É graduado em Direito pela Ufes e assessor jurídico do Ministério Público Federal (MPF)

Bolsonaro exagera e não mostra interesse em desvendar crime de Marielle

É inadmissível num Estado Democrático de Direito que o chefe do Executivo use a máquina pública para defender interesses pessoais e familiares. É preocupante a escalada autoritária do atual governo

Publicado em 01/11/2019 às 05h00
Atualizado em 01/11/2019 às 05h01
Ex-vereadora Marielle Franco. Crédito: O Globo/Reprodução
Ex-vereadora Marielle Franco. Crédito: O Globo/Reprodução

Quem mandou matar Marielle Franco? É a pergunta que não se cala nem foi respondida desde o assassinato da vereadora. Apesar de os suspeitos da execução do crime terem sido presos, ainda há um cenário nebuloso quanto às reais motivações desse crime tão brutal e, principalmente, quanto ao nome do verdadeiro mandante da execução.

Improvável não é que Marielle tenha sido assassinada em função de sua intensa atuação política, que vinha incomodando setores muito perigosos e poderosos no Rio de Janeiro. A vereadora, morta a tiros junto a seu motorista, Anderson Gomes, era importante defensora dos direitos humanos, criticava de maneira contundente a intervenção federal no Estado e denunciou uma série de crimes e abusos de autoridade cometidos pelas forças militares contra moradores de comunidades carentes.

Marielle ainda se destacou por sua postura investigativa contra as milícias que tomam conta do Rio de Janeiro uma espécie de poder paralelo ao Estado que amedronta as comunidades e, ao lado do tráfico de drogas e de armas, ocupa espaços que o Poder Público deixou descobertos.

Nos últimos dias repercutiu o depoimento dado pelo porteiro do condomínio onde mora um dos suspeitos da execução do crime, Ronnie Lessa. Segundo o porteiro, o segundo suspeito da execução, Élcio de Queiroz, teria entrado no condomínio, em direção à casa de Ronnie Lessa com a autorização do “senhor Jair”, em alusão ao presidente Jair Bolsonaro, que mora no mesmo condomínio e, inclusive, mantém relações com os acusados da execução de Marielle e Anderson Gomes, além de flertar e homenagear milicianos.

O que mais chamou atenção, entretanto, foi a reação desproporcional do presidente Bolsonaro, que, num gesto de ira incompatível com a dignidade do cargo que ocupa, aos brados, ameaçou restringir a atividade jornalística e não renovar a concessão da Rede Globo de Televisão, numa clara confusão entre as esferas particular (do cidadão Jair Bolsonaro) e a pública (do presidente da República). O presidente, em tom intimidatório, ainda determinou à Polícia Federal que inquirisse porteiro do condomínio. Por que uma pessoa simples decidiria mentir para prejudicar o presidente da República e colocar sua própria vida em risco ao se pôr no caminho de milicianos?

É inadmissível num Estado Democrático de Direito que o chefe do Executivo use a máquina pública para defender interesses pessoais e familiares. É preocupante a escalada autoritária do atual governo e, ainda mais que isso, é assustador que o presidente da República não tenha interesse em desvendar um crime que atenta contra toda a democracia e não apenas contra uma adversária política dele e de seu grupo. Como diz o ditado popular: “quem não deve, não teme”. O Brasil e o mundo aguardam que seja respondida a pergunta: quem mandou matar Marielle?

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