Publicado em 15 de setembro de 2020 às 10:53
Ela faria 90 anos no próximo dia 19. A antropóloga Ruth Corrêa Leite Cardoso morreu em 24 de junho de 2008, aos 77 anos, deixando como legado principal a criação do chamado terceiro setor, uma prática política por meio da sociedade civil. Organizada em ONGs, a ação se somou às medidas de governo e das empresas na busca pela melhoria das condições de vida para a população. >
Para marcar a data, a Fundação FHC programou três eventos ao longo do mês de setembro: um webinário (seminário transmitido pela internet), nesta terça-feira, 15, uma entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no dia 22, e uma exposição virtual. >
"Quando fui presidente, Ruth cooperava, mas com independência crítica. Jamais foi apenas 'primeira-dama', aliás não gostava de ser assim qualificada", disse Fernando Henrique, hoje com 89 anos. "Ela criou o Comunidade Solidária e se dedicou não ao 'assistencialismo': queria que as pessoas exercessem seus papéis na sociedade com autonomia e reivindicando seus direitos.">
A obra de Ruth Cardoso no terceiro setor - o Comunidade Solidária é o programa mais conhecido - será abordada no webinário, realizado a partir das 17h30 com transmissão pela plataforma Zoom e pelo Facebook. Participam o economista Ricardo Paes de Barros, do Insper, e o sociólogo e escritor Augusto de Franco, com mediação de Simone Coelho, do Ideca.>
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Em documento da própria Ruth, destacado no acervo da Fundação FHC, a cientista social aponta a relevância do trabalho do Comunidade Solidária já na primeira linha. "O Comunidade Solidária é um exemplo novo de parceria entre Estado e sociedade para combater as desigualdades sociais", escreveu Ruth Cardoso no texto que convida a "ver que, através das experiências das ONGs, vem sendo criada uma nova perspectiva na vida de todos esses jovens".>
"Com o Comunidade Solidária, ela transformou em um projeto real essa ideia que possuía sobre a interação entre movimentos sociais e o governo. E, ao mesmo tempo, ela redefiniu o papel de primeira-dama", disse a professora aposentada da USP e pesquisadora do Cebrap, Maria Hermínia Tavares, que foi aluna e amiga de Ruth. "Ela trouxe para perto do governo uma experiência de coisas que tinha estudado e para as quais tinha grande sensibilidade.">
Para o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, a contribuição de Ruth foi responsável por abrir caminho para uma atuação mais eficaz do País nas ciências sociais. "A gente melhorou muito a capacidade de fazer política social graças àqueles anos", disse. Com foco na pesquisa sobre políticas públicas, uma Cátedra da instituição homenageia a antropóloga desde 2018. "O País tem uma dívida imensa com dona Ruth", afirmou Lisboa.>
Sua trajetória é descrita como "brilhante" pelo cientista político e professor da USP José Álvaro Moisés, que foi aluno e amigo de Ruth. "Uma intelectual muito séria, muito competente, mas ao mesmo tempo uma pessoa leve no contato com seus alunos, com extremo cuidado." >
Foi na USP também que ela conheceu Fernando Henrique - com quem se casou, em 1953. "Conheci Ruth quando fazíamos o exame para entrar nas Ciências Sociais da USP. Ela entrou em primeiro lugar, eu no segundo. Ela se especializou em Antropologia, fez doutoramento na USP e foi uma professora dedicada", lembra FHC. >
No dia 22 de setembro, FHC falará sobre a vida e a obra da antropóloga e educadora em entrevista ao escritor Antonio Prata que será transmitida pela internet às 17h30. Ainda em setembro, vai ao ar no site da fundação a exposição virtual sobre a professora universitária e pesquisadora, que publicou livros e artigos sobre sociedade, cultura e política. "Deixou saudades e bons exemplos", disse FHC.>
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