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PF diz que produtos de empresa de Renato Cariani abasteciam rede do PCC

PF diz que produtos de empresa de Renato Cariani abasteciam rede do PCC

Nas redes sociais, influenciador fitness negou irregularidades; outro suspeito teria forjado email em nome de farmacêutica

Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 05:45

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O suposto esquema de desvio de produtos químicos ligado a Renato Cariani, 47, influenciador com mais de sete milhões de seguidores nas redes sociais, abastecia uma rede criminosa de tráfico de drogas internacional comandada por criminosos do PCC, segundo a Polícia Federal.

O principal elo entre Cariani e a facção seria, segundo a investigação, Fábio Spinola Mota, apontado como membro PCC e preso no início deste ano em outra operação da PF, a Operação Downfall, que investigou esquema de "tráfico internacional e interestadual de drogas, com diversas ramificações no país".

Influenciador fitness Renato Cariani é alvo da Polícia Federal
Influenciador fitness Renato Cariani é alvo da Polícia Federal . (Divulgação)

Durante essa outra investigação, a cargo do núcleo da PF do Paraná, em abril, foram realizadas prisões, apreensão de cerca de 5,2 toneladas de cocaína e bloqueio de bens estimados em R$ 1 bilhão.

Mota, que ficou preso até o mês passado, foi um dos alvos da operação da PF de São Paulo, a Hinsberg -além do próprio Cariani e de Roseli Dorth, a sócia do influenciador em uma empresa para venda de produtos químicos, a Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda., em Diadema.

A polícia chegou a pedir a prisão deles, o que foi negado pela Justiça. Na casa de Mota, os policiais encontraram R$ 100 mil em espécie. A reportagem da Folha de S.Paulo não conseguiu contato com a defesa do suspeito até a publicação.

A hipótese da polícia é que parte do material adquirido legalmente pela Anidrol, compra rigidamente controlada pela PF, era desviada para a produção de cocaína e crack. Para justificar a saída dos produtos, eram emitidas notas fiscais falsas e depósitos em nome de laranjas, usando indevidamente o nome da multinacional AstraZeneca.

De acordo com a investigação, foram desviadas cerca de 12 toneladas de produtos como acetona, éter etílico, ácido clorídrico, cloridrato de lidocaína, manitol e fenacetina, substâncias utilizadas para transformar a pasta base de cocaína em pó (cocaína) ou em pedras (crack).

"A gente não pegou a droga, porque essa informação só chegou para a gente em 2021. Então, os produtos já haviam sido desviados", disse à Folha, o delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, e responsável pela operação desencadeada nesta terça (12).

Ainda conforme o policial, as investigações tiveram início após a Receita Federal detectar depósito em dinheiro, no valor de R$ 212 mil, aparentemente feitos pela AstraZeneca. A empresa negou, porém, tal movimentação e também ligação com a empresa do influenciador. Deu-se, então, início as investigações.

Ao longo da apuração, Cariani apresentou troca de mensagens com um suposto funcionário do laboratório, Augusto Guerra. A análise telemática demonstrou, contudo, que teria sido Mota, amigo de Cariani, quem havia registrado um domínio na internet em nome da AstraZeneca, com extensão com.br, e criado um email em nome desse funcionário fantasma.

"Na nossa investigação, a gente identificou [Mota] como sendo o intermediário. Ele tem uma relação de amizade íntima com o sócio da empresa de produtos desviados. A gente o identifica como responsável pela elaboração dos documentos fraudulentos para que o produto, de fato, pudesse ser desviado", afirmou o delegado.

A estimativa da PF que o esquema de desvios de produtos possa ter rendido ao grupo valores superiores a R$ 6 milhões. Na operação do Paraná, Mota era suspeito de lavagem de dinheiro de integrantes do PCC.

A investigação tem o recorte tempo de 2016 a 2020. De acordo com a polícia, novas fases devem ser desencadeadas.

O influenciador e outros suspeitos devem ser denunciados sob acusação de tráfico equiparado e associação para fins de tráfico, bem como pelo crime de lavagem de dinheiro. As penas podem ultrapassar 35 anos de reclusão.

Influencer diz estar tranquilo

A Folha procurou o influenciador via ligações no celular, mensagens na rede social e ligações na empresa, mas ninguém respondeu aos contatos. Em pronunciamento nas redes sociais, disse ter sido surpreendido com a operação e que está tranquilo.

"Pela manhã fui surpreendido pelo cumprimento de mandado de busca e apreensão da polícia na minha casa, onde fui informado que não só a minha empresa, mas várias empresas estão sendo investigadas num processo que eu não sei. Os meus advogados agora vão dar entrada pedindo para ver o processo e aí sim eu vou entender o que consta nessa investigação", afirmou.

O influenciador disse, ainda, que a empresa tem mais de 40 anos e opera com todas as licenças necessárias.

Em outra publicação na tarde desta terça (12), Cariani afirmou ter sido acordado por volta das 6h pela Polícia Federal e que estava tranquilo.

"Mas, o importante é o seguinte, é que eu sei quem eu sou, a jornada que cumpro, sei muito bem disso. Quem tem empresa está fadado a esse tipo de situação. Estou tranquilo", afirmou, em trecho do vídeo.

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