E engenheiro de producao cronista e colhereiro

Ao entrar no hospital, decidi que seria um paciente exemplar

Na falta do que fazer, passei a prestar atenção nas sobrancelhas das enfermeiras. Muitas delas optaram por desenhos discretos, enquanto outras adotaram uma solução radical

Publicado em 06/08/2019 às 15h09
 . Crédito: Amarildo
. Crédito: Amarildo

Estive fora do ar por mais de trinta dias, a ponto de não conseguir mandar duas crônicas para os editores deste jornal. Preocupei muita gente, mas ganhei uma torcida atenta e carinhosa.

>O dia em que perdi a chance com uma morena por ouvir um amigo

A maior parte desse tempo passei às voltas com exames, clínicas e médicos por conta de incômodos provenientes do funcionamento imperfeito dos intestinos. Os demais dias foram vividos no hospital, sendo a metade deles dedicados à investigação da natureza e da extensão de algo diagnosticado inicialmente como sendo uma diverticulite. Sob demandas de um anjo da guarda de jaleco, novos exames deram o caminho das pedras para que o cirurgião fizesse seu trabalho.

Já deitado na maca, ao informar à enfermeira quem iria me operar, recebi dela um comentário efusivo e altamente tranquilizador para quem está a caminho do centro cirúrgico: “Ai, que bom! Esse doutor faz operações maravilhosas!”. Dito e feito. Saí de lá sem um pedaço das tripas e livre de uma tal bolsa externa. O sorriso e a segurança do cirurgião fizeram com que os cinco dias de risco de uma eventual complicação, e todos os demais, corressem sem qualquer preocupação.

Ao entrar no hospital decidi que seria um paciente exemplar, desses que têm paciência e boa disposição para enfrentar a tiração sistemática de sangue, a medição da temperatura, da pressão e da glicose, a aplicação de injeções para evitar coágulos, a tomação, com hora marcada, de remédios líquidos e em pílulas, sem contar a fazeção de exercícios para fortalecer os pulmões e o incômodo de ficar preso a um porta-frasco de soro e de antibiótico difícil de empurrar de um lado para outro.

Na falta do que fazer, passei a prestar atenção nas sobrancelhas das enfermeiras. Muitas delas optaram por desenhos discretos, enquanto outras, talvez as mais entusiasmadas, adotaram uma solução chamativa e radical: uma sobrancelha que começa com uma reta vertical próxima ao nariz, com espessura bem larga que vai afinando, em curva, em direção à orelha. Fiquei com a impressão de que todas elas estão usando esse truque para se fazerem mais charmosas.

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