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Sepultamentos cresceram 47% em cemitério de São Paulo entre março e abril

Sepultamentos cresceram 47% em cemitério de São Paulo entre março e abril

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, um homem se passa por um funcionário do governo e diz que o número de sepultamos no cemitério Vila Formosa está normal

Publicado em 18 de maio de 2020 às 15:17

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Homem que aparece em vídeo não é funcionário do governo e gravou as imagens em um dia em que não havia sepultamos no cemitério de Vila Formosa
Homem que aparece em vídeo não é funcionário do governo e gravou as imagens em um dia em que não havia sepultamos no cemitério de Vila Formosa. (Reprodução/Projeto Comprova)

Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, um homem que se apresenta como funcionário do governo diz que o cemitério da Vila Formosa tem covas abertas, mas não está realizando mais sepultamentos do que antes da pandemia do novo coronavírus. O Comprova apurou que o vídeo foi realmente gravado no Complexo Cemiterial Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, mas traz informações erradas.

As informações foram checadas pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 24 veículos de imprensa do Brasil para combater desinformações, dessa vez, com foco no coronavírus. Participaram das etapas de checagem e de avaliação da verificação jornalistas de A Gazeta, Poder 360, Estadão, SBT, Uol e Band News FM.

O complexo é dividido em dois cemitérios – Vila Formosa I e Vila Formosa II – e as duas unidades alternam os dias de enterros. Assim, enquanto em uma unidade estão sendo feitos os sepultamentos, na outra são realizados somente os serviços de limpeza e de exumação de corpos. O vídeo foi gravado no cemitério da Vila Formosa l em um dia em que os sepultamentos estavam sendo feitos na segunda unidade.

Além disso, o homem que aparece dando informações não é funcionário do Serviço Funerário, que é de responsabilidade da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Ao contrário do que afirma o narrador do vídeo, houve 47% de aumento no número de pessoas enterradas de março a abril deste ano. Ou seja, depois que o país começou a lutar contra a pandemia de covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

POR QUE CHECAMOS ISTO?

No monitoramento que faz de mensagens suspeitas que circulam em redes sociais e aplicativos de mensagens sobre o novo coronavírus e a covid-19, o Comprova vem observando um crescimento na circulação de boatos sobre números de mortes causadas pela doença, falseamento de atestados de óbitos e conteúdos falsos sobre caixões e sepultamentos.

Tais boatos tentam minimizar os efeitos da pandemia e podem fazer com que as pessoas que neles creem relaxem os cuidados com a higiene pessoal e o distanciamento social, ações de contenção do espalhamento do vírus recomendadas pelas autoridades de saúde.

O cemitério de Vila Formosa se transformou em um dos principais alvos desses boatos depois que a prefeitura da capital paulista anunciou a abertura de 8 mil novas valas.

COMO VERIFICAMOS?

Procuramos pela publicação original usando a plataforma de monitoramento de conteúdo Crowdtangle e chegamos a um perfil pessoal no Facebook. Entramos em contato com o usuário em um número de telefone disponível em seu feed de notícias. Perguntamos sobre a autoria do vídeo e ele negou. Informou que recebeu o vídeo em um grupo de WhatsApp e o publicou no Facebook.

Entramos em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal das Subprefeituras da Cidade de São Paulo (SMSUB), responsável pelo Serviço Funerário Municipal. Também consultamos o Plano de Contingenciamento Funerário para confirmar as informações prestadas.

VERIFICAÇÃO

O vídeo que circula pelas redes sociais mostra um homem vestido com o que parece um uniforme falando com outro, que está dentro de um carro e que grava a conversa. Não é possível ler as informações do crachá, mas o homem que grava a cena o identifica como “funcionário do governo” e diz que ele trabalha no cemitério, onde não estariam ocorrendo mais enterros que o normal.

Na conversa, o autor do vídeo pergunta qual a média de enterros por dia. O homem responde: “Até agora não vi nenhum (…) As covas estão abertas, mas não tem ninguém morrendo nem enterrando ninguém. É uma jogada política. O que morre de gente é o dia-a dia normal e as covas estão todas abertas sem ninguém. Todas abertas para deixar o pessoal em pânico”, disse na conversa.

A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal das Subprefeituras da Cidade de São Paulo (SMSUB), da Prefeitura de São Paulo, nega a falta de enterros. O órgão, responsável pelo Serviço Funerário Municipal, explicou ao Comprova que o Complexo Cemiterial Vila Formosa é o maior da América Latina e é dividido em Vila Formosa I e Vila Formosa II.

De acordo com a Secretaria, o vídeo foi gravado no cemitério da Vila Formosa l, em frente à área onde ocorrem os velórios.

Ainda segundo a assessoria, os sepultamentos são feitos em dias alternados em Vila Formosa I e II. Isto quer dizer que todo dia um dos cemitérios fica sem sepultamentos para que sejam realizados os serviços de limpeza e de exumação de corpos.

Além disso, afirmou que houve aumento de enterros. Em março deste ano foram registrados 1.131 e em abril foram 1.668 — crescimento de 47%. Pensando na maior demanda de sepultamentos durante a pandemia da Covid-19, a prefeitura elaborou um Plano de Contingenciamento Funerário para garantir o funcionamento adequado do Serviço Funerário Municipal.

Entre as medidas do Plano, anunciadas em 23 de abril, estavam a abertura de 8 mil valas no cemitério da Vila Formosa, 3 mil no São Luiz e 2 mil no Vila Nova Cachoeirinha. São essas valas anunciadas no cemitério que aparecem abertas no vídeo.

CONTEXTO

O vídeo foi publicado em um momento em que há divergência de opiniões sobre o isolamento social. O presidente da República, Jair Bolsonaro, defende a retomada das atividades econômicas, assim como muitos dos seus apoiadores. Essa visão contraria as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, que recomendam políticas de distanciamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus e, consequentemente, o aumento do número de casos da covid-19.

Os governos estaduais mantêm o isolamento em seus Estados. De acordo com a Constituição Federal, em casos de saúde pública, como a pandemia de covid-19, não há hierarquia entre os entes da federação. Ou seja, um decreto federal não vale mais que um estadual. Cabe ao Poder Judiciário decidir qual política pública obedece melhor às leis.

Contestar os números oficiais de óbitos é uma das táticas utilizadas por disseminadores de desinformação para causar indignação na população. Uma corrente falsa de whatsapp utilizou dados falsos de óbitos por covid-19 para erroneamente dizer que teriam morrido menos pessoas no começo de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019.

Já no Amazonas, onde foi preciso adotar os sepultamentos coletivos para atender à demanda de enterros, o governo foi acusado de enterrar caixões vazios para causar pânico na população. No mesmo estado, um boato nas redes sociais dizia que o número de mortes teria caído depois de uma visita do ministro da Saúde Nelson Teich.

ALCANCE

O vídeo ganhou grande repercussão com a sua postagem numa conta pessoal no Facebook. A publicação, do dia 2 de maio, já passa de 62 mil compartilhamentos e teve aproximadamente 620 mil visualizações até o dia 12 de maio.

O conteúdo foi republicado por páginas como “Metralhando a Corrupção” e “Nas Ruas”.

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