É psicóloga, psicanalista, entusiasta da maternidade, paternidade e mestre em Saúde Coletiva. Escreve sobre os bebês, as emoções, os comportamentos, os conflitos e dilemas contemporâneos do tornar-se família

As férias servem para inserir as crianças no mundo real

Eu sempre tive um pensamento muito prático sobre as férias escolares. Trata-se de um tempo em que a criança guardará para si, o tempo que outrora era preenchido na escola

Publicado em 19/01/2024 às 07h00
Férias escolares
Trata-se de um tempo em que a criança guardará para si. Crédito: Shutterstock

Desde início de dezembro se tudo correu bem, seus filhos, assim como os meus, estão de férias. Esse período em que as crianças não têm o compromisso de ir à escola é extremamente desafiador para os pais.

Se você, assim como eu e a grande maioria de famílias, não conseguir conciliar o recesso escolar e as férias no trabalho, ou até mesmo se você é profissional autônomo, esses desafios se multiplicam, não é mesmo?!

Uma mãe me confidencia que tem ficado muito angustiada, pois não consegue ocupar seus filhos. Na sua fantasia, as crianças de férias 'merecem' se divertir. Bem, mas convenhamos, viver não é só diversão.

Eu sempre tive um pensamento muito prático sobre as férias escolares. Trata-se de um tempo em que a criança guardará para si, o tempo que outrora era preenchido na escola. Outra mãe me conta muito orgulhosa que seu filho mais velho preparou o almoço para si e para o irmão, pois ela não conseguira chegar a tempo para acompanhá-los na refeição.

Em que outro momento as crianças conseguem adquirir autonomia se não com tempo livre e de sobra? Aqui estamos falando de crianças já grandinhas. As menores precisam sim da companhia de adultos responsáveis.

Eu perguntei no Instagram como as famílias estavam lidando com as férias e as respostas são muito interessantes. Quem tem família ampliada, que mora por perto, confiou as crianças aos avós e tios. Que experiência interessante poder conviver com outras gerações.

Outra pessoa que mora em um condomínio contou que o grupo de mães fez um rodízio com as crianças. A creche entre vizinhos funcionou muito bem. Enquanto eu trabalhava no Sistema Único de Saúde (SUS) ouvia o quanto a rede de conexão entre as vizinhas era fundamental às mulheres das classes sociais mais pobres. Já outra família me contou que a sua criança foi com os pais para o trabalho, com direito à 'salário e tudo'. Não é incomum ver essa cena. E simbolicamente é valorosa para a criança, resguardada é claro a proteção legal de sua integridade física e psíquica.

Cada família à sua maneira encontrará uma forma de inserir a criança no cotidiano que fica ocultado, uma vez que elas são destinadas à escola. As férias servem, portanto, para inserir as crianças no mundo real. Que tal compartilhar do mercado, as crianças são seres muito solidários e adoram saber que ajudam. Fazer a comida no final do dia, vale até pipoca, de panela, claro.

Sessão de cinema em casa com os pais também vale. Principalmente se forem aqueles filmes antigos que papai e mamãe assistiam nas próprias férias. Vivemos em tempo em que o ter é hipervalorizado, mas com relação à infância, a criança é muito mais ávida pela companhia dos pais, sua presença física, seus interesses compartilhados, do que os bem, os objetos que podem receber em suplência à ausência dessas figuras fundamentais no desenvolvimento humano dos filhos.

Portanto, utilizem desse tempo em conjunto para permitirem que suas crianças conheçam um pouco mais de suas rotinas e integrem os ambientes sociais ampliados, pois durante todo o ano elas ficam apartadas desses espaços, invisibilizadas. Nas férias escolares, o já para a rua é urgente. Que tal ocupar os parques e as praças?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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