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Inovação: "curva de esquecimento é mais importante que a de aprendizado", diz professor

O professor Romeo Busarello, um dos maiores estudiosos de inovação e ambientes digitais do Brasil, afirma que o país, apesar das enormes dificuldades, tem um bom horizonte

Publicado em 26/11/2022 às 03h59
O professor Romeo Busarello fez palestra em Vitória
O professor Romeo Busarello fez palestra em Vitória. Crédito: Divulgação/Sebrae

Professor de instituições como ESPM, Insper, Fia e Startse, investidor e palestrante, Romeo Busarello é um dos maiores especialistas em inovação e ambientes digitais do país. Ele passou por Vitória esta semana para participar do Startup Experience, organizado pelo Sebrae Espírito Santo. Ao final da palestra, ele abriu o evento, ficou mais de meia hora fazendo fotos e sendo abordado pelos participantes. "Gosto de conversar com todo mundo, faz parte do processo de aprendizagem e crescimento".

Em entrevista para a coluna, Busarello disse que os temas inovação e ambiente digital precisam estar na agenda de todos, sob pena de você ficar obsoleto muito em breve (se é que já não está). O Brasil, na visão dele, é um terreno fértil para novas ideias, projetos e, consequentemente, bons negócios. "O Brasil é um país que tem muita bucha (problema), e onde tem bucha tem negócio".

O grande entrave está na qualificação. Embora tenha casos de sucesso, o gargalo educacional brasileiro é um grande entrave para a inovação decolar por aqui. "A conta da educação chegou no Brasil. Não temos a quantidade de pessoas que o país precisa para dar um grande salto de inovação". 

Como o senhor está vendo o cenário da inovação no Brasil?

A conta da educação chegou no Brasil. Não temos a quantidade de pessoas que o país precisa para dar um grande salto de inovação. Temos grandes iniciativas, vide a quantidade de unicórnios (startups que atingem o valor US$ 1 bi antes de chegarem à Bolsa) que surgiram nos últimos anos, mas temos potencial para muito mais. O Brasil é um país que tem muita bucha (problema), e onde tem bucha tem negócios. Temos gente muito boa, do mesmo nível dos melhores do mundo, o problema é que não temos na quantidade necessária.

Como fazer para resolver isso?

Público e privado precisam trabalhar em conjunto. O que tenho observado muito é que empresas viraram escolas e escolas viraram empresas. As empresas cada vez mais estão formando seus profissionais. Um profissional certificado em um curso de Marketing Cloud da SalesForce (fornecedora de software e serviços de automação e análise de marketing digital) ou algum curso de programação da Microsoft está valendo mais que um indivíduo que fez quatro anos de faculdade...

Este é um profissional que já está no mercado. E quem ainda não está? O que deve fazer? Que dica o senhor dá para essa garotada?

Tenha fome. Tenha muita vontade. Eu gosto muito de recitar Adélia Prado (escritora mineira): "não quero faca, não quero queijo. Eu quero fome". É muita oportunidade e as empresas estão contratando coração. As empresas querem proatividade, determinação, querem pessoas que vão além do combinado, que buscam conhecimento além da sala de aula, pessoas que têm vontade de fazer... É isso que eu chamo de coração. As escolas não estão formando o profissional que o mercado quer, o profissional não está chegando pronto, mas, se você tem coração, as empresas vão te querer. Querem o profissional com fome. Outra coisa, aí vale para qualquer um, tem muita informação de qualidade na internet, muitos cursos online a custo muito baixo. Você faz um curso bacana, hoje, com R$ 70. O que não existe mais é esse negócio de ex-aluno. Agora você é um aluno recorrente, sempre aprendendo. É o que chamo de 'coração de estagiário'. Importante frisar que temos graves problemas sociais no Brasil e isso é complicado demais em todos os contextos que você imaginar. Nós dois somos privilegiados, é fácil falar em ter fome no sentido de ter vontade. Mas é difícil você querer que o indivíduo acorde cedo, com vontade, se 55% da população brasileira sofre com algum tipo de insegurança alimentar. Você consegue produzir uma boa reportagem, às 15h, se você não almoçou e tomou café da manhã? Muitas vezes não temos essa sensibilidade porque vivemos em uma bolha, mas 55% da nossa população têm algum nível de insegurança alimentar. Isso é muito grave e limitante. 

Romeo Busarello

Professor e palestrante

"Muitas vezes não temos essa sensibilidade porque vivemos em uma bolha, mas 55% da nossa população têm algum nível de insegurança alimentar. Isso é muito grave e limitante. "

E nas empresas tradicionais? Como trazer o processo de inovação para dentro delas?

Hoje, a curva de esquecimento é mais importante do que a curva de aprendizado. Essas empresas precisam de uma refundação, para mudar a mente de seus executivos e executivas. Aliás, todos nós precisamos ser refundados. Acho que eu sou um bom exemplo. Tenho 56 anos, tive de contratar uma professora de masculinidade tóxica para me ajudar na minha refundação. Carrego muitos julgamentos, muitos vieses e muitos preconceitos típicos de um homem de 56 anos. Esse tipo de postura que eu tinha não cabe mais. Eu não vou ser um bom pai, um bom marido, um bom professor, um bom palestrante, um bom líder se eu usar mapas antigos para caminhos novos.

O senhor fala muito que temos de estar sempre de olho nos dados e na geração de conteúdo. Por quê?

Conteúdo é vendas e vendas é conteúdo. Dados é tudo e tudo é dados. Quando você escreve um texto, você já tem um embasamento em cima de dados. Foram quantos cliques? Quantas visualizações? Quantos compartilhamentos? Quantos comentários? É um conteúdo que é rastreado pelos dados. Isso tudo para dizer que o conteúdo é rei, mas o contexto é Deus. Você tem que saber criar conteúdo com contexto, que, por sua vez, vai gerar dado e este dado vai te ajudar a tomar algum tipo de ação. Não estamos letrados ainda, precisamos ser letrados em dados e conteúdos.

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