Colunista de Esportes

Futebol reforça comportamento racista da sociedade. É preciso dar um basta

Composto por pessoas de todas as esferas sociais, o esporte reflete o que todos trazem em suas formações de caráter e personalidade. Logo, o preconceito enraizado também se manifesta nos gramados e nas arquibancadas

Publicado em 16/11/2019 às 05h00
Atualizado em 16/11/2019 às 05h02
Nesta edição do Brasileirão, os técnicos Roger (Bahia) e Marcão (Fluminense) vestiram a camisa da luta contra o racismo. Crédito: Mailson Santana/Fluminense FC
Nesta edição do Brasileirão, os técnicos Roger (Bahia) e Marcão (Fluminense) vestiram a camisa da luta contra o racismo. Crédito: Mailson Santana/Fluminense FC

O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro (próxima quarta-feira), é um dia de luta, e não de comemoração. Em pleno 2019 ainda se faz necessário ter uma data específica para a sociedade lembrar do combate ao racismo, da desigualdade de tratamento social e da busca por direitos iguais. Direitos estes que são garantidos por lei, mas negados por uma sociedade preconceituosa. Bom que ainda exista um tempo para levantar a discussão, assim muitos podem repensar algum comportamento.  

E o que isso tem a ver com o futebol? Tudo! Composto por pessoas de todas as esferas sociais, o esporte reflete o que todos trazem em suas formações de caráter e personalidade. Logo, o preconceito enraizado também se manifesta nos gramados e nas arquibancadas.  Neste mês, que era para ser marcado por ações para valorizar os negros, infelizmente vimos atitudes intoleráveis. No clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG, disputado no Mineirão, no último domingo (10), torcedores do Galo discutiram com os seguranças. Um desses atleticanos gritou para um dos seguranças: "Olha a sua cor", com o nítido intuito de inferiorizar o profissional pelo fato de ele ser negro. Lamentável.

Pior é saber que esse tipo de situação acontece frequentemente no contexto do futebol brasileiro. Quando saímos da arquibancada e vamos para o gramado, os números são implacáveis. Um levantamento recente do Globoesporte.com apontou que 48,1% dos jogadores negros que atuam nas Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro relataram que já foram vítimas de racismo no futebol. Ao observarmos cargos de comando ou gestão o cenário é ainda mais fechado. Tanto que nesta edição do Brasileirão, os técnicos Roger (Bahia) e Marcão (Fluminense) vestiram a camisa da luta contra o racismo na partida entre os clubes. Eles são os únicos técnicos negros na elite do futebol brasileiro. Apenas dois em um universo de 20 treinadores. Roger foi categórico ao lembrar que a injúria não é a única forma de racismo. 

Torcedor do Atlético-MG foi racista com um segurança do Mineirão. Crédito: Reprodução de Internet
Torcedor do Atlético-MG foi racista com um segurança do Mineirão. Crédito: Reprodução de Internet

"Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol, é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: “Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui”. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui", afirmou o técnico do Bahia.    

Como aqui estamos falando de Brasil, não vamos nem entrar nos casos que acontecem com os negros no futebol europeu, que mostram que o racismo não é um problema exclusivo dos brasileiros. Melhor sonhar que um dia esse problema possa acabar. Desejar que o dia 20 de novembro possa ser vivenciado em sua essência, que a sociedade reflita sobre suas atitudes e seja cada vez menos racista, até extinguir esse preconceito.

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