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Aposentaria exige cautela com novo tipo de investimento

Aposentaria exige cautela com novo tipo de investimento

Precaução é a principal indicação para quem acompanha o mercado de fintechs e deseja investir em novas modalidades pensando em aposentadoria

Publicado em 28 de dezembro de 2019 às 09:25

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Aposentaria exige cautela com novo tipo de investimento. (Pixabay)

Precaução é a principal indicação para quem acompanha o mercado de fintechs e deseja investir em novas modalidades pensando em aposentadoria. Esses produtos financeiros inovadores ainda não são indicados para o poupador, que visa um projeto de longo prazo. Por ora, são ativos mais interessantes para investidores profissionais.

As classes de investimentos maduras do mercado financeiro, como títulos públicos, de crédito, fundos e ações, apresentam maior segurança para quem economiza.

Crowdfunding, conhecido como vaquinha coletiva, peer to peer (empréstimos entre pessoas), equity ou crowdfunding de investimento e criptomoedas ainda não conquistaram espaço nessa lista.

É verdade que o número de empresas desses segmentos está em plena ascensão. Segundo a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), 26 plataformas eletrônicas de investimento participativo tinham permissão para operar em 12 de novembro.

O número representa crescimento de 85% em relação ao fim de 2018. Apenas no segundo semestre de 2019, oito companhias receberam registro do órgão fiscalizador.

Também é fato que os poucos resultados que surgem são tentadores. Em agosto, a plataforma de crowdfunding Kria anunciou a venda da startup investida Resale para o BTG. O retorno para alguns investidores, em três anos, chegou a 128%.

Em seu blog, a EqSeed também destaca um cenário favorável. Informa que suas empresas investidas Kokar Automação Residencial valorizou 67%, em dois anos, e a Prosumir, entre a primeira e a segunda rodada, 108%.

Mas, para o coordenador do curso de economia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), Joelson Sampaio, ainda há muita imprevisibilidade em aplicações inovadoras, como o crowdfunding.

"É preciso tomar muito cuidado. São [ativos] imaturos quando você pensa em longo prazo. No meio do caminho eles podem desaparecer e ampliar ainda mais o risco que já apresentam", diz o acadêmico.

Em 2016, por exemplo, o mercado mundial ficou em alerta depois do caso da norte-americana Lending Club. Após problemas com a transparência sobre operações de empréstimos, o principal executivo na época, Renaud Laplanche, renunciou. A empresa ainda existe, mas atravessou um grande período de crise.

Segundo Sampaio, é importante acompanhar essas modalidades por, no mínimo, mais dois anos. Atualmente, são direcionadas aos investidores-anjo, com grande patrimônio e e muito conhecimento financeiro.

A atratividade e o crescimento exponencial de várias startups financeiras ainda não compensam os riscos. Entre eles a falta de liquidez, que é a dificuldade de vender os ativos, e os riscos de mercado.

Existe ainda a chance de as empresas capitalizadas por vaquinhas e financiamentos apresentarem maus resultados, por falhas na gestão, por exemplo. E, como consequência, darem calote quando o investidor quiser resgatar seu capital.

Além disso, a falta de dados históricos, devido aos poucos anos de existência, e tamanho dos segmentos, ainda pequenos, dificulta análises e projeções dos poupadores.

O professor José Roberto Savoia, que ministra aulas na Saint Paul Escola de Negócios, alerta sobre a taxa de mortalidade de startups. "Em cinco anos, sete em cada dez delas não estarão mais aqui."

SEGURANÇA

Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, o planejamento para a previdência deve apresentar segurança para quem economiza.

Quando se trata de veículos de investimentos consolidados, até a renda variável é aconselhada para quem busca previdência. Isso porque é comum que, quanto mais longo o prazo para resgate, mais interessante seja o resultado.

As oscilações diárias imprevisíveis desses ativos, como ações e fundos de índices, são compensadas pelos vastos leques de informações disponíveis, pela regulamentação e pela fiscalização por órgãos competentes.

Coordenador do MBA Finance da FIA, Roy Martelanc reforça ainda a necessidade de que o ativo tenha um lastro. Descarta totalmente as criptomoedas.

"Não há valor subjacente. Não é amarrado a nada. A pessoa acaba caminhando na corda bamba que está presa a nada. Se você me falar que um bitcoin, daqui a 20 anos, vai valorizar ou não, eu vou questionar. Sem lastro, não há projeções", avalia o especialista.

Para entender melhor, é como pensar que as ações negociadas em Bolsa de Valores têm as empresas emissoras como garantia. A aquisição de um papel é o mesmo que ter direito a um pedacinho dessa companhia.

Sobre fundos inovadores, como o Vitreo Canabidiol FIA IE, gerido pela fintech Vitreo e aprovado recentemente pela CVM, que direciona recursos para empresas que atuam com a maconha legalmente em outros países, o acadêmico orienta muito cuidado.

"É um mercado que acabou de se formar e não tem muito fornecedor. Quem são eles? Muitos produzem em casa. Como estudar esse segmento [para fazer melhores escolhas], que é prioritariamente norte-americano?"

Mas não descarta a opção para os agressivos. "Se você quer rentabilidade, deve arriscar, mas com muita precaução. Se acha que vale a pena o risco de perder uma parte do seu capital, deve investir", afirma Martelanc, avisando que o aporte deve ser bem menor.

O consultor e educador financeiro André Massaro faz uma analogia dos novos investimentos a alguns já conhecidos, que estão fora da regulamentação do mercado financeiro.

São eles a negociação imobiliária e as obras de arte. "C omo investimentos alternativos, fogem um pouco da rede de segurança", diz. Além dos problemas de liquidez, há vários fatores externos, como a economia, que podem influenciar nos seus preços.

Portanto, são aconselhados para quem já acumulou sua reserva de emergência. Está tranquilo quanto ao investimento pensando em previdência. E ainda tem dinheiro sobrando para arriscar em troca de maior rentabilidade.

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