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“Minha vida foi difícil, mas Deus nunca me desamparou. Tenho cicatrizes, mas estou com quem amo”

A berçarista de 54 anos, moradora de Ibiraçu, conta como a fé a ajudou a superar um acidente que quase a deixou numa cadeira de rodas

Publicado em 09/04/2020 às 23h28
Atualizado em 10/04/2020 às 10h05
Feliz, Mércia tem orgulho de sua história de superação
Feliz, Mércia tem orgulho de sua história de superação. Crédito: Arquivo pessoal

O nome dela é Helena Mercês Locateli Sirtoli, tem 54 anos e trabalha como berçarista. O apelido é Mércia, mas também poderia ser milagre. Mércia foi atropelada há quase 24 anos, quase ficou sem andar e teve os dedos do pé direito amputados. Hoje, afirma que Deus nunca a desamparou.

“Hoje tenho algumas cicatrizes. Antes do acidente não tinha nenhuma. Mas toda vez que olho pra elas me lembro de quanto Deus foi bom pra mim. Tenho cicatrizes mas estou com quem amo. Pude ver eles cresceram, constituir família e educá-los para que se tornassem gente de bem.”, diz a moradora de Ibiraçu, no Norte do Estado. Mércia contou sua história de superação. Vem contar a sua também! Conheça a história dela e se inspire:

“No dia 11 de junho de 1996, fui atropelada por um caminhão que transporta combustível, na minha rua. O motorista é filho do meu vizinho e sempre saía da rota e ia na casa do pai almoçar. Nesse dia meu cunhado veio a minha casa como ele fazia toda vez que tinha carga pra Vitória.

Na hora de ir embora, era mais ou menos 11 horas, ele me chamou pra ir no caminhão dele pegar mamão. Eu desci com ele, ficamos conversando, junto com um primo do meu marido. Essa foi minha última lembrança daquele dia. Meu relato é só o que me contaram.

Meu cunhado que estava comigo disse que o caminhão desceu o morro sem freio e veio pra cima da gente. Ele disse que gritou, mas não teve tempo de me pegar. Ele estava na parte de cima do asfalto eu e o primo do meu marido na parte de baixo.

Na parte onde eu estava tinha um contêiner grande de lixo. Segundo testemunhas, o caminhão bateu nesse contêiner e esse contêiner bateu em mim, me jogou debaixo do caminhão do meu cunhado. O lixo caiu todo em cima de mim. Tinha lixo de todo o tipo, já com larvas.

Perdi massa das pernas e meus dedos de um dos pés foram esmagados. Tinha um corte no ânus, por isso precisei de colostomia para evitar mais infecção além das que eu já tinha nas pernas.

Segundo o médico, por causa dos bichos do lixo, eu já cheguei ao hospital com infecção. O diagnóstico dos médicos era de que eu precisaria amputar os dedos, por causa da infecção nos ossos.

Minha irmã, que é enfermeira e que sempre estava comigo, era contra a amputação. Mas eu não tive dúvidas: pedi que cortassem logo, antes que minha situação ficasse pior. Tive os cinco dedos do pé direito amputados. Fiquei mais ou menos seis meses no Hospital da Polícia Militar, onde na época estava funcionando o Hospital São Lucas.

Eu só pensava no meu marido e nos meus filhos. Fui abençoada com dois anjos: Bruno, que na época tinha nove anos, e Franciane, que tinha cinco. Tinha muito medo do que seria dos meus filhos se eu partisse. Mas nunca deixei de acreditar em Deus e Nossa Senhora. Todo dia entregava minha vida e rezava muito. Foi difícil, mas eu venci.

Queria muito ver meus filhos adultos, formados. Alcancei meu sonho. Hoje, meu filho se formou em Engenharia Química, é professor e mestre em Matemática. Minha filha é advogada e também compositora. São bênçãos na minha vida. Graças a Deus, estive presente no casamento do meu filho. Não tenho como agradecer a Deus por ele ter ouvido minhas preces.

Meus filhos sofreram muito com a minha ausência, pois fiquei fora de casa quase um ano. E no dia 4 de março do mesmo ano que eu fui atropelada, eles haviam perdido a avó, minha sogra, que morava conosco e fazia tudo por eles. Tantas perdas foram muito difíceis pra eles, que eram crianças.

Não tínhamos parentes na minha cidade. Minha mãe já tinha falecido. Eu dependia das minhas irmãs que moram em Vitória e Vila Velha pra me ajudar no hospital. Contei com a ajuda dos vizinhos que faziam tudo por eles. Meu marido ia dia sim dia não me ver, minha irmã levava fotos deles pra matar minhas saudades.

Quando saí do hospital, em Vitória, fui pra Vila Velha na casa da minha irmã. Precisava de fisioterapia e na casa dela era mais fácil. Os médicos diziam que seria muito difícil eu andar novamente. Mas nunca duvidei do poder de Deus. Eu sempre dizia que tinha dois filhos pra criar e que ia conseguir. E com ajuda Deus, em primeiro lugar, e de todos, eu venci.

Memórias de Mércia

Mércia com o marido e os dois filhos
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Mércia, ainda na cadeira de rodas, junto com a irmã
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Mércia com o marido no hospital
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Cicatrizes deixadas pelo acidente
Cicatrizes deixadas pelo acidente. Arquivo pessoal
Cicatrizes deixadas pelo acidente
Cicatrizes deixadas pelo acidente
Cicatrizes deixadas pelo acidente
Cicatrizes deixadas pelo acidente

Digo sempre que faço aniversário duas vezes no ano - dia 11 de dezembro, data do meu nascimento, e 11 de junho, dia em que tive uma nova chance quando Deus me permitiu viver de novo. Sei que tudo na minha vida tem um propósito. Deus me permitiu passar por tudo isso para hoje estarmos juntos passando por essa calamidade do coronavírus. Tenho fé que passaremos por isso. E que ainda vou ver meus netos.

Minha vida foi difícil sim, mas Deus nunca me desamparou. Hoje tenho algumas cicatrizes, antes do acidente não tinha nenhuma. Mas toda vez que olho pra elas me lembro de quanto Deus foi bom pra mim. Tenho cicatrizes mas estou com quem amo. Pude ver eles cresceram, constituir família e educa-los para que se tornassem gente de bem."

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