Publicado em 12 de agosto de 2020 às 18:57
Um decreto publicado nesta quarta-feira (12) pelo governo federal aprova uma nova estrutura regimental para o Ministério do Meio Ambiente, com a criação das secretarias da Amazônia, de áreas protegidas e de clima e relações internacionais. >
A então secretaria de mudança do clima havia sido extinta na primeira semana do governo Bolsonaro. Na época, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, havia dito que a secretaria servia apenas para turismo de servidores em conferências internacionais.>
Questionado sobre o que mudou no seu entendimento para a recriação da secretaria, com o acréscimo do termo "clima" no título da já existente secretaria de relações internacionais, Salles respondeu à reportagem que tentará "dar maior tangibilidade às ações e, ao mesmo tempo, tentar monetizar ativos".>
"É ilusório achar que colocar 'clima' no nome de uma Secretaria de Relações Internacionais ou alguém na Amazônia vai atrair o mercado. Nesse caso, ativos são a efetiva redução de emissões de carbono e proteção de natureza, que não estão ocorrendo", avalia Natalie Unterstell, coordenadora do projeto Política por Inteiro no Instituto Talanoa.>
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Uma nota da Ascema, a associação nacional de servidores de meio ambiente, afirmou: "O argumento sobre a falta de recursos se contradiz com o que vem acontecendo na realidade dentro do MMA, com a interrupção da implementação do Fundo Clima, de mais de 2 bilhões do Fundo Amazônia, e de projetos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) que já poderiam estar direcionando mais de 50 milhões de dólares às áreas protegidas".>
Com a reestruturação, a Secretaria de Ecoturismo passa a ser denominada Secretaria de Áreas Protegidas, para gestão das unidades de conservação e turismo sustentável, incluindo um novo departamento sobre concessões.>
Os objetivos da nova secretaria são similares aos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão do MMA responsável pela gestão das unidades de conservação.>
"Retirar as atribuições desse órgão e passá-las para uma secretaria específica do MMA significa uma concentração de poder e um futuro de incertezas", afirma nota da Ascema.>
Para Salles, a nova secretaria vai apenas "apoiar e complementar" o trabalho do ICMBio.>
Já sobre a criação da Secretaria da Amazônia, o ministro respondeu que ela vai "fazer a ponte entre órgãos estaduais, federais e o Conselho [da Amazônia]". Desde o início do ano, o Conselho da Amazônia, comandado pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, tem assumido as políticas de controle do desmatamento, monitoramento e fiscalização da Amazônia.>
O decreto também remaneja cargos comissionados entre o Ministério da Economia e o Meio Ambiente, que cedeu 77 cargos e recebeu outros 66, incluindo um posto que pode ser ocupado por um secretário.>
Segunda nota do MMA, "as mudanças entram em vigor em 21 de setembro para a devida transição entre as áreas".>
Também nesta quarta-feira o Diário Oficial traz uma nomeação para um cargo extinto pelo decreto. A portaria 356/2020 nomeou Guilherme Belli para cargo em comissão de diretor do departamento de meio ambiente e América Latina, da Secretaria de Relações Internacionais. O departamento, porém, não consta no novo regimento publicado nesta quarta.>
Outra mudança do decreto que vai na direção contrário de decisões publicadas no mesmo dia pelo governo federal é a extinção da Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), que desaparece da estrutura do ministério no novo regimento. A comissão era responsável por implementar a agenda da Convenção de Diversidade Biológica da ONU, cujo Protocolo de Nagoia foi ratificado também nesta quarta pelo Congresso Nacional, confirmando o compromisso brasileiro com a regulação do acesso a recursos genéticos e a conservação da biodiversidade.>
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