Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Santuário do Sumô", da Netflix, vai da excelência à mediocridade

Drama esportivo japonês acompanha um lutador em sua jornada para se tornar um mestre do sumô. Série mistura esporte, humor e melodrama

Vitória
Publicado em 11/05/2023 às 18h31
Série japonesa
Série japonesa "Santuário do Sumô", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Dramas esportivos, até mesmo os não muito bons, têm um lugar cativo no coração do público. Os filmes e as séries do gênero têm uma característica interessante: quanto menos se sabe sobre o esporte retratado, maiores as chances de se gostar da série. Parece complicado, mas não é; a chance de encontrarmos incongruências e absurdos sobre um esporte que praticamos ou de que gostamos muito, é infinitamente maior. Talvez por isso “Santuário do Sumô”, da Netflix, pareça tão interessante.

Dirigida por Ken Eguchi e escrita por Tomoki Kanazawa, a série tem início com uma cena de câmera estática. A imagem fica na parede e um homem é atirado repetidamente nela; após alguns instantes, a câmera se levanta e acompanha o mesmo personagem partindo para cima de outro - ambos são lutadores de sumô, mas um deles se mostra confiante e tranquilo enquanto bate novamente naquele que vimos antes até levá-lo ao ponto de chorar. O sujeito apanhando é Kiyoshi Oze (Wataru Ichinose), um lutador mais esforçado do que bom, mas que acredita que o sumô é sua grande chance de mudar de vida e ganhar dinheiro para ajudar seu pai.

Ao longo de oito episódios de cerca de uma hora de duração cada, acompanhamos a jornada do protagonista para se tornar “yokozuna”, o ranking máximo do sumô, em provações que vão além do esporte. O passado de Oze é mostrado em flashbacks para justificar seu comportamento o tratamento dado a ele como “bad boy” – ele não faz reverência aos mais experientes e tampouco cede sem reagir ao bullying que eles fazem com os mais jovens no “estábulo” que prepara os lutadores.

Ex-lutador de judô, Oze funciona como uma boa porta de entrada para o mundo do sumô. Ele não tem a técnica ou a disciplina da tradicional luta, mas tem vontade de sobra, uma espécie de Rocky Balboa do sumô. O primeiro episódio é todo utilizado pelo texto para construir, mesmo que de maneira superficial, o mundo do sumô

Série japonesa
Série japonesa "Santuário do Sumô", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“Santuário do Sumô” tem um tipo de humor físico e caricato típico das comédias japonesas. Há piadas com os corpos e os hábitos dos lutadores e também no arco da jornalista que quer cobrir o estábulo, um ambiente muito masculino. O texto é intencionalmente bobo em vários momentos, um contraste ao tom respeitoso adotado pela série ao falar sobre o sumô. A narrativa principal também aposta pesado no melodrama em uma tentativa de aproximar a série de um público não muito interessado do esporte. Não há nada errado nisso, vale ressaltar. O problema é que, em determinado momento, o humor e o melodrama dominam o roteiro e deixam o esporte em modo de espera.

“Santuário do Sumô” é muito melhor quando busca o sumô e seus detalhes. As lutas são brutais e filmadas para mostrar isso; de certa forma, a relação é com o corpo daqueles homens, a degradação de levá-los ao limite, algo similar ao que Darren Aronofsky fez tanto em “Cisne Negro” quanto em “O Lutador”. Ken Eguchi busca o estilo para deixar as lutas mais atrativas ao público e, às vezes, abusa da utilização de takes em câmera lenta, recurso que normalmente funciona como potencializador de impacto quando usado com cautela, mas que se torna cansativo quando repetido à exaustão.

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Série japonesa "Santuário do Sumô", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

É irônico que “Santuário do Sumô” pareça ao mesmo tempo maior do que o necessário e mal desenvolvida – passa-se muito tempo com arcos desinteressantes, que pouco adicionam, em detrimento do esporte, o coração da série e sua melhor parte. A impressão é de que algumas subtramas são apenas para cumprir um tempo de narrativa pré-determinada.

A temporada se encerra com um gancho razoável para novos episódios, mas “Santuário do Sumô” precisaria rever seu foco para se manter interessante. A série é muito melhor quando focada nas lutas e nos atletas, como um bom drama esportivo, a história de um azarão, mas nem sempre é essa a prioridade do roteiro.

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