Thiago é pós-doutor em Farmacologia, professor/pesquisador da Universidade Vila Velha (Medicina e Ciências Farmacêuticas) e autor do perfil @farmaconaprática no insta e do canal do Youtube "Farmacologia na Prática". Nesse espaço trataremos de saúde, medicamentos e suas aplicações

O fenômeno Ozempic: será mesmo a melhor solução para a perda de peso?

Indicado para o tratamento de diabéticos, o medicamento caiu nas graças das celebridades do mundo - e chegou até a afetar positivamente a economia da Dinamarca - porque um dos seus efeitos adversos é a perda de peso

Vitória
Publicado em 23/08/2023 às 17h44

Você sabia que o Brasil está entre os países com maiores índices de obesidade no mundo? Segundo as projeções mais recentes, 30% da população adulta do Brasil será obesa até 2030. E por que tanta preocupação com esse dado que cresce aos galopes? Porque a obesidade é um importante combustível para doenças como diabetes tipo 2, hipertensão, acidentes vasculares (“derrames”), bem como vários tipos de câncer. Além disso, você que passou pelo período da pandemia, percebeu também como foram mais frequentes as complicações da COVID-19 em pacientes obesos...

Eu preciso te lembrar uma coisa: a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a obesidade como uma doença crônica, presente na Classificação Internacional de Doenças, sob o código “CID E66”. E como ela se manifesta? A conta é simples: se o consumo de calorias é excessivo, ultrapassando o valor necessário para que o organismo realize a sua manutenção, a obesidade vai aparecer como 1+1=2. Diante dos custos médicos e também econômicos associados à obesidade, preciso lembrar que o controle do peso não é uma questão de luxo ou padrão de beleza, mas sim fundamental para oferecermos melhor qualidade de vida para toda a sociedade, independente da idade, gênero ou classe social.

Se por um lado a obesidade precisa ser evitada, do outro lado acompanho as mais diversas estratégias para a perda de peso... Algumas delas, como um “canto da sereia” (ou de celebridades e influencers digitais) tem encantado muitos como se fossem as mais seguras e adequadas para qualquer pessoa que queira retornar ao peso ideal. É preciso avaliar os benefícios e riscos.

Uma substância que tem chamado a atenção do mundo é a semaglutida, comercializada como “Ozempic”. Em 2018, chegou no Brasil para o tratamento de pacientes diabéticos. Como um dos seus efeitos adversos é a perda de peso, passou a ser explorada via “offlabel” para esse fim, gerando até falta do produto para quem mais precisa que são os pacientes diabéticos. Graças às vendas do medicamento ao redor do mundo, a moeda da Dinamarca passou por uma valorização em relação ao euro, uma vez que o Novo Nordisk, a indústria farmacêutica que faz o remédio, é dinamarquesa.

Mas precisamos refletir: seria a semaglutida isenta de riscos?

Como colunista de saúde e medicamentos, é meu dever trazer à tona os aspectos vitais dessa jornada de perda de peso. De fato, os benefícios da semaglutida não podem ser negados: estudos demonstraram que essa substância pode ajudar a reduzir o apetite, controlar os níveis de açúcar no sangue (glicemia) e, consequentemente, levar à perda de peso. No entanto, como uma caixa de morangos bem suculentos ali também pode esconder realidades menos agradáveis (e que as celebridades não te contam). Entre os morangos mais vermelhos podem estar ali alguns verdes (ou até estragados). No contexto da semaglutida, esses "verdes" representam os riscos e complicações que também estão associados ao seu uso.

Thiago de Melo

pós-doutor em farmacologia

"Estudos e relatos clínicos têm levantado preocupações sobre efeitos adversos da semaglutida, que vão dores de cabeça, náuseas, vômitos, constipação, mau hálito, cansaço até complicações mais sérias, como pancreatite, cálculos na vesícula biliar e até na tireoide"

Recentemente, tem sido investigada até sua relação com alterações importantes de humor e depressão. E só lembrando de um detalhe: por ter um tempo de ação prolongado, esses efeitos podem se estender por semanas mesmo após suspensão do tratamento! Seu tempo de meia-vida, isto é, o intervalo de tempo no qual sua concentração plasmática se reduz à metade é de 7 dias. Portanto, ao contrário do que muitos falam que seu tempo de ação é de 7 dias, enfatizo que ela leva 1 semana para atingir a sua metade na corrente sanguínea, e portanto, deixa seu rastro de efeito ainda por muitas semanas...

Coloque isso na sua cabeça: semaglutida não é um cosmético. Consultar um profissional de saúde qualificado é essencial. Um médico pode avaliar sua condição de saúde e reais necessidades para determinar se a semaglutida é uma opção segura e adequada. Os farmacêuticos também podem ser sua fonte segura de informação quanto a este produto tão requisitado. Os nutricionistas também são fundamentais para garantir uma dieta ideal que auxilie na perda de peso.

Nessa busca por perda de peso, não brinque com a saúde. Lembre-se da minha analogia das caixas de morangos: talvez a única que você não vai encontrar os verdes (ou podres) está na prática regular de exercícios físicos, boas noites de sono e uma dieta adequada. Assim, a conta fecha.

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