 dias no pagamento pelo governo, os titulares passaram a fazer transações financeiras por essas contas ao longo dos meses subsequentes. Na prática, elas passaram a funcionar como se fossem contas-correntes.>
A Caixa Econômica definiu um pacote de movimentações para livrar o correntista de taxas. Quem extrapola paga uma taxa extra ou migra para uma conta da Caixa.>
O plano prevê a migração de todos os programas sociais do governo para essa plataforma. O Bolsa Família começa a se integrar neste mês. Os beneficiários foram divididos em quatro grupos. O último será incluído na plataforma em março de 2021.>
Para evitar falhas, os pagamentos poderão ser efetuados tanto pelo cartão social (modelo atual de recebimento) quanto pelo aplicativo. O sistema não permitirá receber dois benefícios. Ao sacar de uma forma, a outra estará automaticamente bloqueada.>
Também em março terá início a oferta de microcrédito. Quem solicitá-lo terá uma conta digital aberta automaticamente.>
Essa modalidade de empréstimos será lançada porque, durante a pandemia, a Caixa firmou uma parceria com a Receita Federal. O fisco já enviou ao banco uma lista completa da análise prévia de crédito dos beneficiários.>
Segundo executivos da Caixa, a demora na avaliação do tomador acaba inviabilizando esse tipo de empréstimo pelos bancos comerciais. Por isso, a Caixa aposta no microcrédito como um chamariz para novos clientes.>
Também está prevista a migração do programa habitacional Casa Verde e Amarela, que a Caixa espera ter aprovado pelo Congresso, e a dos atuais beneficiários do Minha Casa Minha Vida.>
Para analistas, esse será um bom negócio porque irá retirar da Caixa todo o elevado custo de prestação de serviço para os programas sociais e produtos voltados à baixa renda, melhorando o resultado financeiro.>
A instituição ficaria como prestadora de serviço de sua controlada, recebendo não somente dividendos resultantes da operação digital.>
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