Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 08:33
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para apurar o caso do homem flagrado com uma braçadeira vermelha com uma suástica ao centro -- ao estilo daquelas usadas por oficiais da Alemanha nazista -- na cidade de Unaí (MG), a 600 km de Belo Horizonte.>
O homem foi fotografado em um bar, no sábado (14), à noite, vestindo o adereço no braço. O inquérito foi aberto pela repercussão nas redes sociais. A Polícia Militar foi acionada por frequentadores do local e enviou viaturas, mas, segundo testemunhas, não o abordou. >
Em nota, a PM diz que os policiais que estiveram no local não entenderam que o caso se encaixaria no primeiro parágrafo do artigo 20 da lei de racismo (7.716/1989), que prevê reclusão de um a três anos e multa. >
O texto lista entre os casos passíveis de punição: "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo".>
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Para os PMs, o uso da braçadeira em local público não se enquadrava nem nos casos citados na lei. A nota diz que o homem foi orientado a tirar a faixa, "para evitar problemas de segurança que poderiam advir em razão da indignação de outras pessoas presentes".>
Os policiais registraram um boletim de ocorrência interno, que é encaminhado pelo Comando da Unidade. Um procedimento administrativo foi instaurado para apurar se a atuação e o protocolo adotado foram adequados.>
A Polícia Militar diz que o homem foi abordado por policiais, mas depoimentos de pessoas que estavam no local afirmam que os agentes conversaram apenas com o gerente do bar. E que foi ele quem pediu que o homem tirasse a braçadeira.>
Uma nota divulgada pelo bar, no domingo (15), diz que o ocorrido foi "resolvido da melhor maneira possível, por agentes policiais (sem violência) e sob a égide da lei". >
Um vídeo de cinco minutos mostra policiais falando com um homem de camisa preta, que seria o gerente, enquanto o homem com a braçadeira permanece sentado. A polícia vai embora e o homem que trabalha no bar se dirige ao outro, que aponta duas vezes para o braço enquanto conversa, mas fica no local. >
Uma pessoa, que pediu para não ser identificada, conta que a PM foi acionada por volta das 19h30 e o homem deixou o local às 21h50. Ele só tirou a faixa três minutos antes de sair.>
O advogado Danilo Caetano foi chamado por conhecidos, depois que as fotos começaram a circular. Quando chegou ao bar, as viaturas não estavam mais lá, mas o homem permanecia no local, com o adereço nazista.>
"A situação é preocupante, porque todo mundo sabe o que foi o nazismo, o terror que aquele símbolo representa, e alguém ostentar aquilo no meio das pessoas assim, sem providência alguma ser tomada, nos deixa com sensação de impotência", diz. >
O regime nazista, que vigorou na Alemanha entre 1933 e 1945 sob liderança de Adolf Hitler (1889-1945), foi responsável por milhões de mortes de judeus e pessoas de outros grupos como ciganos, eslavos, comunistas, socialistas e LGBTs, em nome da supremacia da raça ariana.>
O gerente do bar disse à reportagem que prestou depoimento à Polícia Civil e não estava autorizado a dar declarações sobre o caso. A proprietária do estabelecimento não retornou o contato.>
A reportagem também não conseguiu localizar o homem, que não teve o nome confirmado pela polícia para não atrapalhar as investigações. >
Valdemiro da Silva, alfaiate na cidade, conta que foi procurado por ele ainda no sábado, pedindo que fizesse uma braçadeira. Quando viu o símbolo, o alfaiate rejeitou o trabalho.>
"Ele tentou me convencer que aquilo não era o símbolo nazista. Pelo entendimento que eu tenho, que o mundo inteiro tem, aquilo é o símbolo nazista", conta.>
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