> >
Papa diz que fogo na Amazônia foi ateado por interesses que destroem

Papa diz que fogo na Amazônia foi ateado por interesses que destroem

No sínodo, pontífice afirma também que igreja não pode ser só pastoral de manutenção

Publicado em 7 de outubro de 2019 às 07:34

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Papa Francisco - 23/02/2017. (Divulgação/Vaticano)

AGÊNCIA FOLHAPRESS - O fogo foi a palavra-chave da homilia feita pelo papa Francisco na missa de abertura do Sínodo da Amazônia, realizada neste domingo (6), no Vaticano.

Em sua fala, que demorou cerca de dez minutos, o papa mencionou o "fogo" 13 vezes, tanto para comentar a necessidade de "reacender" o dom de Deus recebido pelos bispos, em referência à ação pastoral da Igreja Católica, quanto para criticar as queimadas recentes na floresta.

"O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos", disse o papa, sem citar nenhum país.

Convocado há dois anos, o sínodo é uma reunião do papa com 185 bispos dos nove países da Amazônia (58 são brasileiros), além de outros especialistas e convidados. A assembleia acontece até 27 de outubro, sempre no Vaticano.

Na missa de aproximadamente uma hora e meia realizada na Basílica de São Pedro, lotada e transmitida ao vivo por um dos principais canais da TV aberta italiana, o papa se dirigiu aos bispos, sentados à sua frente.

"O dom que recebemos é um fogo. (...) O fogo não se alimenta sozinho, morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir. Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo 'sempre se fez assim', então o dom desaparece", afirmou.

Em sua homilia, o papa pediu que a igreja não se limite a uma "pastoral de manutenção" e que o sínodo tenha inspiração para "renovar os caminhos para a igreja" na região.

"A igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de manutenção para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo", disse, citando são Paulo.

A homilia é o momento durante a missa em que o sacerdote usa um trecho do Evangelho para fazer seus próprios comentários.

As palavras do papa resumem os eixos dos debates que ocorrerão nas próximas semanas entre os participantes do sínodo: como renovar as ações da igreja na Amazônia e como lidar com as questões ambientais e socioeconômicas que afetam a população.

Para aumentar a presença de religiosos no bioma, superar as grandes distâncias entre as comunidades e dificuldades de acesso e reduzir a perda de católicos para as igrejas evangélicas, serão discutidas as possibilidades de ordenar homens casados como sacerdotes, criar ministérios oficiais para as mulheres e incorporar costumes dos povos indígenas em rituais católicos.

Sobre os povos tradicionais da região, o papa criticou o colonialismo que, em vez de oferecer "o dom de Deus", o impôs. "Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. (...) Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização. Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos."

Ao final, o pontífice acenou aos brasileiros ao citar o cardeal d. Claudio Hummes, relator-geral deste sínodo, para fazer uma homenagem aos que "gastaram a sua vida na Amazônia".

"Repito as palavras do nosso amado cardeal Hummes: quando for àquelas pequenas cidades da Amazônia, vá aos cemitérios procurar o túmulos dos missionários. (...) Não se esqueça deles. Merecem ser canonizados".

A Amazônia está na mira do papa Francisco desde o início do seu pontificado. Depois de ser eleito em março de 2013, o papa participou em julho daquele ano da Jornada Mundial da Juventude, no Rio, e expressou ali o seu interesse em discutir a ação da igreja na região.

A prática do sínodo foi instituída pela igreja em 1965 e esta é a sua 16ª edição.

Desde que o papa argentino assumiu, foram realizadas duas assembleias ordinárias sobre temas gerais da igreja (família, em 2015, e jovens, em 2018) e uma extraordinária, para assuntos urgentes (evangelização, em 2014).

Já as assembleias especiais, como este sínodo, são pensadas para abordar temas de um lugar específico. Em 2010, foi o Oriente Médio; em 2009, a África. Sob Francisco, o bioma será a primeira região do mundo a receber atenção exclusiva.

Este vídeo pode te interessar

A apreensão da igreja na Amazônia inclui a perda de fiéis católicos na região e o crescimento das igrejas evangélicas, fenômeno evidenciado no Censo de 2010. Só no estado do Amazonas, o número de evangélicos era de 31%, ante 21% em 2000. Entre os que se declararam católicos, queda de 70,8% para 59,5%.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais