Jornalista de A Gazeta. Há 10 anos acompanha a cobertura de Economia. É colunista desde 2018 e traz neste espaço informações e análises sobre a cena econômica.

Os acertos e o deslize de Casagrande na criação de estatal ES Gás

Formação da equipe é bem avaliada pelo mercado

Publicado em 16/07/2019 às 23h47
Renato Casagrande é governador do ES. Crédito: Helio Filho/Secom-ES
Renato Casagrande é governador do ES. Crédito: Helio Filho/Secom-ES

A semana começou com o governo do Estado precisando partir para um plano no B na formação da ES Gás. Depois de o governador Renato Casagrande (PSB) anunciar no dia 5 de julho o engenheiro Eugenio Mamede para a presidência da nova estatal, na última segunda-feira, o socialista trouxe um novo nome para comandar a companhia de gás: o do atual secretário de Desenvolvimento, Heber Resende.

Além dele, foram divulgados quatro membros do conselho de Administração – Márcio Félix, Guilherme Dias, Luiz Claudio Nogueira de Souza e Durval Vieira – e dois do Fiscal - Ricardo Ferraço e Luiz Henrique Miguel Pavan. Faltam ainda outros quatro integrantes, que serão indicados pela sócia do governo capixaba, a BR Distribuidora.

Sobre o tema, vou tratá-lo na coluna de hoje sob duas perspectivas que envolvem: 1) o time escolhido por Casagrande e 2) os bastidores da reviravolta envolvendo a presidência da empresa.

1) Equipe de ouro

Os escolhidos para o Conselho de Administração foram só elogios entre especialistas, lideranças e empresários ouvidos pela coluna. A percepção geral é de que o governador conseguiu montar um time forte, qualificado e com pessoas que misturam perfis com grande capacidade técnica, de relacionamento, análise e visão de desenvolvimento.

Márcio Félix, funcionário de carreira da Petrobras, é hoje o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia e acompanha de perto a formulação do novo Mercado de Gás. Tê-lo no conselho é aproximar as decisões que serão tomadas pela estatal capixaba das premissas mais modernas que estão sendo desenhadas no âmbito nacional.

Durval Vieira atua junto ao Fórum Capixaba de Petróleo e Gás desde agosto de 2017. Nesse período, tem feito um importante trabalho de aproximação das empresas do Estado com as gigantes dessa indústria, apresentando o ES para o mundo. Aliás, essa é uma marca do engenheiro que, na sua trajetória profissional, sempre atuou estimulando o desenvolvimento de mão de obra e cadeias de fornecedores locais.

Guilherme Dias já foi ministro do Planejamento no governo de Fernando Henrique Cardoso, atuou como secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo, além de já ter sido conselheiro de grandes companhias, como a Petrobras e a Eletrobras.

Luiz Claudio Nogueira é auditor fiscal e assessor especial do Nupetro (Núcleo de Petróleo e Gás) da Secretaria da Fazenda. Ele foi uma das peças-chave para o Espírito Santo identificar que poderia aumentar a arrecadação com Participações Especiais e ter sucesso no acordo envolvendo a unificação dos campos de petróleo do Parque das Baleias.

O Conselho Fiscal também foi bem recebido pelo mercado capixaba, mas de alguma maneira causou surpresa o nome de Ricardo Ferraço (PSDB), que é muito mais conhecido e associado à sua trajetória política do que às suas qualificações técnicas de economista.

O que circula nos bastidores é que o ex-senador se enquadraria melhor, na visão do governo, no Conselho de Administração. Mas como a legislação que criou a ES Gás segue as diretrizes de governança da Lei das Estatais, Ferraço esbarraria em algumas restrições, como ter vínculo com partido político nos últimos 36 meses, ponto que não é um limitador para o cargo de conselheiro fiscal.

Mesmo sem tanta identidade com a área fiscal, fontes consideraram que o bom trânsito que Ferraço tem nos meios empresarial e político contam pontos a seu favor. A aproximação dele com investidores do mercado financeiro também é citada como uma vantagem. “Ricardo Ferraço é uma pessoa muito inteligente e sempre se cercou de bons técnicos. Mesmo a função parecendo inusitada para ele assumir, acredito que ele dá conta”, declarou uma fonte.

Com boas referências profissionais, o procurador do Estado, Luiz Henrique Pavan, completa a equipe indicada por Casagrande.

2) A recusa

A desistência do executivo Eugenio Mamede para ocupar o cargo máximo da ES Gás está ligada a decisões pessoais, como foi divulgado pelo governo do Estado, mas tem um quê de afobamento na divulgação do seu nome para o cargo. Mamede, que é visto como um profissional com grandes habilidades de gestão e com um foco muito voltado para os resultados, não teria dado uma resposta definitiva à Casagrande quando o governador tornou público o nome do engenheiro.

Nos bastidores, fontes dizem que ele foi pego de surpresa com a repercussão. Assim, não é que ele teria mudado de ideia na última segunda-feira e desistido do desafio em tão pouco tempo, e sim que ele não tinha aceitado o cargo até então. A análise que é feita entre quem acompanha o processo de formação da ES Gás é que Casagrande pode ter se precipitado (de modo pensado e estratégico) ao contar à imprensa sobre a sua escolha.

“Seria uma maneira de pressionar sutilmente o executivo a aceitar o convite. O Mamede é um profissional muito bem avaliado e remunerado no mercado e tem um perfil muito ligado à iniciativa privada. Algumas pessoas estavam duvidando que ele toparia assumir o cargo, já que teria que lidar com a influência política, natural de uma companhia estatal. O perfil dele sempre foi de ter liberdade para trabalhar. Ele poderia se sentir acuado”, revelou uma fonte. Procurado pela coluna, Eugenio Mamede preferiu não se manifestar.

Não é a primeira vez neste mandato que Casagrande divulga nomes para cargos estratégicos dentro do governo que acabaram não vingando. Por motivos diferentes, tiveram os casos de: Vasco Gonçalves, no Banestes; Alcio de Araujo, na Cesan; e Angelo Baptista, no Bandes.

No lugar de Mamede, Casagrande foi rápido e trouxe logo uma solução: a escolha de Heber Resende. Aliás, esse rearranjo faz parte de uma outra estratégia do governador. Mas isso fica para a próxima coluna.

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