Publicado em 3 de outubro de 2019 às 08:42
AGÊNCIA FOLHAPRESS - O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, usou parte de sua fala na sessão desta quarta-feira (2) para reagir a críticas de que a corte tem atuado em sentido contrário ao do combate à corrupção. >
Na tarde desta quarta, o Supremo impôs uma derrota para a Lava Jato ao terminar de referendar uma tese que abre precedente para anular sentenças e beneficiar condenados -como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).>
Antes de começar seu voto, Toffoli se exaltou e, elevando o tom da voz, disse que o Supremo enfrenta, sim, a corrupção. O ministro classificou como "falácia" e "desonestidade intelectual" o discurso de que a corte estaria abrindo brechas para a impunidade. >
"Esta corte defende o combate à corrupção, mantém as decisões tomadas feitas dentro dos princípios constitucionais e dos parâmetros do Estado de direito, mas repudia os abusos e os excessos e tentativas de criação de instituições e poderes paralelos. Se não fosse este Supremo Tribunal Federal, não haveria combate à corrupção no Brasil", afirmou.>
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O presidente do STF também disse que "todas as leis que aprimoraram a punição à lavagem de dinheiro, as leis que permitiram a colaboração premiada, as leis de transparência foram previstas" graças a pactos firmados pelo Judiciário com os Poderes Legislativo e Executivo. >
Embora não tenha mencionado especificamente a Lava Jato, a fala de Toffoli foi direcionada ao comando da força-tarefa de Curitiba e ao ex-juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PSL).>
Em entrevistas recentes, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirmou que a tese aprovada no Supremo representa um "tremendo retrocesso" ao combate à corrupção.>
O julgamento desta quarta marca o início da sequência de recados duros que o Supremo pretende dar à operação. >
A pauta da corte deve ter outros julgamentos que, em suma, podem tornar sem efeito decisões do ex-juiz e da força-tarefa coordenada por Deltan.>
Desde que vieram à tona mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil e por outros órgãos de imprensa uma ala do STF tem se posicionado de maneira enfática contra os chamados métodos da Lava Jato. >
Esse grupo diz que o material divulgado até agora coloca em xeque a atuação dos procuradores do então juiz Sergio Moro e que o Supremo precisa se posicionar.>
Em recente entrevista ao jornal Folha de S.Paulo e ao UOL, por exemplo, Gilmar Mendes afirmou que a corte não pode se curvar à popularidade do hoje ministro da Justiça para tomar suas decisões.>
"Se um tribunal passar a considerar esse fator, ele que tem que fechar", disse o magistrado.>
Nesta quarta, o ministro citou as mensagens de Telegram divulgadas pelo Intercept e lançou ataques diretos a Deltan e Moro, antecipando o que poderá vir no julgamento sobre a suspeição do hoje ministro da Justiça na Segunda Turma.>
"Usava-se [na Lava Jato] prisão provisória como forma de tortura. E quem defende tortura não pode ter assento na corte constitucional", disse o ministro referindo-se ao ex-juiz. "O Brasil viveu uma era de trevas no processo penal.">
Crítico ferrenho da Lava Jato, o ministro afirmou que os diálogos mostram que havia "quadro de esquizofrenia" jurídica movido por "interesse midiático" de Moro. >
"Não parece haver dúvida de que o juiz Moro era o verdadeiro chefe da Força Tarefa de Curitiba. Quem acha que isso é normal certamente não está lendo a Constituição e o Código de Processo Penal", disse o ministro.>
O magistrado voltou a dizer que não se combate crime cometendo outros crimes e afirmou que "cada um terá seu tamanho na história". "Calcem as sandálias da humildade.">
Gilmar ainda fez questão de ler textualmente trechos das mensagens do Intercept em que os procuradores falaram de ministros da corte, como "In Fux We Trust" e "Aha, uhu. O Fachin é nosso!". >
A referência ao ministro do STF Luiz Fux esteve em um dos diálogos divulgados, de abril de 2016, no qual Deltan escreve ao grupo de procuradores.>
"Caros, conversei com o Fux mais uma vez, hoje. Reservado, é claro: O Min Fux disse quase espontaneamente que Teori [Zavascki] fez queda de braço com Moro e viu que se queimou, e que o tom da resposta do Moro depois foi ótimo", disse.>
E continua: "Disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me pra ir à casa dele rs. Mas os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos como instituições. Em especial no novo governo".>
As declarações foram após a aprovação na Câmara da abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Michel Temer assumiu interinamente em maio daquele ano.>
Em seguida, de acordo com as mensagens obtidas pelo Intercept, Deltan encaminha o relato também para Moro, que leu a mensagem e disse: "Excelente. In Fux we trust" ('em Fux nós confiamos').>
A referência a Fachin aparece em outra mensagem de Deltan.>
Em julho de 2015, o chefe da força-tarefa disse que deixou uma reunião com o ministro do STF e comentou o resultado da conversa com os demais procuradores, por meio do aplicativo Telegram.>
"Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso.">
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