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Max Filho e Neucimar: do instinto selvagem ao picador de gelo

Três anos após a sangria desatada que foi a eleição de 2016 em Vila Velha, prefeito e ex-prefeito voltam a conversar de modo "civilizado" e ensaiam reconciliação política

Publicado em 27/09/2019 às 17h42
Coluna Vitor Vogas - 28/09/2019. Crédito: Amarildo
Coluna Vitor Vogas - 28/09/2019. Crédito: Amarildo

Quase uma selvageria, em uma trilogia de debates épicos promovidos pela CBN e pela TV Gazeta, com direito a dedão na cara do outro e uma torrente de direitos de resposta. Assim foi a sanguínea disputa entre Max Filho (eleito) e Neucimar Fraga pela Prefeitura de Vila Velha em 2016. Há poucos dias, depois de três anos curando as feridas daquela batalha, os dois trocaram as armas pelo picador de gelo. E foram quebrar, juntos, o iceberg existente entre eles, em um encontro promovido por “um grupo de amigos em comum”, como relata Neucimar (PSD).

Segundo o ex-prefeito, os dois tiveram uma “conversa civilizada”, a qual passou por três tempos.

“Nós conversamos sobre o passado, a nossa história no passado, sobre a política atual e sobre o futuro. Nós quebramos o gelo.”

Teriam quebrado o pau também?

“Não”, ri-se Neucimar. “Mais o gelo mesmo. De um processo eleitoral que foi muito acirrado em 2016. Mas eu falei: ‘Max, em 2008 você me bateu demais e, oito anos depois, a gente devolveu os tiros, né? E chumbo trocado não dói’.”

No debate da CBN no 2º turno em 2016, Max chegou a mandar Neucimar “lavar a boca com sabão” para falar mal da família Mauro. E agora, os dois lavaram a roupa suja?

“Praticamente, né?”, responde Neucimar. “Demos uma sacolejada no passado e deixamos as portas abertas para continuar conversando, sem nenhum compromisso político entre mim e ele. Mas acho que foi bom. A conversa foi civilizada. Temos posicionamentos políticos diferentes. Mas resgatamos um pouco a nossa história.”

Falando nessa história, o distanciamento entre prefeito e ex-prefeito teve início no processo eleitoral de 2008, quando Max, então prestes a encerrar o segundo governo em Vila Velha e sem poder emendar um terceiro, lançou Dyonizio Ruy Junior pelo PDT contra Neucimar, que levou aquela eleição. De lá para cá, muito graças a 2016, a relação só se deteriorou. Mas nem sempre foi assim, como recapitula o próprio Neucimar:

“Não tenho dificuldade em conversar com ninguém. Com Max eu tinha mais distanciamento. Mas comecei dentro da política com ele. Em 1989, apoiei ele a vereador. No primeiro mandato dele de prefeito [2001-2004], fui líder dele na Câmara. E apoiei a reeleição dele em 2004.” Note-se o verbo no pretérito imperfeito: “tinha” mais distanciamento.

Como Neucimar afirmou aqui ontem, o PSD hoje prefere que ele volte à Câmara Federal em 2021. E ele, pessoalmente, também indica ter preferência por esse caminho.

“Eu me sinto preparado para governar a cidade novamente, mas acho que Vila Velha agora está precisando de união. Como existe a possibilidade de eu assumir o mandato em 2021 caso Sérgio Vidigal ou Norma Ayub ganhe a eleição, acho que, se a cidade tivesse um prefeito e um deputado federal trabalhando em sintonia para ajudá-la, seria bom para ela. Como não tenho mais essa vaidade de ter que ser prefeito, posso ser candidato a prefeito, a vice em alguma chapa ou posso indicar um vice da minha confiança para compor uma chapa que eu ache que é melhor para a cidade.”

CABO ELEITORAL

Cientes de que Neucimar pode estar fora do páreo – tornando-se, nesse caso, um cabo eleitoral cobiçado –, muitos pré-candidatos em Vila Velha o têm procurado para dialogar. Ele vai conversar com Hércules Silveira (MDB) e com Danilo Bahiense (PSL). Já esteve com Tayana Dantas (Cidadania), Hudson Leal (Republicanos) e Arnaldinho Borgo (MDB). Com Max, o encontro foi organizado por amigos que ele prefere não nominar. (Um deles teria sido o presidente da Câmara de Vila Velha, Ivan Carlini, do DEM)

“Assim como aconteceu com Max, tem acontecido com outros atores. Algumas pessoas entendem que, se eu não for candidato, eu posso ser um bom cabo eleitoral na cidade. E estão tentando me aproximar desses atores.”

O ex-prefeito ressalta a civilidade da conversa com o rival (em substituição à selvageria da campanha).

“Nesse tempo que fiquei sem mandato, aprendi e amadureci bastante, sobre a forma de se comportar em um processo eleitoral. A idade também traz essa experiência para a gente. Então acho que manter uma conversa civilizada com as principais lideranças da cidade faz bem para a cidade. É dentro desse espírito que estou focado para 2020: totalmente à disposição da cidade, para ajudar a construir um projeto bom para Vila Velha, sendo parceiro desse projeto ou o seu indutor principal.”

Olho vivo, porém. Em “Instinto Selvagem” (1992), lançado no ano em que Max perdeu sua primeira corrida à prefeitura, o picador de gelo tem outra utilidade: é exatamente a arma letal usada por Catherine Tramell, a personagem mais famosa de Sharon Stone, para fazer as suas vítimas.

Sharon Stone, na clássica cena do interrogatório em "Instinto Selvagem". Crédito: Divulgação
Sharon Stone, na clássica cena do interrogatório em "Instinto Selvagem". Crédito: Divulgação

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