Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Halston", da Netflix, é mais sobre o homem do que sobre a lenda

Série produzida por Ryan Murphy para a Netflix reconta em cinco episódios a vida de excessos e genialidades do lendário estilista Roy Halston

Vitória
Publicado em 14/05/2021 às 04h01
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Série "Halston", da Netflix. Crédito: ATSUSHI NISHIJIMA/NETFLIX

Apesar de ter falecido aos 57 anos, Roy Halston viveu intensamente. O designer ficou famoso em 1961, por desenhar o chapéu que Jacqueline Kennedy usou na posse do marido, John Kennedy. O problema é que os chapéus saíram de moda e a fama de Halston não durou tanto assim. Quebrado e com uma ideia na cabeça, criou uma boutique em Nova York e revolucionou o mundo da moda com designs simples, mas sofisticados, cheios de glamour, mas algo que a mulher americana com bastante dinheiro poderia usar no dia a dia.

No mesmo pacote da fama vieram a cocaína, o álcool, o sexo e o temperamento difícil. Halston, sempre acompanhado de modelos, atrizes e artistas, mergulhou de cabeça nas festas do badalado Studio 54 e aproveitou como poucos as baladas da época. Tudo, é claro, tem um preço. 

É justamente por sua vida agitada e pelo legado que deixou no mundo da moda que Halston se torna um bom personagem para uma série biográfica. Intitulada simplesmente “Halston”, a minissérie com produção de Ryan Murphy (mais uma!) chega nesta sexta (14) à Netllix.

Halston tem sua história contada de forma enxuta, em cinco episódios, com cada um deles representando um momento marcante em sua vida. Com Ewan McGregor no papel principal, “Halston” segue o padrão de cinebiografias, ou seja, sofre para resumir décadas de seu biografado em algumas horas de tela. O resultado é uma narrativa atropelada, mas surpreendentemente concisa e feita com um público restrito em mente.

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Série "Halston", da Netflix. Crédito: ATSUSHI NISHIJIMA/NETFLIX

O texto, baseado no livro “Simply Halston”, de Steven Gaines, opta por um formato seguro e sustentado por pontos de virada na carreira do estilista. Estão lá o chapéu de Jackie Kennedy, a falência, a volta por cima, as coleções de sucesso, as drogas, as festas e os fracassos… É fácil entender porque Ryan Murphy não quis deixar de fora alguns pontos da carreira de Halston, mas a opção resulta na ausência de peso e consequência em algumas decisões do protagonista.

Nunca entendemos, por exemplo, a consequência e o legado do contrato bilionário assinado por ele com a J.C. Penney - a coleção fracassou, mas é considerada hoje um marco na popularização da “alta costura”. Sim, falta tempo, mas há outros exemplos em que o tempo não pode ser responsabilizado. As relações de Halston têm bastante tempo de tela, mas poderiam ser mais bem desenvolvidas. Seu caso com o artista Victor Hugo (Gian Franco Rodriguez) é raso e nunca mostra ao certo o peso do venezuelano na vida de Halston. O mesmo pode ser dito sobre Elsa Peretti (Rebecca Dayan) e Joel Schumacher (Rory Culkin), que aparece apenas brevemente no início da série com intuito óbvio de aproveitar a popularidade de Schumacher, que faleceu em 2020, e registrar a repulsa inicial de Halston às drogas.

Entre os coadjuvantes, quem ganha um certo destaque é Liza Minnelli (Krysta Rodriguez), que teve uma parceria histórica com Halston e papel fundamental na fama do estilista. Krysta canta e dança muito bem, incorporando trejeitos físicos da Liza e se entregando ao papel. A personagem some a partir de um determinado momento do roteiro, mas cumpre seu papel bem sempre que aparece.

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Série "Halston", da Netflix. Crédito: ATSUSHI NISHIJIMA/NETFLIX

“Halston” pode sofrer como uma obra de nicho. A série é muito mais interessante para os interessados no mundo da moda ou do design de produtos - pode funcionar também para fãs de Ryan Murphy, pois traz temáticas sempre presentes no universo do cineasta, assim como o impecável senso de estética. Ao resto, porém, resta o personagem que pode não despertar tanta simpatia.

Com todos os episódios dirigidos por Daniel Minahan, diretor com experiência em séries e que já trabalhou previamente com Murphy, “Halston” não oferece ao público médio um motivo de continuar assistindo aos episódios. Assim, um conhecimento prévio de quem foi Roy Halston e sobre como foi sua vida é interessante para entender de fato o que estamos vendo. A série ganha mais ritmo quando as drogas e as festas se tornam um problema para o estilista, mas é quando também caminha para o fim.

O Halston de Ewan McGregor parece sempre caminhar sobre a linha que separa a doideira (drogas, sexo com estranhos, egocentrismo) da genialidade. As drogas, as festas e os homens suprem a carência imediata do estilista, mas nunca o vazio. McGregor encontra um tom para viver o protagonista, com uma afetação no limite do caricato e um mix de sarcasmo e arrogância que marcaram a carreira do biografado - basta buscar alguns vídeos de Halston no YouTube para perceber.

“Halston”, a série, é uma boa cinebiografia para Halston, o homem, com tudo de bom e ruim que as biografias oferecem. Trata-se de um atropelado estudo de personagem que devolve o nome do estilista à pessoa ao se preocupar muito mais com as relações humanas do biografado do que com seus feitos profissionais. 

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