Publicado em 26 de novembro de 2020 às 17:25
Com uma alta na taxa de transmissão do coronavírus e nas internações no estado de São Paulo, o centro de contingência vai propor ao governo João Doria (PSDB) que volte a endurecer as medidas de isolamento social. >
A Folha apurou que parte do grupo defende que todo o estado volte ao estágio amarelo, que permite a abertura de estabelecimentos mas limita o horário. A proposta será apresentada a Doria nesta quinta (26).>
"Infelizmente está acontecendo em todo o Brasil", disse Doria, sobre o novo crescimento de infecções em entrevista à Bloomberg por vídeo na quarta-feira. "Temos que reconhecer que as pessoas estão cansadas, exaustas de isolamento, distanciamento, de usar máscaras.">
"O plano São Paulo avalia regiões para evolução da infecção ou sua involução, a evolução ou involução de óbitos e também o número de leitos de UTI e primários. Isso permite uma avaliação diária", disse Doria. "Se tivermos em São Paulo que regredir para garantir a vida e a saúde das pessoas, nós o faremos.">
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O volume de pessoas internadas com Covid em UTIs no estado cresceu 22%, comparando esta quarta (25) com duas semanas atrás, segundo dados da Secretaria de Saúde de São Paulo.>
O aumento foi ainda mais forte se considerada apenas a Grande São Paulo (30%). São 2.400 pessoas internadas em UTIs nessa região (o dado do governo considera média dos últimos sete dias).>
A pasta informou que o problema na base do Ministério da Saúde no começo do mês, quando dados de novos casos e mortes não foram inseridos, não prejudicou a informação sobre internações.>
Hoje, 76% dos municípios paulistas, inclusive a capital, estão na fase verde do Plano SP, que prevê reabertura controlada de quase todas as atividades, inclusive cinemas e teatros.>
Em 16 das 22 subregiões do estado, o índice de contágio (RT), que aponta quantas pessoas serão contaminadas por um infectado e ajuda a estimar a velocidade de transmissão da doença, está acima de 1. O número deve estar sempre abaixo 1 para que a tendência de queda de casos se mantenha.>
Nas regiões paulistas de Registro e Presidente Prudente, o RT está em 2,1 e 2,04, respectivamente. Na capital, em 1,55.>
Os dados são do projeto InfoTracker, da USP e da Unesp, que monitora a pandemia no estado desde seu início. A plataforma fez um ajuste dos dias que ficaram sem atualização pelo Ministério da Saúde para mitigar o problema da notificação tardia.>
Segundo o epidemiologista Paulo Menezes, professor do departamento de saúde preventiva da USP e que integra o centro de contingência, a situação é muito preocupante e se agravou na última semana.>
"Houve um aumento importante da transmissão do vírus e isso agora reflete no número de casos e de internações. Óbitos levam mais tempo para aparecer.">
Para Menezes, apesar de o estado estar com taxas de ocupação de UTI inferiores a 50%, é fundamental que se interrompa a transmissão do vírus nesse momento.>
"A sociedade, especialmente os adultos jovens, entendeu que o [estágio] verde é sinal verde para poder fazer o que quiser, ir a bares, baladas, festas familiares. E o reflexo foi rápido", diz Menezes.>
Na capital, das 811 pessoas internadas em hospitais municipais e contratados pela prefeitura até terça (24), 451 estavam em terapia intensiva -240, em ventilação mecânica. A taxa de ocupação de UTIs está em 47%.>
"O aumento de casos começa a 'dar as caras' também no interior paulista. A impressão é que estão se espalhando da capital e Grande SP para o resto do estado", afirma Wallace Casaca, professor da Unesp e coordenador do InfoTracker.>
Segundo Casaca, esse aumento do contágio pode ser reflexo da combinação de três fatores: uma flexibilização "muito rápida" dos planos de retomada econômica, o não cumprimento das medidas básicas sanitárias por parte da população, e o período eleitoral, que acabou levando a aglomerações.>
Menezes também aposta no relaxamento da população em relação à quarentena e às campanhas eleitorais, especialmente para vereadores. "Envolveram muito contato direto, muitas pessoas aglomeradas.">
No Brasil, todas as regiões estão com taxas de contágio do coronavírus acima de 1. No país como um todo, o RT está em 1,54 e já apresenta aumento em relação à taxa de 1,30 projetada pelo Imperial College de Londres, que levou em conta dados epidemiológicos até o dia 16.>
A falta de testagem massiva, em especial para tentar identificar os casos suspeitos, também é vista como outro fator importante para o aumento de casos.>
"Se eu não testo, incluindo não testar os casos mais leves, não consigo determinar os focos da doença. E essas pessoas transmitem para outras", diz Casaca.>
Segundo ele, muitas prefeituras têm optado em não testar os casos mais leves, preferindo só orientar essas pessoas a se manter em quarentena.>
Para Suzana Lobo, presidente da Amib?(Associação de Medicina Intensiva Brasileira), o aumento de casos e internações também causa outra preocupação: o esgotamento dos profissionais de saúde.>
"Está todo mundo querendo sair de férias. O pessoal não descansou e tudo começa a voltar de novo. Na primeira onda, estava todo mundo pronto para a guerra. Agora, está todo mundo meio combalido, não sabemos de onde vamos tirar forças, mas vamos ter que tirar.">
Em nota, o CVE?(Centro de Vigilância Epidemiológica) do governo paulista diz que desconhece o denominador e a metodologia utilizados pelo Infotracker para cálculo de RT e, portanto, não comentaria o dado.>
O CVE argumenta que a RT não é um indicador epidemiológico capaz de refletir isoladamente a circulação do coronavírus, nem o impacto efetivo da pandemia no estado, uma vez que o monitoramento e análise devem ser multifatoriais.>
"Isso é feito no estado por meio do Plano de São Paulo, com sete indicadores diferentes, combinados de forma coerente para análise da capacidade de resposta do sistema de saúde e a evolução da pandemia e, consequentemente, classificação conforme as fases do plano.">
Lembra que o próprio governo de São Paulo já noticiou, com total transparência, o aumento de internações de Covid-19, e segue monitorando a rede de saúde para tomada de decisão com base na ciência e na saúde.>
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