Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

O rock está morto, mas talvez ele volte daqui a pouco...

Sem apresentar novidades relevantes há bastante tempo, o bom e velho rock'n'roll passa por uma crise criativa que o afasta das gerações mais novas e o faz perder espaço para outros gêneros

Publicado em 01/08/2020 às 06h00
Atualizado em 01/08/2020 às 06h00
Nirvana
Será que teremos um "novo" Nirvana?. Crédito: Geffen/Divulgação

Dizem que é importante começar o texto com uma frase de impacto, né? É um recurso de que gosto bastante, então vamos lá: O ROCK ESTÁ MORTO. Talvez agora, neste instante, eu tenha sua atenção, ou talvez você esteja correndo para o seu grupo de amigos roqueiros no WhatsApp para dizer como este jornalista não entende nada de música ou que “com certeza deve ouvir pagode e funk” - uma afirmação que nem de longe representa uma ofensa pra mim.

Enquanto bato nas teclas deste surrado notebook, meus fones tocam o “In On the Kill Taker”, do Fugazi, um disco lançado em 1993 e até hoje um dos meus favoritos. Um breve e fácil exercício basta para que qualquer fã de rock que brade por aí “rock and roll can never die” (“Hey ,Hey, My, My”, do Neil Young, de 1979) perceba que seus gostos são antigos e nostálgicos. Até mesmo bandas grandes ainda na ativa e enchendo estádios não ganham a mesma rotatividade nos ouvidos roqueiros hoje em dia; por melhores que sejam os últimos discos de Metallica e Foo Fighters, por exemplo, a maioria dos fãs sempre vai preferir os antigos. Faz parte.

A grande virada para a “morte momentânea” do rock é a cultura jovem - por mais que você discorde, sempre foi ela a determinar o que é ou não relevante na cultura pop. Há tempos o rock mainstream não oferece novas ideias aos seus ouvintes. Há, claro, boas bandas recentes na ativa, como Tame Impala, PUP e Greta Van Fleet, mas o que elas realmente oferecem de novo? São bandas novas fazendo boa música que ressoa em uma geração mais velha.

Faça um exercício e resgate a última banda nova boa e inovadora que você ouviu. Não é fácil. É claro que muito se produz nos nichos, mas o quanto disso realmente importa para quem está fora deles? O quanto disso não recicla o que já foi feito no metal, no progressivo, no hard rock, no punk, no grunge, no hardcore, no guitar rock, no shoegaze, no nu-metal… Por aí vai. O ponto é: o rock não apresenta novidades ou porta de entradas para as novas gerações.

Já faz algum tempo que rappers e artistas pop são os novos rockstars. Jay Z, Kanye West, Lady Gaga, Ed Sheeran, Rihanna, Beyoncé, Drake, Bruno Mars, Harry Styles, entre outros dentro de uma lista enorme. De uns tempos para cá, o rap ainda tem ocupado espaços que outrora foram de artistas de rock como Nirvana, Green Day ou Blink 182, ou seja, a famosa porta de entrada em uma cultura.

Reprodução
Reprodução. Crédito: Lady Gaga, Beyoncé e Rihanna

Os jovens “emo” do final dos anos 1990 e início dos anos 2000 são os equivalentes culturais aos atuais rappers americanos e ganharam até uma denominação própria, o “emo (t)rap”. O que é mais punk ou “faça você mesmo” do que baixar umas batidas na internet, criar rimas em cima disso, gravar, editar e distribuir esse material de dentro do próprio quarto?

O rap possibilita hoje uma facilidade que o rock não consegue oferecer: uma autonomia real. Afinal, é mais fácil produzir uma música por conta própria, sozinho, ou ter que encontrar outros músicos para tocar, criar, compor, ensaiar etc.? Isso pode também ser visto como um retrato de uma geração mais individualista e fechada no próprio mundo, pois ter uma banda significa um mínimo de convívio social.

Há também uma mentalidade diferente nas novas gerações com a qual o rock não conseguiu se adaptar: o ciclo produtivo. Nos acostumamos (e me incluo nisso) a consumiu material novo das bandas de que gostamos a cada dois ou três anos - como exemplo, o The Lawrence Arms, banda punk de Chicago de que gosto muito, não lançava um disco desde 2014 e isso não me incomodava. Para uma geração com ciclo de atenção curto e novos hábitos fluidos, é interessante que os artistas se mantenham o tempo todo lançando material que podem ser singles, EPs ou até mesmo discos; veja o exemplo do mineiro Djonga, que lança um disco por ano desde 2017 (o clipe abaixo tem mais de 11 milhões de visualizações no YouTube). Ninguém se esquece de um artista sempre com material novo na praça.

O artista solo também oferece uma identificação maior e mais direta com o público do que uma banda - é como comparar a “simpatia” dos clientes com Nubank e Itaú, a grosso modo. Em tempos de redes sociais e comunicação direta, um nome é mais atrativo que uma marca.

Semana que vem volto a este mesmo espaço para falar um pouco mais sobre o assunto. Quem bomba no rap por aqui? Por que a situação dos EUA é bem diferente, com uma cena particular e um tanto estranha? Sim, uma coluna em duas partes, pois como diria minha amiga Darshany, “ninguém manda em mim”.

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