Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Samaritano": filme de herói com Stallone na Amazon é péssimo

"Samaritano" é um filme de herói, mas poderia ser a história de um ex-lutador ou um ex-soldado do Vietnã, ou seja, é um filme como tantos outros já feitos inclusive por Stallone

Vitória
Publicado em 26/08/2022 às 14h21
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Filme "Samaritano", com Sylvester Stallone, lançado pela Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime/Divulgação

Em qualquer discussão em que o tema seja a supersaturação ou não dos filmes ou das séries de heróis, “Samaritano”, lançado pela Amazon Prime Video, serve como argumento final para quem acha que “já deu”. Dirigido por Julius Avery, do bom “Operação Overlord”, o novo filme da Amazon não é tão ruim, mas é derivativo desde seu primeiro fotograma, pegando toda a narrativa “emprestada” de outros filmes.

“Samaritano” tem início com um prólogo em animação explicando como, décadas atrás, dois irmãos gêmeos geneticamente modificados, Nêmesis e Samaritano, causaram o caos em Granite City. Após muitos confrontos, os dois teriam morrido em um grande incêndio enquanto o bondoso Samaritano tentava impedir um vilanesco (e genérico) plano de Nêmesis. Mesmo após tanto tempo, as marcas dos irmãos ainda são vistas pela cidade em grafites, tatuagens e roupas, com cada um carregando o logotipo de seu favorito.

Neste cenário, uma teoria da conspiração acredita que Samaritano não tenha morrido, e é nisso que o jovem Sam (Javon Walton, de “Utopia”) acredita. Ele passa todo seu tempo em busca de pistas sobre o paradeiro de seu herói. Enquanto isso, os vilões da cidade, personificados em Cyrus (Pilou Asbæk, de “Game of Thrones”), querem honrar o legado de Nêmesis com uma “revolução do povo” que o texto trata como puro caos e desordem.

Um dia, agredido por valentões capangas de Cyrus, Sam é salvo pelo vizinho Joe (Sylvester Stallone), que demonstra uma força fora do normal. O jovem então passa a desconfiar que seu solitário vizinho do outro lado da rua seja o Samaritano - e Sam obviamente está certo.

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Filme "Samaritano", com Sylvester Stallone, lançado pela Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime/Divulgação

“Samaritano” é um filme de herói apenas porque o gênero está em “alta”, pois a história poderia perfeitamente ser sobre um veterano do Vietnã, um ex-matador da máfia, um ex-integrante do cartel ou até um ex-lutador de boxe que não quer mais saber do esporte. Sim, o novo filme de Stallone é praticamente um pastiche de tudo o que ele já fez no cinema.

O texto tenta inicialmente dar alguma profundidade a Cyrus e seus capangas ao discutir a construção da figura do anti-herói e a representatividade dos vilões para aqueles invisíveis aos olhos da sociedade. Para essas pessoas, o herói clássico significa a autoridade, o poder repressor, e um vilão com aspirações revolucionárias significaria uma quebra dessa autoridade dessa posição de poder. O problema é que o filme em sequência já mostra os vilões torturando, instaurando o caos sem pena de matar enquanto pregam a revolução popular - a indústria americana dificilmente perderia a oportunidade de criar um violento herói do povo.

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Filme "Samaritano", com Sylvester Stallone, lançado pela Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime/Divulgação

É curioso como, apesar de dar título ao filme, o personagem de Stallone seja apenas um acessório. Joe passa o tempo todo desconversando sobre seu histórico, se irrita com facilidade ao falar do assunto e poderia evitar boa parte do conflito do filme se resolvesse ser mais ativo. O roteiro usa a reclusão do personagem como muleta para sua grande virada, uma “surpresa” previsível desde os primeiros minutos de filme.

Tecnicamente, “Samaritano” não é ruim. A ambientação urbana e remete inicialmente ao hoje clássico “Corpo Fechado” (2001), de M. Night Shyamalan, referência reforçada pela presença do jornalista Albert (Martin Starr), um estudioso que estuda todos os possíveis destinos do desaparecido herói. Esse tom, no entanto, é abandonado e o personagem, esquecido. Tudo no filme de Julius Avery é corretinho - mesmo limpinhas, sem peso e intensidade, as cenas de ação são razoáveis e as atuações também (Javon Walton é ótimo, mas Stallone está no piloto automático).

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Filme "Samaritano", com Sylvester Stallone, lançado pela Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime/Divulgação

“Samaritano” até tem boas ideias, mas pouco as explora. A representatividade do vilão é um assunto que poderia ter destaque de forma lúdica, mas o filme nunca se aprofunda no tema, preferindo tratar qualquer possível revolução popular como o caos instaurado por um lunático. Ao invés de apostar no que funcionaria, o filme se limita a copiar tudo o que já foi feito centenas de vezes em filmes melhores dos mais diversos gêneros. O resultado é um filme que não funcionaria nos cinemas, mas teria uma boa vida nas locadoras dos anos 2000 e hoje deve ter boa audiência no streaming.

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