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Silvicultura vira trabalho e renda para quilombolas no Norte do ES

Silvicultura vira trabalho e renda para quilombolas no Norte do ES

Grupo faz parte de minoria social que enfrenta dificuldades para se inserir no mercado de trabalho formal e nas oportunidades da educação. Na região, ações  buscam reverter essa situação

Publicado em 16 de dezembro de 2022 às 17:00

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Quilombolas encontraram na silvicultura uma forma de mudar de vida
Quilombolas encontraram na silvicultura uma forma de mudar de vida. (João Vitor Castro)
  • Curso de Residencia

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Lívia Bonatto*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]
Mikaella Mozer*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]
João Vitor Castro*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]

As noites na zona de silvicultura, em Montanha, no Norte do Estado, são regadas a trabalho que virou fonte de renda de famílias. Nesse turno, um grupo de irrigadores alimenta com hidrogel as mudas de eucalipto para contribuir para o bom crescimento da planta. Tatiana Jesus, 30 anos, moradora da comunidade de Córrego do Sapato, é uma dessas pessoas. Para ela, sua atividade profissional representa não só o auxílio na futura produção de papel, mas também uma renovação de vida.

Depois da morte do marido, Tatiana se viu sozinha como provedora. Com dois filhos e desempregada, a notícia da vaga representou um recomeço. “Ele faleceu, passou uma hora e eu olhei meu celular. E estava lá o e-mail pedindo meus documentos para o emprego. Como ele era estagiário, meus filhos não receberam pensão, então se não fosse essa chance eu não teria renda para sustentar meus filhos”, conta Tatiana.

As mudas irrigadas por ela são plantadas no turno da manhã por outro grupo de pessoas. Entre esses colaboradores está Leiziane, que aos 20 anos tem o primeiro emprego formal, o qual considera uma conquista que serve de inspiração para outras mulheres jovens e batalhadoras, como ela. “É uma satisfação muito grande saber que estamos plantando o futuro para outras pessoas e dando um papel para que elas possam escrever.”

A assinatura na carteira de trabalho, acrescenta Leiziane, significa mais um passo para a concretização de um sonho familiar. Tanto a mãe quanto ela compartilhavam a vontade de ver todos os membros da família com um cargo na Suzano, a empresa que abriu essas oportunidades. O irmão mais velho já atua na mesma companhia, mas no Estado da Bahia. O sonho pessoal da jovem se tornou realidade quando ela  foi contratada em agosto. Agora, a outra irmã pretende continuar os caminhos para chegar ao final da estrada tão desejada pela família.

Leiziane ainda vê a atividade de plantio como uma oportunidade de dar orgulho para as mulheres quilombolas. “É ser guerreira, não se minimizar e não se diminuir por outras pessoas”, afirmou.

José Fernando dos Santos, 26, nascido na comunidade de Angelim III, trabalha na irrigação durante o período noturno ao lado de Tatiana e tem no seu curso de vida uma ligação com a história dela e de Leiziane. Enquanto a semelhança com a mãe solo se dá pela ressignificação do entendimento da vida ao conseguir a vaga na irrigação, com Leiziane a ligação se encaminha pela integração de familiares no mesmo ambiente de trabalho. Daniela dos Santos, 22, é prima de José e, juntos, eles compartilham horas de trabalho durante seis dias da semana.

Ação social da Suzano com quilombolas
Tatiana, Leiziane e João passaram a trabalhar com silvicultura depois de fazer cursos oferecidos  na área. (Lívia Bonatto)

O entrelaçamento dessas histórias se deu por um fator ainda maior, todos são quilombolas ou descendentes desse grupo. Os quilombolas fazem parte de uma formação com forte identidade cultural que se originou por meio do processo de escravidão. Muitos vivem juntos no mesmo território, sendo este já ocupado por gerações há anos, para garantir a reprodução física, social, econômica e cultural.

Eles também enfrentam dificuldades de espaço no mercado de trabalho e nas oportunidades da educação.

MUDANÇA DE PERCURSO

Essa situação começou a mudar com o plantio de sementes sociais no Norte do Estado. Os três personagens ouvidos nesta reportagem vivenciaram uma mudança do percurso na vida pessoal e profissional. Foram contratados e, já dentro da empresa, fizeram cursos  para desempenhar suas funções.

Magno de Santana Ferreira, 32 anos, é descendente de quilombolas, e disse que vê a vida da família ser transformada a partir dele com o aprendizado.

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Eu viso muito à família e, desde que entrei, o impacto principal foi nela. O prazer de poder dar um acesso, por exemplo, a uma saúde melhor para o filho e esposa. Na minha casa, eu falo sempre, a Suzano decidiu me colocar aqui, mas eu também escolhi estar aqui, busco fazer o melhor porque tenho o melhor. Desde que entrei, eu consegui muitas coisas, até entrei no curso de gestão ambiental e quero crescer aqui dentro.

Magno de Santana Ferreira
Assistente geral de plantio
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Essa ação social já levou 147 pessoas, entre eles os quilombolas, a entrarem no mercado de trabalho da Suzano. Desde julho, três turmas foram formadas e empregadas. “Transformamos toda essa operação, antes feita por empresas terceirizadas, trazendo-a para dentro de casa, mostrando que tem benefícios maiores e apontando o que eles vêm construindo”, contou o supervisor de operações da Suzano, Saulo Gurgel.

AUTONOMIA

A oportunidades de aprendizado se estendem para outras áreas de atuação. Para criar autonomia para a região, que é fortemente dependente das suas atividades, cursos como manicure e padeiro estão entre as opções de capacitação oferecidas pela Suzano. O objetivo é criar novos centros comerciais e levar a população a caminhar em novos espaços.

A metodologia que define a oferta de cursos cobre também uma das metas da empresa, a de tirar 200 mil pessoas da pobreza até 2030. O propósito é ousado, mas a organização acredita ser possível alcançá-lo com a abertura dos cursos, que vão criar  quase 4 mil vagas para treinamento até a metade de 2023. Em conjunto, são lançados editais para auxiliar programas e instituições com os projetos já exercidos por eles.

A abertura de vagas não tem data definida, por isso os interessados devem ficar atentos ao site https://www.editalsuzano.prosas.com.br/.

Este conteúdo de marca foi produzido pelos residentes do 25º Curso de Residência em Jornalismo como parte do projeto Residente Sombra, uma das atividades inseridas nesta edição 2022 do programa. O trabalho teve a orientação da editora Andréia Pegoretti e do coordenador do curso, Eduardo Fachetti.

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