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Salles e Mourão usam vídeo da Mata Atlântica para negar queimada na Amazônia

Salles e Mourão usam vídeo da Mata Atlântica para negar queimada na Amazônia

As postagens foram feitas após o governo receber uma avalanche de críticas na política de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 18:56

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Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão
Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão. (Isac Nobrega/PR)

ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o vice-presidente Hamilton Mourão compartilharam vídeo com gafe para defender que a floresta amazônica está sendo preservada. As postagens foram feitas após o governo receber uma avalanche de críticas na política de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia.

Com o título "A Amazônia não está queimando", o vídeo compartilhado por Salles e Mourão chama a atenção por exibir, logo no início, a imagem de um mico-leão-dourado, espécie endêmica da Mata Atlântica do Rio de Janeiro e que não sobrevive na floresta amazônica.

"É um bicho sensível a qualquer pertubação e já é ameaçado onde vive. Mesmo que fosse introduzido (na floresta amazônica). o mico-leão-dourado não resistiria, como acontece com outras espécies", diz Clemente Coelho Junior, biólogo da Universidade de Pernambuco. "Então o vídeo já começa com esse absurdo."

O material compartilhado por Salles e Mourão indica que as queimadas na Amazônia são culturais e de pequenas proporções. Em inglês, a voz de uma criança informa que, em sua maioria, são as comunidades tradicionais indígenas e os pequenos produtores os responsáveis por utilizar esse recurso como forma de limpeza para produzir seus alimentos.

Afirma também que o Brasil é o país que mais preserva suas florestas nativas do mundo, e que a produção de alimentos no país é responsável e sustentável.

"De que lado você está? De quem preserva a verdade ou de quem manipula seus sentimentos?", diz a voz da criança em trecho do vídeo, que traz imagens aéreas da floresta sem focos de incêndio e sem trechos desmatados. O vídeo tem a assinatura da Acripará (Associação dos Criadores do Estado do Pará).

Os argumentos da produção, porém, são confrontados por instituições científicas e imagens de satélites. Segundo análise da Nasa (agência espacial dos EUA), ao contrário do que já disseram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Mourão, que ainda é chefe do Conselho da Amazônia, a maior parte dos incêndios na parte brasileira da floresta desde junho ocorreu em áreas que foram recentemente desmatadas.

Em artigo publicado em agosto, Mourão não citou o desmatamento como motivo para o fogo na floresta. Ao contrário, disse que os incêndios são naturais na Amazônia.

Também sob o governo Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia cresceu 34% de agosto de 2019 a julho de 2020 em comparação com o mesmo período anterior, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Mesmo com o Exército atuando na região, a Amazônia teve o segundo pior agosto de queimadas dos últimos dez anos.

Diante dos dados negativos, o ator Leonardo DiCaprio usou na quarta-feira (9) as expressões #DefundBolsonaro (desfinancie Bolsonaro), #AmazonOrBolsonaro (Amazônia ou Bolsonaro) e #WhichSideAreYouOn (de que lado você está) para criticar a atuação do governo brasileiro na preservação do meio ambiente.

O ator endossou campanha iniciada por ativistas brasileiros com foco no público internacional. Um vídeo em inglês produzido pelos ativistas mostra cidades e produtos da Europa com incêndios, fazendo, assim, uma relação direta das queimadas na Amazônia com o consumo europeu.

As respostas de Salles e Mourão provocaram a indignação de internautas nas redes. A imagem do mico-leão-dourado no vídeo é uma das gafes mais apontadas pelos usuários.

Nesta quinta (10), Salles convidou DiCaprio a investir em um dos 132 parques da Amazônia. A iniciativa faz parte do projeto do governo "Adote 1 parque", que tem o objetivo de atrair empresas privadas a assumir unidades de conservação na Amazônia.

Além da Amazônia, outro ambiente no Brasil está sofrendo com o fogo em 2020. Mais de 10% da cobertura vegetal do Pantanal já foi perdida neste que é considerado o maior incêndio de sua história.

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