Publicado em 10 de julho de 2022 às 17:00
Conteúdo investigado: Vídeo publicado por um médico no Instagram questiona a segurança das vacinas contra a covid-19 e afirma que pessoas estão adoecendo após receberem os imunizantes. O médico também atribui casos de herpes-zóster e câncer aos imunizantes. >
Onde foi publicado: Instagram>
Conclusão do Comprova: Diferentemente do que afirma médico em vídeo publicado no Instagram, é falso que as vacinas contra a covid-19 causem câncer e outras doenças respiratórias. Segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, também não há nenhuma comprovação científica ligando casos de herpes-zóster aos imunizantes.>
A Anvisa confirmou que, até o momento, não há qualquer evidência sobre a relação de herpes-zóster com o uso das vacinas contra covid. A agência não recebeu notificações de eventos adversos relacionados a essas doenças.>
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De acordo com a Anvisa, todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos, e seguem sendo monitoradas. Também segundo o órgão, até o momento, o monitoramento das vacinas não aponta alterações no perfil de segurança das doses aplicadas na população brasileira, independentemente de serem doses do esquema primário ou de reforço.>
Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.>
Alcance da publicação: Até o dia 8 de julho, a publicação teve 63.718 visualizações e 1.071 comentários no Instagram.>
O que diz o autor da publicação: Por meio de mensagem no Instagram, o Comprova entrou em contato com o médico Leandro Almeida, autor da publicação, mas não obteve resposta aos questionamentos feitos.>
Como verificamos: Foram feitas pesquisas por dados e informações em fontes oficiais, como o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).>
Para esclarecer as questões sobre as vacinas contra a covid, entramos em contato com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e com Anamélia Lorenzetti Bocca, especialista em imunologia celular pela Universidade de Brasília (UnB). Também entramos em contato com a Anvisa.>
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de julho de 2022.>
Para o Comprova, a Anvisa afirmou que todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos e que seguem sendo monitoradas. De acordo com a OMS, uma vez identificada uma vacina promissora, ela passará primeiro por testes laboratoriais e, posteriormente, o fabricante pode solicitar a realização de ensaios clínicos. Esses ensaios geralmente envolvem vários milhares de participantes voluntários saudáveis. A segurança dos testes é garantida pelas autoridades reguladoras nacionais.>
Além disso, os estudos continuam a ocorrer após a introdução de uma vacina no mercado. A chamada fase de farmacovigilância permite que os cientistas monitorem a eficácia e a segurança entre um número ainda maior de pessoas, por um período de tempo mais longo.>
As vacinas brasileiras aprovadas pela Anvisa têm os possíveis efeitos adversos descritos nas bulas. Os relatos são atualizados através de registros científicos e publicados no próprio site da agência.>
Nos documentos, é possível ter acesso a dados importantes que garantem a segurança das vacinas, como os resultados da eficácia do produto em diferentes grupos e descrição de possíveis eventos adversos. Nenhum dos imunizantes usados no país (Pfizer, Coronavac, Janssen e Astrazeneca) tem câncer, herpes-zóster ou outra doença respiratória citados como possíveis efeitos adversos da vacinação contra o coronavírus.>
Renato Kfouri, diretor da SBIm, afirma: “As vacinas tanto na segunda, terceira e quarta dose têm os mesmos perfis de segurança. São raríssimos eventos adversos graves. O número de casos evitados, no caso da covid, supera de longe os efeitos colaterais”.>
Desde dezembro de 2021, o Ministério da Saúde recomenda a aplicação da quarta dose da vacina contra covid para o grupo de imunossuprimidos. Em junho deste ano, a orientação foi ampliada para pessoas acima de 50 anos e profissionais de saúde, com intervalo mínimo de quatro meses a partir do primeiro reforço. A indicação, segundo documentos do órgão, considera dados clínicos que apontam a eficácia e a segurança da segunda dose de reforço do imunizante.>
Segundo o ministério, achados preliminares de estudos recentes feitos em Israel indicaram que, após a vacinação com a quarta dose, houve aumento de cinco vezes nos anticorpos após uma semana da aplicação. Outro fato que baseou a recomendação do ministério foi a aprovação dos órgãos de saúde dos Estados Unidos, incluindo o Food and Drug Administration (FDA) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), para indivíduos com 50 anos ou mais receberem a segunda dose de reforço.>
O Ministério da Saúde afirmou que, no momento da orientação, existiam poucos dados referentes “à magnitude e duração do benefício de uma quarta dose de reforço” e que “não há dados disponíveis no momento que permitem avaliar a ocorrência de eventos adversos raros para a segunda dose de reforço”. Entretanto, o órgão “reconhece que diferentes estratégias de vacinação por parte dos países devem ser utilizadas com base na situação epidemiológica e na disponibilidade de vacinas”. Além disso, o órgão mencionou o surgimento de novas variantes do coronavírus como outro motivo para a recomendação.>
Ao contrário do que atribui o autor do post, os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não existe nenhuma relação comprovada entre herpes-zóster e a vacina contra a covid-19. A Anvisa relatou não haver evidência científica que mostrasse isso e também não foram recebidas notificações sobre uma possível ocorrência.>
Anamélia Lorenzetti Bocca, coordenadora do Laboratório de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da UnB, conta que é normal existir análises sobre uma possível correlação entre uma vacina e a ocorrência de diversas doenças porque o número de pessoas vacinadas e os diferentes estados da resposta imunológica são muito amplos.>
Normalmente, são investigações de um caso específico de uma pessoa ou análises observacionais, que não garantem uma relação de causa e efeito. Entre estas análises estão trabalhos sobre a herpes-zóster, mas, até o momento, não existe nenhuma conclusão ligando a doença com a vacina contra a covid-19. “Não se pode ter como consenso resultados de relato de caso. O número de pessoas para se estabelecer uma correlação significativa deve ser bem grande”, afirma Bocca.>
Segundo Renato Kfouri, na verdade, há indícios mais fortes para uma relação entre herpes-zóster e a covid, do que com a vacina contra a doença. Uma pesquisa realizada por profissionais da Universidade Estadual de Montes Claros, em Minas Gerais, mostrou um crescimento de 35% desse tipo de herpes durante a pandemia. O documento não faz diferenciação entre vacinados e não-vacinados, mas os cientistas acreditam que o aumento é um forte indício de correlação entre a herpes e a infecção pelo coronavírus. Outros estudos internacionais também apontam para um risco aumentado de ocorrência de herpes-zóster em pessoas que tiveram contato com o coronavírus, e não com o imunizante que protege contra a doença (1, 2 e 3).>
A Anvisa informou que não há evidência nos estudos pré-clínicos (feitos com animais) e clínicos (feitos com pessoas) de que as vacinas contra covid-19 sejam capazes de induzir mutações genéticas ou desenvolvimento de câncer. Informações da Fiocruz também descartam a possível relação. O Comprova mostrou anteriormente que a vacina não está relacionada com câncer ou HIV.>
Os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não há relação entre a vacinação contra a covid e outras doenças respiratórias. “Até o momento não existe nenhuma relação entre aplicação das vacinas de covid, que estão circulando, com essas doenças. Aliás, às vezes, ocorre o contrário, porque as vacinas estimulam o sistema imunológico enquanto essas doenças ocorrem com depressão da resposta imunológica do paciente”, afirmou Bocca.>
O autor da publicação também sugere que os testes contra covid poderiam estar relacionados com o desenvolvimento de outras doenças, principalmente as respiratórias. Segundo Renato Kfouri, os diversos testes contra a covid são colhidos através de swabs nasais, uma espécie de cotonete longo, que têm contato com a região da nasofaringe, onde os vírus respiratórios normalmente se alojam.>
O imunologista afirma que é um procedimento inócuo, sem nenhum risco de contaminação de outras doenças: “São cotonetes estéreis e não trazem nenhum prejuízo para a saúde”.>
Leandro Guilherme Ladeia Almeida é graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Barbacena (Fame). Em site pessoal, afirma que é especializado em Endocrinologia pelo Instituto de Pesquisas e Ensino Médico (Ipemed) e pós-graduado em Medicina Ortomolecular, Bioquímica e Fisiologia do Exercício. Também afirma ser especialista em metabologia, nutrigenética, fertilidade, desempenho humano, bioquímica e fisiologia.>
No portal do Conselho Federal de Medicina (CFM), ele aparece como médico sem especialidade registrada. Possui situação regular e inscrição em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o médico.>
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais.>
A postagem aqui verificada mente ao dizer que não há segurança nas vacinas contra a covid-19 e que os imunizantes são causadores de doenças graves. Conteúdos como esse propagam deliberadamente falsidades e colocam em risco a segurança sanitária do país.>
Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que vacinas contra covid-19 não provocam câncer, diferentemente do que afirma médico dos EUA; que vacina da covid não fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças e que imunizante contra o coronavírus é seguro e não gera HIV, câncer ou HPV.>
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