Crítico de cinema e séries, Rafael Braz é jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Em 3ª temporada, "Lupin" encanta e envolve com simplicidade

Omar Sy está de volta à Netflix como o charmoso ladrão Assane Diop, de "Lupin". Série continua divertida e simples, mesmo com golpes cada vez mais grandiosos

Vitória
Publicado em 05/10/2023 às 01h28
Terceira temporada da série
Terceira temporada da série "Lupin", da Netflix. Crédito: Emmanuel Guimier/Netflix

Lá se vão mais de dois anos desde a última vez que vimos Assane Diop (Omar Sy), ladrão que, com sua devoção ao “ladrão gentil” Arsène Lupin, conquistou o mundo dentro e fora das telas. A primeira temporada (ou “parte”, como os produtores preferem) estreou em janeiro de 2021, apenas seis meses antes da segunda – para a sorte da produção, apesar das restrições da pandemia, as duas partes haviam sido filmadas juntas, o que possibilitou tal agilidade.

A terceira parte chega à Netflix nesta quinta (5) com a missão de ampliar o escopo da série, hoje um grande sucesso da plataforma. Na nova temporada, Lupin ainda vive as consequências de seus golpes anteriores; longe de Claire (Ludivine Sagnier) e Raoul (Etan Simon), ele decide ser hora de deixar a França para começar a vida longe das confusões que o perseguem desde a infância.

A série passeia por cidades e épocas, tem início em Paris, 2017, no único roubo que Assane não conseguiu completar. Logo vamos para Marselha, antes de voltamos para a capital francesa e reencontrarmos Claire e Raoul, que têm sido muito incomodados com assédio de imprensa e interrogatórios policiais sobre Assane. Desde seu sumiço, o ladrão se tornou admirado pelo povo francês, um herói nacional, um Robin Hood que não devolve aos pobres, mas os vinga.

“Lupin” obviamente continua “Lupin”, com seus defeitos e qualidades. Os golpes são criativos e a temporada já começa em grande estilo, com um roubo elaborado e quase lúdico. É muito interessante como o texto consegue fazer com que tudo seja “simples”, como se não fosse impossível de ser executado – para isso funcionar, a série já destacou várias vezes o talento de Assane Diop e a inventividade de Arsène Lupin.

Terceira temporada da série
Terceira temporada da série "Lupin", da Netflix. Crédito: Emmanuel Guimier/Netflix

Nada disso seria possível sem o carisma de Omar Sy. O ator francês imprime assinatura ao protagonista, como se hoje ele já fosse alguém que o público já conhece, um velho amigo, e conta com um bom texto para desenvolver uma personalidade, da invejável coleção de tênis Nike Air Jordan à constante luta por justiça do personagem.

Em contrapartida, como em quase todas as obras de assaltos, o roteiro abusa do didatismo para explicar exatamente o que aconteceu a cada instante. Nada é deixado sem explicação, das trapaças mais simples aos truques mais complexos. Assim, se Diop desamarra os cadarços de um policial durante uma fuga, a série logo depois mostra um flashback detalhado de cada corda puxada por ele. A situação citada por este texto é fictícia, até para não revelar nenhum dos muitos detalhes da série, mas seria facilmente encaixada em alguma cena de “Lupin”.

Terceira temporada da série
Terceira temporada da série "Lupin", da Netflix. Crédito: Emmanuel Guimier/Netflix

Os constantes flashbacks, direto para a Copa de 1998 (vencida pela França contra o Brasil na final), tiram o foco da série do que realmente importa. O roteiro os usa como muletas para conferir profundidade a Assane, justificar todas suas escolhas e seus comportamentos, mas também para introduzir alguns novos personagens relevantes. Tudo se conecta com perfeição, mas ao custo de uma quebra de ritmo da narrativa principal.

Tal qual nos livros com as aventuras de Arsène Lupin, escritos por Maurice LeBlanc, “Lupin” traz alguns conflitos curtos em um arco principal que se desenvolve com mais cadência. Diferente das temporadas anteriores, porém, a terceira parte da série é maior, com sete episódios e uma trama principal que se apresenta aos poucos. A mudança, mesmo que tire um pouco do aspecto de diversão curta da série, é bem-vinda, dando mais possibilidades narrativas e tramas que não se atropelam.

Terceira temporada da série
Terceira temporada da série "Lupin", da Netflix. Crédito: Thibault Grabherr/Netflix

Os novos episódios contam com alguns novos personagens, mas também trazem de volta o policial Guedirá (Soufiane Guerrab), com papel essencial no roteiro, e o eterno parceiro de Assane, Benjamin Ferel (Antoine Gouy), além, claro, de Claire e Raoul. A novidade funciona, mas o ar de “já vi isso antes” vem gradualmente surgindo na série. Até quando, afinal, Assane Diop continuará com seus golpes? Será essa a última temporada de "Lupin"? A terceira parte ensaia uma resposta, até em sua campanha de divulgação, e parece rumar para uma conclusão, mas, como nos livros, um gancho sempre possibilita novas aventuras.

“Lupin” continua divertida, ágil e carregada de uma ingenuidade que precisa ser “comprada” pelo espectador. Sim, precisamos acreditar que tudo aquilo é possível, que todos os disfarces de Assane o tornam irreconhecível e que todos acreditam em sua irresistível lábia. Essa ingenuidade é uma das principais marcas da série e talvez o que torne seu consumo tão fácil.

Terceira temporada da série
Terceira temporada da série "Lupin", da Netflix. Crédito: Emmanuel Guimier/Netflix

“Lupin” é simples, é uma história familiar com a qual todos podem se relacionar. Mesmo nos golpes mais complexos, a série não reinventa a roda, não depende de computação gráfica ou de viradas impactantes que subestimam a inteligência do espectador, ela apenas pede que o público relaxe e se deixe conduzir por seu encanto.

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